Brito-Semedo navega com Falucho

PorDulcina Mendes,27 mai 2022 14:00

O antropólogo e professor universitário Manuel Brito-Semedo lança, hoje, 27, na Cidade da Praia, a sua mais recente obra intitulada Falucho.

Depois de Esquina do Tempo, Brito-Semedodecidiu aventurar-se como marinheiro no Falucho, criar um novo projecto de escrita e viajar pelos mares das ilhas à procura de histórias e fixar hábitos e costumes das suas gentes.

“Via de regra, viagens são deslocações relactivamente longas com estadias mais ou menos demoradas em alguns destinos. Mas as viagens efectuadas pelos faluchos na ligação entre ilhas próximas, por vezes com duração de menos de uma hora, porque de poucas léguas, com movimentos de vai-e-vem, talvez não se enquadrem nesta definição. Daí os termos designado como movimentos, adequando-as à noção de crônica, narrativa curta de leitura rápida”, refere a obra.

Esta obra foi concebida durante nove meses, de Novembro de 2017 a Agosto de 2018, a partir de uma coluna na secção Cultura do Jornal Expresso das Ilhas, carregando-o com assuntos os mais variados com enfoque sobre o mar, navios e capitães das ilhas.

“Falucho é, portanto, a criação desses textos e os movimentos estruturam-se à volta de três traves: memórias e evocações, leituras e ensaios”, cita.

Segundo a escritora Ondina Ferreira, na Nota de Leitura deste livro, “tratou-se de um assunto, de uma matéria que acompanhou ao longo de séculos a vida do ilhéu cabo-verdiano. Referimo-nos à faina marítima e aos barcos que a propiciaram”.

E acrescenta que este trabalho pretende documentar, com textos e fotografias, os navios que acolheram a nossa odisseia ao sulcar o oceano atlântico, ora inter-ilhas, ora em transatlânticas viagens.

“Afinal, foram quase sempre barcos de pequena dimensão e parcos instrumentos náuticos, mas com tripulações – capitães e marinheiros – muito corajosos e temerários, uma vez que se revelam autênticos lobos-do-mar”, explica.

Para Ondina Ferreira, “Falucho” é um título simbólico, pois prefigura os navios – veleiros, lugares, palhabotes e navios a motor – que faziam outrora a cabotagem entre as ilhas e a demanda da América.

“O autor, entre memórias infantis e recordações contadas por outrem, pois que de um tempo anterior ao cronista Manuel Brito-Semedo, traz-nos de volta, ao tempo presente, algumas das histórias mais emblemáticas da aventura marítima – algumas bem trágicas – das muitas faluas e de alguns navios que circulam inter-ilhas, no passado”, salienta

Ondina Ferreira escreve que esta obra foi construída e elaborada, de forma paulatina, “graduando-se através de várias crónicas reunidas e compiladas em pouco mais de uma centena de páginas, com alguma preocupação na ordenação temporal que ao leitor se oferece para uma leitura aprazível”.

“De caminho temos, em páginas intercaladas, notícias literárias com interesse, e alguns textos/poemas alusivos ao tema – mar, marinheiro e barcos – de autores renomados e bem conhecidos como Sophia de Mello Breyner Andresen, Jorge Barbosa, Manuel Lopes, Daniel Filipe, de entre alguns dos poetas que melhor sentiram o mar na intimidade que este estabelece com o homem, ora para o bem ora para o mal”, frisa.

A apresentação da obra acontece no espaço Orla, no Quebra Canela, e estará a cargo das jornalistas Carla Lima e Margarida Fontes. A obra conta com a chancela da editora Rosa de Porcelana.

Nascido em São Vicente, Manuel Brito-Semedo é doutor em Antropologia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Professor universitário, é membro fundador da Academia das Ciências e Humanidades de Cabo Verde, da Cátedra Eugénio Tavares de Língua Portuguesa e da Associação de Escritores Cabo-verdianos.

Como escritor tem publicados dez livros, sendo os mais recentes A Advocacia em Cabo Verde – Breve Historial (2020), Morna: Música Rainha de Nós Terra, coleção de 5 booklets + CD (2019) e Representação Social do Médico em Cabo Verde (2018). Organizou ainda várias obras, como Diário, de António Pedro; Jaime, Dramaturgo, Pintor e Ensaísta; Sôdad em 80 Poema, entre outras.

Por ocasião do 35.º Aniversário da Independência Nacional foi condecorado com a Medalha do Vulcão, 1.ª Classe, em reconhecimento pela sua importante contribuição para a promoção e o desenvolvimento da cultura nacional.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1069 de 25 de Maio de 2022. 

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Autoria:Dulcina Mendes,27 mai 2022 14:00

Editado porAndre Amaral  em  10 set 2022 23:28

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