Em entrevista à Rádio Morabeza, João Branco, director do Centro Cultural Português do Mindelo explica que a cena retrata a história um conjunto de pessoas que criaram um grupo, através da internet, para poderem estar juntas e conversar depois de um confinamento radical de 5.555 dias, devido à crise da pandemia.
“Portanto, há vários anos que estão em quarentena absoluta, sem autorização dos respectivos governos para saírem, sem jornais, sem rádio, sem televisão. A única coisa que os mantém de certa forma conectado, não apenas uns com os outros mas também com a própria humanidade de cada um deles, é precisamente a possibilidade de estarem juntos pela internet”, explica.
De acordo com a sinopse, num futuro distópico pessoas tentam reformular suas próprias histórias em um mundo pós-pandemia. Durante os 5.555 dias de quarentena, isolados e com medo, eles criaram um grupo na internet no qual eles se conectam. Esse grupo não compreende como ainda é possível haver energia eléctrica e acesso a internet já que os canais de tv e jornais desapareceram e as cidades foram abandonadas.
“Os temas principais são: depressão, solidão, ódio, medo da infecção, a angústia pela aproximação da morte e a tristeza devido a intolerância e extremismo político”, lê-se.
Os autores do texto original são os dramaturgos brasileiros Rodolfo García Vázquez e Ivam Cabral, que usaram uma situação real de pandemia, em que as pessoas tiveram que ficar confinadas em casa, e a transformaram em “algo mais radical, pensando no que é que poderia acontecer à humanidade se ao invés de 15 ou 20 dias de quarentena obrigatórios fossem 4 mil ou 5 mil dias”.
João Branco fala de um espectáculo emocionante.
“As pessoas emocionam-se porque se identificam. Porque muitos destes sentimentos de clausura, de solidão, de desânimo, de esperança e de amor, nós todos já sentimos durante esta experiência radical que estamos a viver neste ano de 2020 que é esta pandemia”, relata.
O espectáculo conta com a participação de uma criança cabo-verdiana de cinco anos, e que actua falando em inglês. Vai representar uma criança que nasceu em quarentena, e que nunca teve a oportunidade sequer de vivenciar o que é estar numa escola.
O projecto tem um elenco internacional com artistas de três continentes: Europa (Alemanha, Inglaterra e Suécia), África (Cabo Verde, Nigéria, Senegal, África do Sul e Zimbabwe) e América do Sul (Brasil). “A Arte de Encarar o Medo” é uma produção internacional de teatro digital desenvolvida especificamente para a plataforma Zoom.
A primeira versão foi totalmente brasileira feita pela companhia Satyros, de São Paulo. A versão africana/europeia da peça vai juntar artistas de nove países diferentes de três continentes. A maioria desses artistas nunca se encontraram fisicamente e participaram de ensaios online para desenvolver a peça.
O espectáculo, transmitido em directo, da plataforma Zoom, a partir dos nove países, ficará em cartaz durante todo o mês de Agosto, com entradas pagas a partir de uma plataforma específica para este fim.