Belomy Xavier, Director da empresa Prima Videos foi à ilha da Boa Vista fazer um videoclip e, com o surgimento do primeiro caso naquela ilha, ficou retido sem poder regressar à Cidade da Praia onde reside.
Com o surgimento da doença na ilha ficou difícil encontrar transporte para o regresso. “Estávamos prontos para regressar para a Praia e, na madrugada desse dia, recebemos a informação de que tinha surgido o primeiro caso de COVID-19 em Cabo Verde, e foi justamente na Boa Vista”.
Sem saber o que fazer, Belomy Xavier conta-nos que ele e a sua equipa foram para o aeroporto logo de manhã, mas foram impedidos de sair da ilha.
Projectos cancelados
Ficaram retidos na ilha da Boa Vista durante 19 dias e, para Belomy, esses foram os piores dias da sua vida. “Tínhamos iniciado o ano muito bem, com vários trabalhos programados, videoclips dentro e fora de Cabo Verde, programas televisivos que produzimos para entidades governamentais”.
Além disso, conta que tinham o projecto de avançar com a segunda edição do concurso musical “Voice One”. “Estávamos na fase de contactos com potenciais patrocinadores e colaboradores, foi tudo cancelado e nem sabemos se haverá condições para retomar ou mesmo quando é que podemos retomar”.
Para o Director da empresa Prima Videos, a pandemia da COVID-19 trouxe prejuízos para a sua empresa, “sabemos que o audiovisual é a alma do entretenimento e está tudo parado, não sabemos o que fazer e estamos sem respostas”.
Durante este período de confinamento, disse que está a fazer de tudo para que a sua empresa não vá à falência. “Durante este confinamento passo o meu tempo a tentar criar medidas de resiliência para não fecharmos as portas. É frustrante saber que tenho uma equipa jovem, com muito potencial e com vontade de fazer as coisas acontecer e não podemos fazer absolutamente nada por causa da pandemia”.
“Aproveito a oportunidade para fazer um apelo às entidades competentes para que criem programas, medidas que ajudem as produtoras audiovisuais aqui em Cabo Verde para não fecharmos as portas”, apela.
Patrick Gomes, video maker e dono da produtora audiovisual Clacket Movie, com foco na produção de videoclips, já fez trabalhos para vários artistas como Elida Almeida, Hélio Batalha, Trakinuz, Jenifer Solidade, Philip Monteiro, Soraia Ramos e outros. Além da produção de videoclipes, a sua empresa também trabalha na produção de spots publicitários.
Conforme conta, esta pandemia está a afectar os seus trabalhos e os projectos que tinha agendado para este ano.
Apesar deste cenário, Patrick Gomes está firme e confiante no futuro. “Neste momento estamos a tentar recuperar, mas está muito difícil, e se as coisas estavam difíceis antes, imagina agora, mas estamos a reinventar trabalhos para poder fortalecer os nossos canais de divulgação”.
Oportunidades na divulgação
A pandemia da COVID-19 também trouxe oportunidades na divulgação de conteúdos audiovisuais em Cabo Verde. Com as pessoas em confinamento, o consumo tende a aumentar.
Antes da pandemia, filmes e documentários produzidos em Cabo Verde raramente eram emitidos na televisão pública. Agora, a TCV, em parceria a Associação DE Cinema e Audiovisual de Cabo Verde, difunde três vezes por semana filmes e documentários feitos em Cabo Verde.
Para o presidente da Associação de Cinema e Audiovisual de Cabo Verde, Mário Benvindo Cabral, esta parceria é uma oportunidade para fazer a promoção de filmes nacionais, pois há filmes que foram feitos há muito tempo que muitas pessoas não conseguiram ver.
“Na verdade, o conteúdo é necessário. A televisão pública tem falta de conteúdos e temos produtoras com capacidade. Já vimos muita produção com qualidade, então é uma parceria interessante, não sendo possível comprar, pelo menos que colaborem e incentivem a produção nacional. É nesse sentido que accionamos nesse tempo de pandemia as produtoras nacionais no sentido de disponibilizarem gratuitamente os seus trabalhos para dar às pessoas oportunidade de ver o que têm sido feito nesta área”, refere.
A pandemia provocou alterações na grelha de programação da TCV, que suspendeu alguns programas como “Em Debate”, “A Descoberta”, “Programa da Margarida”, “Código de Vida”, “CVMagazine”, “Tribuna Vip” e “Fitness Magazine”.
Segundo o Director da TCV, António Teixeira, alguns programas foram suspensos por causa da redução do número de pessoal dentro do estúdio.
Já a TV Record Cabo Verde, decidiu adiar os programas para os próximos dias para colocar mais foco nos serviços informativos sobre a COVID-19, conforme explicou o coordenador de programas, Edson Gomes.
Durante o confinamento também houve um aumento significativo de produção de vídeos para as redes sociais, Facebook e Instagram com muitos live diários dos artistas.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 964 de 20 de Maio de 2020.