A arte fotográfica na ilha de Santiago

PorExpresso das Ilhas,23 ago 2020 8:16

A ilha de Santiago, conhecida pela exuberância da sua imponente paisagem orográfica e cedo foi parar à objectiva dos retratistas do princípio do século XX, numa prova inequívoca de que Cabo Verde desde cedo entrou para o fenómeno da globalização muito antes de ser declarado formalmente.

O clique das máquinas fotográficas rompeu o silêncio desta ilha maior, quebrando a monotonia dos montes e vales e, ao mesmo tempo, brotou triunfalmente para o deleite do povo que aprendeu a conviver com ela, criando uma cumplicidade que perdura até aos dias de hoje.

Ser fotografado naqueles tempos, não era para todos. Era um luxo que estava reservado à burguesia reinante que estava à altura de pagar por tais serviços, restando a plebe o papel secundário em cenas nada dignificantes, ou seja, muitas vezes em poses dramáticas em funcos ou esporádicas manifestações culturais que mais serviam de propaganda ao colonizador.

Tudo começou a reconfigurar-se a partir da década de 50, com o aparecimento dos primeiros fotógrafos autónomos, cuja memória conservamos através das suas autênticas obras de arte, em variados momentos, enfim, muitas das quais ainda povoam as paredes quer de lares pomposos quer de habitações modestas da ilha de Santiago.

Tudo isso foi graças à acção pioneira de um grupo de carolas, verdadeiros autodidatas, que retrataram com os seus limitados aparelhos, hoje obsoletos, mas com muita paixão as mais lindas paisagens, ruas, gentes, manifestações culturais, enfim, um sem número de situações que nos deleitam ainda hoje.

Apesar do receio da omissão, mencionemos os nomes de Hipólito Graça, ou simplesmente GRAÇA, da dinastia dos Leitão da Graça; Velhinho Rodrigues, António CARDOSO, Gustavo da FONSECA, Vital MOEDA, ou José Augusto de Melo, conhecido por DJESSA, que se tornaram verdadeiros mestres da fotografia da sua geração.

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De entre eles, sem qualquer pretensão, há que destacar o papel pioneiro e inovador de Djessa, nascido numa família de fotógrafos, haveria de herdar o dom do pai, cidadão com ascendência portuguesa-guineense e da ilha de Santiago, que na juventude trocara Mindelo pela capital do país.

À frente do seu tempo

Apesar de fazer da fotografia apenas uma diversão, ele estava um passo à frente do seu tempo, conforme comprovam as inúmeras fotografias espalhadas por Cabo Verde que fazia, ousando a ser, quiçá, o pai da coloração fotográfica feita com pincel e tinta pelo menos por estas bandas.

Todavia, com tal desvio de estrada, para acertarmos as contas com a História, não queremos de maneira alguma desmerecer o trabalho feito por outros homólogos, que também nos honraram com o seu saber utilizar da melhor forma a sua objectiva para fixar em papel grandes momentos da nossa vida.

E mais, essa geração de amadores está por detrás de um filão de fotógrafos que irromperam posteriormente e que orgulhosamente lhes seguiram os passos, levando-nos a acreditar que seja urgente fazer a história da fotografia nesta ilha destacando o papel do verdadeiro retratista que e hoje uma espécie em extinção. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 977 de 19 de Agosto de 2020.

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Autoria:Expresso das Ilhas,23 ago 2020 8:16

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  23 ago 2020 15:27

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