A dupla cabo-verdiana, criadora do Storia Na Lugar, respondeu ao convite da curadoria da Exposição, que nesta edição é subordinada ao tema “Como Iremos Viver Juntos?”.
Nasceu assim a obra “Água(s), Produção de Territórios e Imaginários’’ (“Hacking (the resort): Water Territorialities and Imaginaries”), que como explicam os criadores, “parte do imaginário de um país marítimo, rodeado pela imensidão do oceano, onde gigantescos resorts oferecem oásis, com vegetação abundante e piscinas imensas, que estendem a imensidão do azul.”
Porém, como se contrapõe, “ironicamente, Cabo Verde é um país que sofre de extrema escassez de água potável, onde a precipitação é esparsa, muito irregular, sofrendo às vezes de vários anos sem chuva, como aconteceu entre 2017 e 2019”.
Acima de tudo, a obra expõe assim o contraste do “imaginário azul” de espaços “encenados de lazer e abundância para alguns” – os resorts turísticos, neste caso da Boa Vista –, que são ao mesmo tempo espaços de força de trabalho local, composta por pessoas que sentem sofrem a referida “escassez de água potável”.
Neste contexto, a água “torna-se um protagonista apresentando uma oportunidade de fabricar rupturas que sonharão formas mais equitativas e ecológicas de convivência”.
Tendo essa questão como base, a instalação “cria um horizonte alargado e estratificado, fundindo escalas e entrelaçando imagens multimédia com a forma construída”. Ressalta-se aqui o uso das garrafas de água rPET, “como unidade de construção, unidade de valor (e de disparidade), bem como símbolo de pressão ecológica.
Esta é a primeira participação de criadores cabo-verdianos nessa exposição internacional de Arquitectura desde a sua inauguração em 1980.
La Biennale di Venezia, como relembram os participantes, em nota de imprensa, é a mais antiga e ainda a mais prestigiada organização cultural do mundo, tendo sido inaugurada em 1895. Nesta edição participaram 112 escritórios/colectivos, sete dos quais africanos.
Após o adiamento por um ano, devido à pandemia da covid-19, a 17.ª exposição foi inaugurada ao público a 22 de Maio e está patente até 29 de Novembro de 2021, em Veneza, Itália.
Os artistas
Patti Anahory é arquitecta e designer, com um trabalho centrado no questionamento das relações pressupostas de lugar e identidade.
César Schofield Cardoso é um artista visual nascido em Mindelo cujo trabalho tem uma forte vertente de contestação política e social.
Em 2016, os dois criaram o projecto experimental e multidisciplinar Storia na Lugar - [un]grounding narratives que visa analisar e documentar a dinâmica da produção/construção do espaço em Cabo Verde contemporâneo.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1018 de 2 de Junho de 2021.