Moisés Évora, uma referência do jornalismo cabo-verdiano e da música

PorPaulo Lobo Linhares,27 mar 2022 8:10

Para além de estar sempre ligado a programas da actualidade, em particular ao desporto, a menina dos olhos do jornalista, será (acredito eu) o programa “A Vez do Compositor” (que preciosidade!), onde em conversa descontraída, faz também com que o convidado se abra e conte estórias, momentos e fale sobretudo do músico que fica atrás da música.

Muito útil, pois na maioria das vezes é necessário conhecermos quem o é. Na verdade, essencial para os amantes da música.

Moisés Évora - o nome do jornalista a que me refiro, que entrevista em conversa, e em conversa sempre entusiasmada, com laivos de um menino, retira tudo o que nós, curiosos, queremos saber. Moisés é um comunicador por excelência.

O piano acompanha-o há muito. Acredito que desde sempre a música tenha estado ligada ao jovem salense. Contudo, tem duas refernêcias que não deixa de enaltecer: o irmão Djila Évora e o ex-Tubarões José Brazão – que para Moisés é, sem dúvidas, um dos grandes músicos do nosso país. Ambos tocavam acórdão, órgão e piano. Não demorou muito para que o curioso adolescente se tornasse também pianista da igreja, não só em grupos juniores como posteriormente em grupos seniores.

Aí a música já tinha feito o seu trabalho de resgate de mais um apaixonado que passou a defendê-la.

Deu nas vistas e multiplicaram-se os grupos pelos quais ia passando: Os Évoras, com Taninho Évora e família; Grupo Cénico Jaime Mota; Asa Band; Grupo Belo Horizonte; Grupo Mobafuco, do qual é fundador e o Grupo Maninho Almeida.

Teve algum tempo de paragem, em termos de grupos, mas a separação do piano e do acordeão nunca aconteceu. Sublinho aqui a interessante e nobre façanha de ser pianista residente do Hotel Morabeza durante mais de 20 anos – o que não só mostra o querer artístico de quem o contratava, mas também uma certa dose de transversalidade musical, onde o repertório vai certamente sendo adaptado. Como dizia outra figura enorme da música internacional, era: “transversal ao tempo”.

Por entre este hotel e outros, por entre homenagens e serenatas, Moisés não parou.

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Contudo, na segunda década de 2000, os palcos sentiram de novo a necessidade do músico e este participa na superbanda que acompanhou o músico Mário Lúcio, no seu mais recente disco – Funanight: tanto nos palcos nacionais como internacionais. Aliás, nesta área de bandas de nomes sonantes da nossa música também fez parte da banda de Tito Paris em Portugal nos inícios da década de 90.

Contudo, a capacidade de traduzir música para imagens, a sua facilidade em tocar sentimentos – lembro-me numa digressão com os Funanight, em que ao entrar da recepção do hotel, esta estar cheia de hospedes a dançar ao som dum piano que enfeitava a sala e que Moisés deu-lhe o seu real-musical significado.

Assim, seria fácil perceber que o chamassem para outras áreas – para mim aposta acertada…tão acertada quanto a escolha que a música fez, quando viu Moisés, ainda o adolescente curioso, que procurava nos dedos de Djila e Zé Brazão as notas para também com elas brincar.

Produtores cinematográficos vêm assim nele a força imagética que ele deposita na música, a pureza com que lida com esta e a sensibilidade que o faz sempre agradar o outro. Primeiro foi o filme “Sukuro” onde é convidado por Soren Araújo (que juntos tocavam nos Funanight) para que o tema Ben-Hur (que Moisés dedicou ao irmão) fizesse parte da banda sonora do filme.

Há pouco tempo, foi Júlio Silva – realizador do filme “Poeta das Ilhas” – a propor que a musicalidade de “Tututa” - `coladeira viva que foge à harmonização típica deste género` dedicada à outra referência de Moisés, e creio que de Cabo Verde inteiro, e “Valentina” – morna dedicada às mulheres guerreiras do nosso país. Meus caros realizadores – penso que estaremos em frente à mais séria figura musical, que desperta elementos musicais que traduzem facilmente imagens: o nosso compositor de bandas sonoras.

“Gosto de dedicar os meus temas às pessoas”, diz Moisés

Meu caro Moisés, na minha opinião, é mais do que isso. Acredito que quando …de forma natural (na verdade não tens outra) citas esta frase, há uma clara mistura de dois pilares que sustentam o teu ser: a imensurável paixão pela música e músicos e a tua (também) imensurável paixão pelas pessoas, pelo outro, vinda de um coração raro.

Assim, usas o que de mais valioso tens – a tal paixão pela música para “ofereceres” ao que mais gostas. Sei que se pudesses oferecerias milhares de títulos…que passariam a ser pessoas-música. Mais… tudo isso é feito em forma de partilha – o sentido principal da música. Contudo, essa partilha contigo, não é só musical, mas também pessoal, numa ode à bondade.

Em nota final, nestes três capítulos que referi – o Moisés-jornalista, o Moisés-músico e o Moisés-pessoa, apesar de tudo ser um, não consigo escolher o um, porque tudo é um e o um é Moisés…tudo é, e será, sempre Moisés Évora. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1060 de 23 de Março de 2022. 

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Autoria:Paulo Lobo Linhares,27 mar 2022 8:10

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  28 mar 2022 9:15

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