Conheça Paula Santana, cantora portuguesa de morna

PorSheilla Ribeiro,21 dez 2020 10:52

Paula Santana conheceu a morna ainda no berço, em Luanda onde nasceu. Mas, nos últimos seis anos, depois de ter reencontrado esse género musical em Portugal, começou o trabalho de pesquisa e recolha etnomusical, tendo cantado com Celina Pereira, Teté Alhinho, Titina, Bulimundo Lopes e outros grandes nomes da música cabo-verdiana.

“Contam-me que conheci a morna no berço, em Luanda onde nasci. Os meus pais entregaram-me aos cuidados diários de uma ama, como acontecia na época a muitas crianças cujos progenitores eram ambos empregados. Naquela casa ouvia-se, dançava-se e cantava-se música de Cabo Verde. Pelo que, desde o berço até à vinda para Portugal com seis anos, a maior parte do meu universo musical era preenchida com mornas e coladeiras”, conta Paula Santana em entrevista ao Expresso das Ilhas.

A artista portuguesa narra que com a morna foi “amor à segunda vista” quando a reencontrou em Portugal, passadas algumas décadas.

O reencontro, conforme diz, foi “arrebatador e inebriante” quando acidentalmente ao fazer uma fotografia a um dálmata que estava sentado numa cadeira na esplanada de um café, onde ouviu alguns sons que lhe pareceram africanos.

“Tentando vencer o cansaço da espera de algumas horas pelo final de uma festa de escuteiros que acontecia no jardim ao lado, entrei. De imediato fiquei profundamente emocionada. Sentimentos de pertença, reconhecimento de um cantar que ecoava dentro de mim mas que eu não recordava alguma vez ter ouvido e a compreensão de uma língua que eu nunca tinha aprendido fizeram daquele um momento dramático e inebriante que está na base de todo o trabalho de pesquisa e recolha etnomusical no qual tenho trabalhado nos últimos seis anos”, descreve.

Desde então, Paula Santana começou a cantar morna. Ao Expresso das Ilhas, diz que cantores como Cesária Évora, Bana, Sãozinha Fonseca, Alcides Nascimento e Nancy Vieira são os que a inspiram a cantar a música rainha de Cabo Verde.

Questionada sobre uma Morna de autoria própria, a artista revela que está a trabalhar nesta questão e que tem alguns projectos na gaveta.

Apesar de só conhecer a ilha de Santiago, Paula Santana garante que conheceu mornas de todas as ilhas através de pesquisas e recolhas efectuadas nos registos existentes do cancioneiro cabo-verdiano ou transmitidas apenas presencialmente.

Cantar a Morna

Paula Santana já actuou com artistas de renome como Zenaida Chantre, Teté Alhinho, Maria de Barros, Mário Marta, Ana Firmino, Celina Pereira, Titina, Djujuty Alves, Zé António, Humberto Ramos, Tó Barbosa, Nando Andrade; Bulimundo Lopes, entre outros. Entretanto, denota, há outros com quem gostaria de cantar.

A portuguesa já cantou morna na Casa da Morna de Lisboa, Gulbenkian, Alliance Française de Lisboa, B.Leza; Associação Cabo-verdiana de Lisboa; Associação dos Antigos Alunos do Ensino Secundário de Cabo Verde, RTP África, entre outros lugares.

“Há algo importante que tem a ver com a escolha do meu repertório. Gosto de cantar aquilo que não oiço ninguém cantar. Insisto em procurar aquilo a que chamo “pérolas” esquecidas por alguma razão no tempo e sinto-me feliz quando as canto e as pessoas reagem com emoção e saudade”, relata.

A recolha de músicas cabo-verdianas antigas, continua, é feita através de pesquisas na internet e escuta de gravações antigas. Além disso, a cantora escuta sempre que possível espectáculos e convívios mais intimistas.

Nos convívios mais intimistas ou bairristas, Paula Santana profere que muitas vezes é surpreendida com algo que nunca ouviu.

“Nessas ocasiões tomo notas, falo com as pessoas, por vezes peço-lhes para gravar áudio no telemóvel para que mais tarde eu possa tirar a letra e aprender a música. Tenho um caderno que é precioso, onde estão apontadas todas essas músicas, com notas sobre os locais onde as recolhi, as pessoas que mas mostraram e sempre que possível, as histórias relacionadas com a razão da sua existência e a ilha a que pertencem”, discorre.

Paula Santana aponta que o caderno já parece um dicionário e já começou a elaborar um segundo caderno.

“Interessa-me guardar estes registos mas de forma muito pessoal, acompanhados de notas, desenhos, aguarelas, fotografias, postais, recortes e muitas vezes até coisas escritas por essas pessoas e todos ficam agradavelmente surpreendidos quando mostro “meu caderno”, assegura.

Além disso, Paula Santana anuncia que recebe gravações de CD,s , pens com áudios para ouvir de pessoas que quando a ouvem cantar, “ficam contentes” com o seu interesse pela música tradicional antiga e a incentivam a continuar.

“Alguns músicos e amigos, também fazem questão de recomendar e até ensinar algumas destas músicas. Também já aconteceu, receber através das redes sociais, de outras partes do mundo, áudios, vídeos e recomendações carinhosas como “esta música é para a sua voz” ou pedidos para cantar um tema especial e dedicá-lo a alguém”, menciona.

Como exemplo cita um pedido do Brasil por alguém que trabalha numa rádio local e que não conhecia, nem pessoalmente nem virtualmente até à altura, “Nha Codé”, de autoria de Fernando Quejas.

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Autoria:Sheilla Ribeiro,21 dez 2020 10:52

Editado porAndre Amaral  em  21 dez 2020 10:57

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