O rápido crescimento demográfico da população europeia provocou a emigração de milhões de europeus, sobretudo italianos, mas também portugueses e espanhóis, para o Brasil, Argentina e outros países da América Latina. A posição geográfica de Cabo Verde colocava o arquipélago na rota dessas viagens, muito em especial a ilha de São Vicente que, com o desenvolvimento da navegação a vapor, se iria tornar num importante entreposto carvoeiro.
Em meados do século os barcos a vapor ainda não tinham feito desaparecer os veleiros e estes continuavam a abastecer-se de água e de frescos noutros portos do arquipélago pois as viagens eram longas, muito longas. Partindo do sul da europa, os veleiros chegavam a demorar sessenta dias para fazerem a travessia do Atlântico. Eram viagens difíceis, pela falta de espaço, de comodidades e de higiene, agravadas pela má qualidade da alimentação, feita sobretudo de arroz, biscoitos, carne e peixe seco.
Numa tarde de Julho de 1855 chega ao conhecimento do Governador a notícia de que a ilha do Fogo tinha sido atingida por grave epidemia. Rapidamente o Governador tomou as medidas que se impunha, a saber: estabelecimento de um cordão sanitário em volta da ilha de Santiago, incomunicabilidade de todas as ilhas com barcos procedentes do Fogo e envio da escuna Leopoldina para essa ilha, levando a bordo um médico e medicamento.
É disso que se trata o livro organizado e prefaciado por Ana Cordeiro, com a chancela da Ilhéu Editora – Relatório da Importação do Cholera-Morbus Asiático pela Barca Sarda “Corça” para a Ilha do Fogo de autoria de José Fernandes da Silva Leão, Cirurgião-Mor da Província desde 1853, agora dada à estampa em fac-similada.
Não foi vinda do reino nem através dos portos mais importantes e frequentados que a epidemia entrou em Cabo Verde. Chegou de forma insidiosa, no dia 1 de Julho de 1855, à ilha do Fogo, a bordo da barca Corça, proveniente de Savona, que se dirigia à América do Sul levando a bordo 240 passageiros. Como foi possível tal acontecer, de que maneira a doença se espalhou e evoluiu, quais as medidas tomadas e as não tomadas pelas autoridades, as vítimas que causou, enfim, todos os pormenores desta epidemia podem ser lidas nesse livro já disponível nas principais livrarias da Praia e Mindelo.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 972 de 15 de Julho de 2020.