São catorze os artigos reunidos na obra “Brasil-Cabo Verde: Tópicos de Relações Culturais”, editada pela Embaixada do Brasil em Cabo Verde, assinados por outros tantos articulistas brasileiros e cabo-verdianos. Sendo em boa parte inéditos, os artigos versam sobre temáticas que vão da passagem do Padre António Vieira por Cabo Verde à história de Simão “Salvador” Juliano, o marinheiro cabo-verdiano que em 1853 salvou vidas num naufrágio no mar do Brasil. Ou ainda conexões entre Paulo Freire e Amílcar Cabral, a presença e influência brasileira na Claridade, as ligações no campo da música, entre outros.
A iniciativa e organização do livro cabem a Bruno Miranda Zétola e Mónica Rodrigues - ele brasileiro, diplomata, historiador, e até recentemente chefe do sector cultural da Embaixada do Brasil na Praia, e ela cabo-verdiana, professora de Língua Portuguesa no Centro Cultural Brasil-Cabo Verde.
Segundo João Marcelo Melo, secretário da Embaixada do Brasil, o lançamento desta obra tem um propósito mais amplo e que se prende com “a densidade, a diversidade e a riqueza da relação cultural entre Brasil e Cabo Verde”.
“São vários os pontos de contacto, vários os elementos que nos aproximam e, sem querer fazer uma catalogação exaustiva, essa obra vem não só para dar mais divulgação e fazer as pessoas conhecerem - para além daquilo que são os elementos mais óbvios - aquilo que nos une. E também para incentivar, olhando para frente, que isso também sirva de inspiração e possa impulsionar uma aproximação maior entre os dois países. Sobretudo naquilo que diz respeito às indústrias criativas, para que desperte colaborações artísticas e a produção cultural cabo-verdiana consiga chegar mais ao Brasil, e vice-versa”, defende o diplomata brasileiro.
Marcelo Neto chama a atenção para o painel amplo de temas, e a intersecção de artigos de viés histórico com outros de carácter mais artístico e também o destaque dado a alguns personagens que interligam os dois países.
“Ao longo da actuação da embaixada brasileira em Cabo Verde muito destes temas e destes momentos vieram à tona. De certa forma o livro é um desdobramento desta actividade cultural da Embaixada do Brasil”, refere, apontando que o livro culmina, em certo sentido, uma série de acções e iniciativas que envolviam esses personagens e momentos.
Outro aspecto ressaltado, tem em conta a bandeira original da CPLP que é de aproximação dos povos, não apenas dos governos.
“Nesse sentido acho que é uma pequena contribuição que damos para estreitar os laços e para que possamos nos conhecer mutuamente de forma mais profunda. Nunca vamos conseguir avançar juntos de forma significativa se não nos conhecermos”, analisa o nosso entrevistado para quem tal aproximação e colaboração são essenciais no processo de transformação dos espaços da CPLP num mercado cultural comum.
A obra, que teve uma tiragem de 400 exemplares, não será comercializada e sim a sua distribuição irá privilegiar bibliotecas e instituições de ensino e culturais cabo-verdianas, sendo que no Brasil, pela extensão geográfica do país, a aposta será na disponibilização em formato digital.
O lançamento de “Brasil – Cabo Verde: tópicos de relações culturais” faz-se inserido na programação cultural paralela à exposição itinerante “Museu da Língua Portuguesa” que vem sendo promovida pelo IILP desde 19 de Junho e chega ao seu término nesta sexta-feira, dia 27.
Durante mais de um mês a Casa Cor-de-Rosa (como é chamada a sede do IILP) recebeu dezenas de eventos, entre apresentações de obras literárias, concertos musicais, filmes, peças teatrais e conferências.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 869 de 25 de Julho de 2018.