Muitas delas são contadas na primeira pessoa, contudo, outras vêem dos companheiros dos grupos, dos jornalistas ou de amigos. Com isso quero dizer que, se muitas são assinadas e certificadas pelo próprio autor/músico, outras não o são. Contudo, para quem conhece os músicos, algumas dessas estórias encaixam na perfeição na personalidade do músico que veneramos …provavelmente por serem compatíveis com o universo musical do nosso ídolo, que tão bem conhecemos por irmos absorvendo tudo o que aparece sobre o mesmo.
Uma delas é uma estória tão bela quanto o disco ao qual esta ligada.
Conta-se que no ano de 1975 uma produtora alemã de 17 anos de idade resolve contratar um pianista já conceituado, para tocar Opera House na Colónia.
Produção em alta, pormenores cuidados, e finalmente o famoso instrumento com o qual o pianista iria tocar um concerto algo improvisado. Fazendo um parêntesis e “contando” outra estória dentro desta consta que este pianista antes do espectáculo fazia questão de passear pelas cidades onde toca, para senti-las. Faz sentido…
A poucas horas do espectáculo, notou-se que o piano que tinha sido requisitado, não era o que estava em palco, sendo este bem inferior. Por puro engano foi colocado um piano de reserva e não o principal. Já não havia tempo para trocar.
A primeira reaçao do pianista foi, obviamente, não fazer o espectáculo.
Imagine-se o que se passou no momento pela cabeça da pequena produtora de 17 anos…
Contudo, aconteceu. O pianista subiu ao palco e tocou…improvisou…num piano que não era o escolhido (mas talvez fosse esse o destinado).
A casa estava cheia e o espectáculo foi um êxito. Mais tarde sai a gravação do disco que passou quase 20 anos nos tops, e que ainda hoje (e sempre!) é um dos incontornáveis da história da música. Para mim, com toda a certeza, um dos discos que faz parte da restrita colecção das obras de arte da música. Um disco de inspiração máxima, que só um génio poderia fazer.
Pois, em 1975 sai o Koln Concert de Keith Jarrett, um dos discos que não consigo descrever por ser tão sublime, e por isso não traduzível por palavras. Para ouvir e sentirmo-nos …
Texto originalmente publicado na edição impressa do expresso das ilhas nº 896 de 30 de Janeiro de 2019.