A programação para o 8º aniversário da Livraria Pedro Cardoso (LPC) arrancou esta segunda-feira, na sua sede na Fazenda, Cidade da Praia, com um debate sobre literatura infanto-juvenil. Mário Silva, administrador da LPC, justificou a escolha do tema pela necessidade de um olhar mais penetrante sobre este género literário, pois, como realça, a sua produção não é barata e pedagogicamente exige muito esforço. “Fizemos uma grande aposta no livro infanto-juvenil, que começa a ganhar mercado em Cabo Verde. Os pais estão agora mais conscientes da importância do livro para a formação intelectual, académica e profissional dos filhos”, acrescenta.
Na quinta-feira, 21, segue-se o debate sobre o Plano Nacional de Leitura com apresentação pela própria Coordenadora Nacional, Ana Cordeiro.
“Suponho que pela primeira vez vai-se organizar um debate com escritores, pais e encarregados de educação. No dia 25 de Julho vamos realizar também uma conferência sobre o contributo dos escritos religiosos na disseminação da leitura em Cabo Verde, uma vez que os escritos religiosos assumem grande importância no país. Grande parte das famílias cabo-verdiana têm a Bíblia em casa e outros escritos religiosos, sem falar dos boletins paroquiais que são distribuídos nas freguesias e que são lidos e guardados e que trazem informações importantes para a vida da comunidade”.
Em relação ao debate sobre o Plano Nacional de Leitura, Mário Silva considerou que “o ponto crítico do Plano Nacional de Leitura está ligado ao seu próprio financiamento, porque o governo e os municípios ou não inscrevem verbas no orçamento para o livro e a leitura e no caso do governo é inscrito uma verba que é irrisória”, anotando que não basta ter um Plano Nacional de Leitura, “é necessário equacionar em termos firmes o seu financiamento”.
A este propósito interrogou-se se numa sociedade onde os privados devem ser motores do desenvolvimento, em que a iniciativa privada é constitucionalmente garantida, faz sentido “que o Estado tenha livrarias e editoras que proliferam por aí?”
“Balanço muito positivo”
Para Mário Silva o balanço dos 8 anos da Livraria Pedro Cardoso é muito positivo tendo contribuído para a divulgação da cultura cabo-verdiana em toda a sua dimensão através da realização de debates, conferências, mesas redondas, exposições e projecção de filmes. “O que é o mesmo que dizer que a Livraria Pedro Cardoso tornou-se num verdadeiro Centro Cultural da Cidade. Sem falar de jovens que vão lá estudar, fotografar páginas de livros que não podem adquirir, o que significa que a livraria tornou-se também numa sala de leitura e de estudo para aqueles que não têm melhores condições em casa para estudar”, realça.
Internacionalização do livro cabo-verdiano
O administrador da LPC destacou, por outro lado, o papel da Livraria na internacionalização do livro cabo-verdiano e na publicação de autores nacionais e autores estrangeiros que escreveram sobre a cultura cabo-verdiana. “Apraz-nos registar que demos a nossa contribuição para a internacionalização do livro cabo-verdiano. Neste momento, não só em várias livrarias portuguesas é possível encontrar alguns títulos nossos, mas também nas plataformas digitais como Wook ou Amazon”, acrescentando também o papel da LPC na agitação de consciências. “Publicamos obras sobre matérias até à data pouco comuns em Cabo Verde como um livro sobre LGBTI e um outro sobre poesia erótica, livros que eram considerados frutos proibidos. O resultado é que essas obras esgotaram-se o que vem dar razão ao ditado que os frutos proibidos são apetecíveis”, comenta.
De acordo com Mário Silva a LPC vem apostando também na publicação de títulos em crioulo e em português, por considerar que Cabo Verde caminha para o bilinguismo “e, portanto, damos a nossa contribuição para a afirmação literária do crioulo”.
“LPC está a bater recordes na publicação de livros”
Outra aposta da LPC nestes oito anos foi a realização de feiras de livros em todas as ilhas (no caso de Santiago em todos os municípios) restando apenas a ilha de Santo Antão, cujo evento já foi cancelado duas vezes devido à pandemia.
Por fim, Mário Silva aproveitou para anunciar a publicação no mês de Outubro do centésimo título da Editora Pedro Cardoso. “Para uma editora que publicou o seu primeiro livro em 2016 é algo que nos apetece ressaltar. Por exemplo, nós em 2017 publicamos 18 títulos, ou seja, a LPC está a bater recordes de publicações em Cabo Verde”, considerou.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1077 de