Cada vez mais usados, não só servem para anunciar o álbum que chega, como também em formato próprio, um tipo de colaboração ou produção pontual que poderá ter vida própria ou depois esta incluído num futuro projecto.
Há duas semanas foram-nos oferecidos dois singles: um que anuncia um álbum vindouro e outro que grava o encontro de um compositor cabo-verdiano que, fruto da sua paixão pela música brasileira, acaba por compor para músicos desse país. O nosso Jotacê escreveu para a música brasileira, mais concretamente para Nanda Monteiro, o samba Cadência & Magia.
Sim, a música é feita (também) de paixões…e Jotacê (também) se apaixonou pela música brasileira.
O segundo anuncia a chegada do álbum de Adé da Costa.
“Faze gat”, cujo significado da expressão nos remete para costumes tradicionais típicos da ilha do Maio, trouxe frescura e até alguma novidade à nossa música.
Adé vai buscar a versátil voz de Jenifer Solidade que o ajuda a cantar e contar estórias dos “gateros” – nome aos quais são chamados os que ajudam os pescadores a tratar o peixe que trazem, sendo compensados com as sobras que se tornam a refeição que se aproxima.
Mas para além da tradição contada do Maio, também há no tema a presença das sonoridades do batuko, que de forma mais estilizada faz balançar com ritmo mais marcado a música que vem de Adé, das praias e das ondas do Maio.
...Bailando entre a suavidade “deste” batuku e a sanfona do nordeste brasileiro, entre as ilhas do Maio e do Sal, por entre a composição de ADÉ e a doce-agreste voz de Jenifer Solidade Almeida...tudo se torna musicalidade de um só Atlântico...Santiago abraça a irmã Maio e de forma fresca dançam pelo corpo de Jenifer e Adé que deixam passar a energia para quem os queira acompanhar neste batuku com aroma a ondas…
E por falar em ondas, as ondas do Atlântico acabam por banhar os dois singles.
As que vêm do Brasil e se misturam com as de Cabo Verde, levando o samba de Jotacê para terras de Vera Cruz e as que banham o mar da ilha do Maio, e que por sinal também farão parte das marés que compõem o tal disco vindouro de Adé, feito entre o Brasil – não só gravado como ainda pela participação da sanfona de Mestrinho – o já referido músico nordestino que participa no single – como ainda pelas gravações feitas nas Canárias.
E que seja de single em sigle, anunciando projectos vindouros ou encontros pontuais…é bom que a música vá usando estes mosaicos para ir construindo quadros que nos embebedam com a sua beleza…
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1014 de 5 de Maio de 2021.