Soren Araújo – de ilha em “ilhas”, imagem em sons – um disco vivido

PorPaulo Lobo Linhares,19 ago 2021 10:07

Gosto de diferença na música. Gosto de música pensada e álbuns assentes em conceitos. Gosto de álbuns!

Na semana passada falei da forte coerência que liga toda a construção da obra moldada por Ary Kueka, inspirada na observação dos verdes, ribeiras e ventos dos vales da sua ilha escolhida, da tradição das outras ilhas – que para ele são também as mesmas da una-tradição que defende – e como colou isto tudo recorrendo a arranjos escolhidos, e finalmente ao disco-conceito que conta a Rota – observada e imagética – de um Sampadiu.

Músicas que projetam imagens e que constroem um conceito.

Na última sexta-feira, dia 13, Soren Araújo apresentou o terceiro dos 5 singles que lançará antes de sair o álbum “Six Degrees of Separation” – conexões entre pessoas que Sori defende ser uma das bases construtivas deste disco. Na “Teoria dos seis graus de Separação” do psicólogo Stanley Milgram lê-se que no mundo são necessários no máximo seis laços de amizade para que duas pessoas quaisquer estejam ligadas.

Se o título do disco já vem carregado de significados-vida, ainda mais em época necessária (assim como necessário a proposta de Ary quando fala em “Sampadiu”), acabamos por ver que tudo o que temos nestes singles (e disco vindouro) só poderia ter sido esculpido num pós-sonho, fortemente pensado e experimentado.

Imaginemos uma série de slides, ou ilhas – imagem que se interligam umas às outras. Cabe a quem ouve essa série de ilhas-imagem fazer (ou não…) a ligação entre elas. Ficará ao critério de quem ouve os sons da ilha-imagem fazer (ou não…) a ligação. Nesse arquipélago-imagem há liberdade para tudo, pois o modelo de nos movimentarmos é feito em formato viagem.

Cada ilha-imagem tem uma cor, uma cultura, um sabor e odor, um amor, seis laços de amizade e vários sentires. Um denominador comum: todas foram feitas a partir de observações intensas.

As observações tiveram vários lugares…”parou onde achou necessário e bebeu da experiência de vários portos” ... As recolhas foram certamente minuciosas, pois as peças teriam de ser as preci(o)sas e ir ao encontro daquilo que Sori idealizava. Colheu o necessário e que seria coerente para a construção do conceito-disco…outros momentos foram pensados e “causados” pelas nossas ilhas, que, em grande parte, significam para o músico as ligações fortes com a família mais directa, âncora que o retém e oferece segurança quando parte em viagem para longínquos destinos.

Continuando, se as ilhas-imagem foram construídas, seriam precisos alquimistas e pintores que partilhassem os mesmos ideais em relação ao bem supremo e que é a nuvem branca que cobre tudo – a música.

E assim, foi!

Sim, foram escolhidos os alquimistas musicais que misturando, amassando e esculpindo construíram a tela-sonora onde irão ser cravadas as letras e toda a poesia de Sori – para que as imagens dos slides-vivos ficassem prontos e assim cada uma se transformasse nas tais ilhas-imagem que Sori sonhou. Só assim poderia construir o seu arquipélago-imagem, de sons-vários de conceito intenso. Livre para mergulhos ou para quem preferir…. olhar de passagem.

Conforme disse, quando as coisas são feitas com humildade e amor pela arte maior – a música. Arrisco-me a dizer que para ti também ela é, Sori…. Nada corre mal, mesmo que a barreira seja de respeito como a pandemia que enfrentamos. Tinha tudo planeado para a saída de dois singles e depois fazer a apresentação ao vivo do disco. Entretanto pararam os espetáculos. Circuito supostamente interrompido…, mas haveria que seguir estrada – não esquecer que decorria a viagem.

Sori espera – …ganhou pelo meio o tempo de abraçar Leah – e opta por lançar um single por semana, até o número de 5 para que assim posteriormente lance o álbum todo. Os obstáculos toraram-se degraus…

No último dia do mês de Julho…da primeira metade do ano…lançou o primeiro single, e nas sextas-feiras seguintes lançou o segundo e o terceiro.

Sempre ouvi dizer que 3 é um número simbólico, o trio. E como a música nunca abandona os seus guardiões, e os que a pensam, o tal trio trouxe um single onde Sori, para além da música, celebra e homenageia duas mulheres: a mãe – Terezinha Araújo – que como ele diz: “deu-me a vida e a música” e chama a irmã Kady para com eles estar nesta ilha-imagem – de sons próprios, intensos, de significados finkadu na txon com um Batuku como som… inovador e original, porém com clara assinatura do Sori do Folk, da World Music e do Rock.

Necessário na nossa música!... (clara)mente necessária para a nossa música, Sori!

Sendo assim, aguardemos por mais, pois – Disco feito – obra pronta (fisicamente pois o que os músicos fazem nunca é finito…) – “amor é maior di ki temp”.

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Autoria:Paulo Lobo Linhares,19 ago 2021 10:07

Editado porSara Almeida  em  20 ago 2021 10:29

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