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O músico construiu um enredo onde propôs vários temas que iam construindo a pequena viagem que nos foi proporcionada.
De entre os temas, fazia parte do repertório a canção “Venham mais cinco” do álbum com o mesmo nome do músico e compositor Zeca Afonso.
José Afonso, foi um dos nomes maiores da música de intervenção Portuguesa. Usando a música como arma, foi um dos tantos nomes, que pelo mundo a fora embandeiraram esta forma de arte, para chamar atenção para os mais diferentes pontos de vista. E foram tantos, que protegidos pelo duro escudo da música se bateram pelos seus ideais.
Há quem defenda que a História é feita de ciclos que se repetem. Com toda a certeza, o mundo de hoje volta a precisar destas figuras. E que venham, da maneira mais forte e precisa, quanto necessária.
Voltando ao tema acima referido, o álbum “Venham Mais Cinco” foi lançado em 1973, em época em que vários portugueses se opunham ao então Estado Novo. Muito do povo português viu nas trovas de Zeca, os seus pensamentos, traduzidos e expostos em forma de música. O fascismo era ferozmente combatido por Afonso e os seus companheiros, e os álbuns que ia lançando, tornavam-se cada vez mais avultados.
No repertório do disco, os mais belos temas e poemas. Músicas necessárias na altura em que foram lançadas, e que talvez ainda hoje sejam tão reais nos mais diferentes países do mundo.
Não sei se hei-de destacar a beleza do tema “Que o Amor não me engana”, ou as “A Formiga no Carreiro” ou o enorme e eternamente actual “Venham Mais Cinco”. Contudo tenho uma certeza: um enorme compositor que ainda hoje… mais de 40 anos depois, tem alguns poemas tão actuais, quanto necessários.
Não será difícil adivinhar que logo quando saiu, foi censurado e proibido de passar nas rádios. Após a queda do regime, foi um dos primeiros (se não o primeiro) a ser elevado bem alto por quem sempre acreditou na música, que para além da sua beleza, também pode ser uma feroz arma de luta.
De sublinhar, que o tema foi gravado há alguns anos por Ildo Lobo, numa compilação que reuniu vários nomes da música, e que celebrou a poesia de José Afonso.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 880 de 10 de Outubro de 2018.
