O conto volta atrás
No ano passado, escrevia no Expresso das Ilhas n.º 983 de 30 de Setembro de 2020, jornal que vem assinalando com regularidade a data do nascimento de Nhô Roque (António Aurélio Gonçalves), com destaque para a celebração do seu 115.º aniversário, alertando para a necessidade de sinalizar a efeméride dos 120 anos do nascimento desse escritor a acontecer em Setembro de 2021:
«2021 vai ser o ano do 120.º aniversário do nascimento do escritor claridoso António Aurélio Gonçalves (São Vicente, 25 de Setembro de 1901 – 30 de Setembro de 1984) cuja efeméride espera-se seja celebrada dignamente pela Universidade Pública, Universidade do Mindelo, Biblioteca Nacional e Câmara Municipal de São Vicente».
(…)
Uma iniciativa louvável seria, igualmente, a Câmara Municipal de São Vicente colocar uma estátua desse escritor na praça com o seu nome, Parque Nhô Roque, situado junto à Avenida Marginal e à Baía do Porto Grande. Esse parque é um projecto da sociedade civil que nos fins dos anos 80 envolveu empresas e personalidades de São Vicente e que aguarda desde essa altura uma estátua de Nhô Roque.»
Dia de Comemoração
António Aurélio Gonçalves, o nosso Nhô Roque, intelectual orgânico, porque activo e crítico nas mais diversas áreas – prefácios de livros, seminários de literatura no Curso de Formação de Professores do Ensino Secundário, artigos em revistas como Ponto & Vírgula, conferências e a própria divulgação de conhecimento e de informação a quantos o procuravam em casa ou em qualquer lugar onde estivesse – praticamente até à sua morte.
Esta data deve ser de reflexão sobre o estado da arte da literatura cabo-verdiana, seu percurso, sua situação actual e suas perspectivas. A verdade é que Cabo Verde tem hoje dois Prémios Camões, o poeta e ficcionista Arménio Vieira e o romancista Germano Almeida, prémio pouco potencializado, diga-se; alguns bons escritores, mais conhecidos e traduzidos lá fora, que entre nós, isso para não me referir às comunidades emigradas, onde ainda não conseguimos colocar os nossos produtos culturais; e uma geração nova de escritores, procurando, por isso, afirmar-se de fora para dentro.
Quando a nova geração, a dos nossos filhos e netos, cheia de potencialidades, é visual e de rapidez, e a velha, a nossa, está morrendo, ficam-me algumas angústias que quero aqui compartilhar em forma de questões: (i) se os nossos alunos do ensino básico e secundário e os nossos estudantes do ensino superior lêem e estudam a nossa literatura e os nossos autores; (ii) se existe uma política explícita, coerente e efectiva da promoção do livro e do escritor cabo-verdiano, no país, residente ou não, e no estrangeiro; (iii) se existe uma política de apoio à produção e edição gráfica; (iv) se temos um mercado de produção editorial, só para enunciar algumas.
Sodade de nôs professor | Nôs home di povo
Cónde el parti
Céu di Mindelo toldá di um n´ba scuro
Sê partida
Foi pa nôs um golpe bem duro
Grande c’piqnim
Tude maguóde co sês tristeza e dor
Tchorá sodade de Nhô Roque
Sodade de nôs professor
Nôs home di povo
Distino levál
Pa sê mundo
Êl dixá povo
Num dor profundo
Final d’um trecho
Di nôss história
Scrito co pena
E letra di oro
Cabo Verde tchorá
Sodade de Nhô Roque
– Manel de Novas, Morna “Sodade de Nhô Roque”, 1984