Numa conversa com o Expresso das Ilhas, o artista explica que a exposição se refere a 11 obras onde criou retratos do seu imaginário.
“São retratos de pessoas, fantasmagóricas que podem até parecer com pessoas, porque são retratos figurativos neste caso. A matriz do Tchalé é sempre a mesma, vou procurando e vou encontrando coisas e é isso que quis expressar nesta pequena exposição na Livraria Nhô Eugénio”, descreve.
Os retratos fazem parte do universo do artista que afirma que apesar de aparentemente ser uma pessoa muito calma, tem muitas coisas a dizer. Tchalé Figueira descreve como sendo uma pessoa inquieta com o mundo e com as maldades e coisas bonitas do mundo.
Por esta razão, afirma que tenta sempre encontrar formas de expressão para que as pessoas também possam reflectir na sua obra aquilo que a mesma quer exprimir.
“Porque a arte também serve para fazer com que as pessoas possam reflectir sobre a vida, sobre a humanidade, sobre os nossos medos, sobre as nossas alegrias e essas obras de facto são obras, retratos de um universo bastante peculiar”, discorre, acrescentando que são retratos que nasceram dentro dele e que mandou para fora.
O artista plástico diz ainda que talvez com a pandemia, as pessoas possam entender o seu trabalho, já que o mundo “não é feito só de coisas bonitas e de coisas muito reais“.
“Pode ser que a COVID-19 possa fazer com que as pessoas possam reflectir mais sobre o mundo. Porque o mundo não é muito bonito e temos uma situação bastante incómoda neste momento com as guerras, com as políticas que não batem certo, com ditadores disfarçados de democratas, etc.”, explica.
Mesmo no contexto da COVID-19, Tchalé Figueira explica que os retratos não têm máscaras, porque são, em si, máscaras.
“Não era preciso colocar uma máscara para simbolizar a COVID-19, porque somos todos máscaras e todos temos máscaras. O nosso universo interior é cheio de máscaras e, depende do momento, a gente põe a máscara que quer”, julga.
Tchalé Figueira diz ser um eterno aprendiz, que vai aprendendo cada dia mais a pintar ao observar outros pintores e grandes obras de arte.
“A humildade dá-nos léguas para ir aonde quisermos. Eu estou constantemente comigo mesmo, eu nunca estou só e há momentos que eu estou de facto com outras pessoas, mas os grandes momentos da vida é quando estamos sós. Mas, sozinho não quer dizer solitário”, sustenta.
O artista diz ainda que as suas obras são retratos do coração e não retratos da face. Rugas que, conforme afirma o próprio Tchalé, as pessoas têm no coração.
“Há sempre esta parte de mostrar pequenas rugas que temos no coração mas que eu, com uma certa vontade, uma certa habilidade, tenho de as pôr na cara dos meus retratos”, finaliza.
*Com António Monteiro
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 985 de 14 de Outubro de 2020.