As batucadeiras sentam-se em circo semifechado. Abraçam-se através do ritmo que produzem e expurgam o que trazem dentro delas há seculos, e que ainda é – o agora.
Contudo, o cenário, ou melhor o Terreru, para além de acolher o som que depois distribui para alimento espiritual de quem quer nele beber, é também um espaço onde durante a sessão do batuku serve de depósito de informação.
No Tereru a energia da inspiração, mistura-se à força da tradição, e ambos resultam em raízes.
Na verdade, Tereru assenta-se em 3 pilares:
- No resgate e não-perda do que muitos dizem que foi nosso, mas que na verdade o é – sim, falo de um presente sem o qual nunca chegaremos ao futuro.
- Na partilha.
- Receber todos os que querem contribuir e participar para que a distância e a solidez entre as raízes e o resgate sejam estreitas e sérias.
Assim, da informação mais o acumular e conhecimento do nosso passado e das raízes e do referido comungar vem o ingrediente final – a Liberdade.
Só assim teremos árvores plantadas em rochas que alimentarão um povo…
Na semana passada foi apresentado – oficialmente – o projecto “Terreru” que se propõe mostrar e divulgar a nossa cultura. Assim como acima foi dito, também resgatando os valores socioculturais, comungando entre os elementos do grupo e expressando-se livremente – ou seja – uma liberdade adquirida e que vem desse Terreru…
Celebra-se o que é nosso, propondo que seja também vosso e que tudo se transforme num único nosso-vosso.
Cada elemento do projecto vem já com uma carga de informação própria – Calú di Guida, Djinho, Djoy Amado, Maruka Xica e Jacinto Fernandes, unem-se num registo e sintonia própria e conexão absoluta. Colectividade para o novo.
Já se conheciam antes e por volta dos anos 2000 com lançamentos dos trabalhos de Calú, Djinho e Maruka, mais as peças soltas de Djoy Amado começa na verdade o embrião deste Terreru. Foi seguindo caminho e o poder executivo de Jacinto Fernandes acabou por ajudar a ligar peças, qual mar que liga as ilhas…nascendo este grupo que apresentou recentemente o projecto TestaSon, uma homenagem ao universal Kaká Barbosa.
Cinco compositores que juntos escrevem e inscrevem os seus nomes nesta dança contada e encantada.
“A música é a plena estrada de chegar à alma”, defendia Maruka no Testasom.
E chegou, meu caro Maruka. Mas talvez acrescentasse algo: ela realmente só consegue chegar, quando vem de alquimistas de sons apaixonados por notas que se entrelaçam. Não sendo assim a estrada tem interrupções por não ter conteúdo.
Que este Terreru continue a produzir e sobretudo a celebrar a liberdade em música e a alma em tradição…
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1020 de 16 de Junho de 2021.