Poderia tocar nos temas e no disco no seu geral da cantautora que, a cada disco ela vai- se mostrando mais madura nas suas letras, de uma produção musical forte e adequada, mas prefiro aqui exaltar uma interessante característica que quanto a mim vem cada vez mais marcando e demarcando a cantora, que um dia saiu de Matinho para conquistar Cabo Verde e o mundo.
Em dias como os de hoje, que em quase tudo procura-se a junção, juntar forças para seguir caminho…. na música não é diferente. Desde há alguns anos, a música – assim como o mundo – vem sofrendo toda uma globalização, a ponto de haver estudiosos que defendem o desaparecimento progressivo dos géneros específicos musicais. Confesso que neste ponto acredito haver exagero. Que algumas áreas da música sofrem mais fusões do que outras, que algumas famílias vão-se diluindo em prol de misturas marcadas, como por exemplo o Pop-Rock, tento aceitar…ainda que com reservas. Contudo, haverá sempre consideráveis barreiras entre as subfamílias da música, mesmo que temperadas com fortes fragâncias da “globalização”.
Na “world-music”, se o conceito já nos empurrava para essa fusão – distinguindo aqui a “world-music” da música étnica – nos dias que correm esta realidade é cada vez mais marcada.
Se por um lado, a fusão de ritmos vários é uma realidade, por outro, acentua-se cada vez mais a fusão da música tradicional dos diferentes países com a música eletrónica – nascendo o que muitos preferem chamar de música urbana.
No continente africano essa realidade dá origem a cada vez mais nomes e projectos, onde a variedade da riqueza musical do continente convida as sonoridades citadinas, para juntos se expressarem. A fusão já tinha acontecido nos anos 70 com o inigualável Fela Kuti, que misturou os ritmos da Nigéria e o Funk, fazendo nascer um dos maiores ritmos de sempre: o (verdadeiro) Afrobaeat. Contudo, na última década houve uma massificação deste processo onde a tradição vai buscar sobretudo os produtores/Djs nascendo assim o que já se chama de “banda sonora das metrópoles do nosso continente”. Pegando no nosso país, vem acontecendo também com frequência, mas confesso que neste novo trabalho de Élida Almeida vi essa nova visão do casamento do tradicional com a produção-eletrónica feita de forma muito interessante. Exemplo maior é-nos oferecido no tema que fez o segundo “single” do álbum “Gerasonobu”: o doce co(a)nto de Élida onde abraça o filho, mistura-se à eficaz maquinaria de Blinky Bill – produtor do Quénia – que se vem afirmando aos poucos neste panorama da musica africana.
“Nha Bilida” conforme referido vai buscar o tradicional na letra de Élida, nas palavras que escolhe, num poema que se acaba por encontrar complemento musical na “maquinaria” do produtor-Dj Blinky.
Claro que seria incompleto falar deste tema, e de todo o seu processo de produção, sem tocar no “fiel-escudeiro” de Élida de toda a caminhada musical - o nosso Hernâni Almeida e a sua visão de há muito da música global.
Que a busca deste tipo de fusão continue a ser uma constante em Élida, pois vemos nesta jovem uma capacidade distintiva: a de não perder a forte presença das “raízes”, mesmo quando se mistura aos tais sons eletrónicos/urbanos. Duas vertentes bem presentes sem, contudo, uma sobrepor-se a outra. E como tudo na vida, o equilíbrio é parte da perfeição.