A instituição dessa data tem como objectivo valorizar e exaltar o batuco como um dos géneros musicais mais antigos de Cabo Verde em reconhecimento à sua importância como Património Nacional.
José Soares diz que com a instituição desta data vincou a consciência de que o batuco é o género musical mais antigo de Cabo Verde e que é cantado de Santo Antão à Brava e com maior força e predominância na ilha de Santiago, onde nasceu, mas concretamente na Cidade Velha.
Em relação a data da sua instituição, José Soares disse que como na altura não houve consenso sobre a data de nascimento de uma das cantadoras de batuco ou das batucadeiras, foi escolhido o Dia da Mulher Africana.
“Foi um trabalho muito árduo graças aos meus colegas parlamentares na altura, porque a iniciativa foi minha e de alguns colegas, mas a nossa primeira ideia era escolher a data de nascimento de uma das cantadoras de batuco ou das batucadeiras, sendo eu natural do Tarrafal pensamos logo na Nha Bibinha Cabral, nascida em Palha Carga, Achada Monte, Freguesia de São Miguel Arcanjo, concelho do Tarrafal. Pensamos também na Nha Nacia Gomi, nascida em Ribeira Principal (então Concelho de Tarrafal e hoje São Miguel) e que veio residir no concelho de Santa Cruz. Pensamos em outras datas e em muitos nomes, mas não houve consenso e entendemos que o batuco não é motivo de descenso, pelo contrário é de consenso. E na altura entendemos que se calhar em vez de escolher o nome de um ou uma batucadeira era possível conciliar a data 31 de Julho, que é o Dia da Mulher Africana com o batuco também porque as mulheres cabo-verdianas são africanas”, explica José Soares.
Conforme sublinha, foi uma escolha muito feliz, que não agrada a todos, mas que é uma data ideal para dar voz e vez ao batuco em Cabo Verde.
Candidatura a Património Mundial
Questionado sobre uma possível candidatura do batuco a património mundial, José Soares afirmou que ainda é cedo e que há muitas coisas que devem ser feitas antes disso, por exemplo, a formalização do batuco e das batucadeiras.
“Precisamos reconhecer as batucadeiras e a partir daí talvez quiçá daqui a alguns anos pensar num outro passo. Mas primeiro trata-se de consciencializar a sociedade cabo-verdiana de que batuco é tão importante como a morna, o funaná, a coladeira e que deve ser de certa forma muito mais valorizada”, assegura.
José Soares defende que precisamos valorizar mais o batuco e que não devemos deixar a cantora Madonna valorizar o batuco para que possamos valorizar a nossa alma e que devemos dar mais atenção à nossa alma.
“Eu enquanto vizinho, familiar, amigo, descendente da alma crioula do batuco, apoio incansavelmente quer a morna, o batuco, o funaná e qualquer outro género musical cabo-verdiano, mas o batuco é-me muito caro, porque nasci com o batuco, nasci com Nha Maninha Borges, com António Denti D’Oru , nasci e cresci com o batuco. Acho que nesta altura seria bom que todos nós déssemos mais atenção ao género musical, levar o batuco, por exemplo, para além dos grandes palcos”, sugere.
Conforme disse, o batuco é um bom produto turístico. ”O batuco deve estar também no pacote, nas agências de viagens, porque o turista pode querer, em vez de dar uma volta ou ouvir uma morna, pode querer ver um batuco e pode querer aprender a dançar”.
Actividade comemorativa
Para celebrar a data, a Fundação Batuku CV pretende realizar o Festival Nacional de Batuku entre os dias 30 e 31 deste mês, no Parque 5 de Julho, na Cidade da Praia. Este festival que deverá acontecer todos os anos por esta altura contará com a participação de 23 grupos nacionais e da diáspora.
Durante o festival serão realizados formações, workshops, exposição e homenagens às batucadeiras que já têm 30 anos no batuque.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1078 de 27 de Julho de 2022.