Casa da Cultura, ponto de encontro

PorChissana Magalhães,11 ago 2018 15:21

​Edifício em destaque no centro do centro da cidade, o Palácio da Cultura Ildo Lobo (PCIL) tem sido para a classe artística e criadores um espaço de encontro com o público.

Numa segunda-feira ao cair da noite assiste-se às palestras de 5 minutos da iniciativa Ignite Talks, com casa cheia até ao tecto. Quase que literalmente, já que parte da assistência espreita da varanda do primeiro andar. Dias depois pode ter sido o show de stand up comedy “Parts Time” e a encerrar a semana um concerto musical. Simultaneamente, duas ou três mostras de artes plásticas e fotografias nas salas de exposição.

Para quem frequenta ou pelo menos tem acompanhado a programação do PCIL nos últimos anos, é inegável a grande dinâmica que o espaço recuperou, não faltando quem almeje ver reproduzido o formato em outros pontos do país. Só no primeiro semestre deste ano, foram 17 exposições, 26 workshops/palestras, 10 mostras de cinema, 10 espectáculos de teatro e stand up comedy, 22 concertos musicais e ainda 4 actividades voltadas para o público infantil (contos tradicionais). Isso, sem contar com o corrupio de actividades ali realizadas no âmbito da programação da Atlantic Music Expo e TEDx Praia.

Motivos mais do que suficientes para deixar satisfeitos o coordenador da programação do PCIL, o bailarino e coreógrafo Mano Preto, e o director geral das Artes e das Indústrias Criativas, Adilson Gomes, que tem a tutela directa do PCIL.

Há perto de um ano no cargo de DGA, sucedendo a Ivan Santos, Adilson Gomes assume uma continuidade em relação ao trabalho que vinha sendo feito por Santos. Foi durante o período em que este assumiu a gestão do PCIL que o simbólico edifício datado do século XIX recebeu obras de manutenção e reabriu com um novo conceito de funcionamento, o Artbox.

A estratégia passava essencialmente por “devolver o espaço aos artistas” e proporcionar-lhes o palco por que tanto clamavam, e ao mesmo tempo apostar numa agenda “inovadora, variada, multidisciplinar” e que intercalasse o tradicional ao contemporâneo.

Garantida a continuidade, o novo DGA não deixa de admitir que houve também melhorias.

“Temos o Palácio com uma linha mais definida. Mas ainda temos sim muito para trabalhar. Algo que pretendemos é que o Palácio seja um grande centro cultural da cidade da Praia, e de Cabo Verde e para isso temos que trabalhar também a nível pessoal, a nível interno, onde temos ainda algumas fragilidades quanto a técnicos especializados em determinadas áreas”, admitia em entrevista ao Expresso das Ilhas em Maio passado.

O gestor cultural concorda com a total abertura do espaço aos artistas e criadores que o procuram mas, “com critérios”.

“Abrimos o espaço á classe artística mas não podemos simplesmente entregar para organizarem como entenderem. Temos que ter critérios. Neste momento já criamos um regulamento interno e estamos a melhorar as salas, a criar condições para que aconteçam com frequência pequenos seminários e workshops, não só artísticos mas de instituições”, dizia há alguns meses.

O propósito é conseguir manter um espaço em que as pessoas tenham propostas diferenciadas e possam escolher entre diferentes áreas: dança, exposições, música, workshops… “e ter aqui outros sectores das indústrias criativas, como a moda, o design, arquitectura…”.

Um aspecto diferenciado do Palácio da Cultura Ildo Lobo em relação a outros espaços culturais do país é a sua característica de laboratório criativo e incubadora de micro e pequenas empresas da área da cultura e das indústrias criativas. No momento da nossa reportagem, estavam incubados no PCIL a K-Touch (maquiagem) e a K-Blast (design e TICs), para além do projecto de comunicação integrada Praia Maria Cultura e Lazer, responsável pela revista digital do mesmo nome e um mapa criativo da cidade.

Curiosamente Samira Pereira, responsável do projecto Praia Maria, foi a partir de 2010 a coordenadora do PCIL, que anos antes tinha também sido remodelado e baptizado com o nome do célebre cantor. A época em que geriu a programação do espaço é também recordada pelos praienses amantes das artes como dinâmica e com propostas bastante criativas e arrojadas. Pereira defendia então na comunicação social como missão para o PCIL “servir o público e a cidade com uma programação constante que permita que quem venha à cidade ou vive nela saiba que qualquer dia, no aspecto do lazer e mesmo da formação, tem no Palácio da Cultura uma série de ofertas”.

Hoje, reconhece o PCIL como “o espaço cultural por excelência na cidade da Praia”. E, enquanto representante de uma empresa ali incubada admite as vantagens do sistema: “estar aqui não só ajuda como faz todo o sentido e capitaliza a própria marca”.

“Acho a ideia de incubação pertinente, principalmente quando se fala de um ministério da Cultura e Indústrias Criativas”, aponta sublinhando ainda a possibilidade de se criar “um ecossistema privilegiado”, onde a sua marca Praia Maria - e outras ali sedeadas - “passa a ter, de forma indirecta, um selo do MCIC. Isto de certa forma é uma credibilização do projecto”.

Outro aspecto elogiado do PCIL e que Adilson Gomes realça com notória satisfação é o espaço de oportunidade que o Palácio é para jovens artistas, ainda a apalpar terreno e criadores oriundos de bairros periféricos e de outros pontos da ilha e do país.

Assim, não se admira que a programação do PCIL até ao final do ano já esteja praticamente fechada. É o coordenador do programa, mano Preto, que o diz admitindo contudo que haverá sempre algum espaço para encaixar pequenos eventos pontuais que venham a surgir.

Quanto ao futuro, nos planos do DGA está um PCIL mais “verde”. Um edifício ecológico, com painéis solares que produzam a energia necessária para o seu funcionamento, um jardim vertical e recipientes para recolha de lixo separado para reciclagem. E o miradouro, que aos sábados recebe a já mítica feira do livro e da banda desenhada, transformado num lugar para aprazível leitura, com assentos confortáveis e uma mini biblioteca.

Mas isso só se o orçamento actual, que se destina quase que exclusivamente a pagamento de salários e manutenção do espaço, for incrementando.


Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 871 de 07 de Agosto de 2018.

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Autoria:Chissana Magalhães,11 ago 2018 15:21

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  12 ago 2018 9:38

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