É verdade que, em português, com G ou com J, ela se lê da mesma maneira, à semelhança de “cansado” e “Cançado”. O primeiro é um advérbio e o segundo um substantivo (apelido). Laginha com G também é apelido (Mário Laginha, p.e.). O caso da Praia da Lajinha é interessante, porque a escrita com jota é a forma correcta, tanto em português como em crioulo.
Em português a escrita é etimológica. Etimologicamente, Lajinha deriva da palavra “laje”, que se escreve com J e, por isso, a palavra derivada “Lajinha”, também se escreve com jota.Havia aí na praia uma lajezinha (lajinha) que deu nome à “Praia da Lajinha”. Com o enchimento natural da praia, com a areia resultante da dragagem do Porto Grande, essa lajinha desapareceu (ficou soterrada). Ela desempenhava uma função importante na praia, porque a sua parte traseira oferecia uma zona protegida onde as crianças pequeninas se banhavam, sob o olhar tranquilo dos pais. A laje, que era mais visível na maré baixa, servia de lugar de saltos pois, contrariamente à Matiota, a praia não tinha nenhum trampolim, nem natural nem artificial.
A escrita do crioulo é fonológica e não etimológica, como a do português. Ou seja, escreve-se pelo som das letras e não pela derivação da palavra, consoante a sua origem. Assim, em crioulo, escreve-se Lajinha com jota, que tem o mesmo som que na palavra “hoje”. Laginha, com G, em crioulo ler-se-ia “Laguinha”, com o mesmo som da letra G na palavra “lagarta”. Já viram que não é indiferente escrever-se “lagarta” ou “lajarta”? Em crioulo as letras têm sempre o mesmo som, independentemente da palavra em que são utilizadas.
Se formos ver qualquer escrito com o nome da praia antes de ela passar “de patinho feio a menina-dos-olhos”, veremos que o nome vem escrito com jota. Mas, à falta de outros argumentos, eu diria que, Germano Almeida escreveu “O mar na Lajinha”. A imitar, imito Germano Almeida, porque ele sabe das coisas da escrita.