Adelaide Barreto transforma lixo em arte

PorDulcina Mendes,12 ago 2022 14:10

Aprendeu a trabalhar no artesanato em 2008 com uma amiga e nunca mais parou. Hoje, Adelaide Barreto tem a sua própria oficina em casa onde faz os seus trabalhos e tira sustento para a sua família.  

Depois de participar em várias exposições individuais na Cidade da Praia e em outros concelhos e ilhas, Adelaide Barreto resolveu apresentar a exposição “Blackart Reciclagem”, na Cidade da Praia. A mostra teve início no dia 4 deste mês e estará patente ao público até o dia 14, no Palácio da Cultura Ildo Lobo.

Nesta exposição, a artesã apresenta vários objectos feitos com plástico, jornais, búzio, pedaços de tecidos, madeira e folhas de bananeira.

Adelaide Barreto explica que deu a exposição o nome de “Blackart Reciclagem” porque é um projecto com o qual tem trabalhado com a finalidade de reutilizar os materiais que as pessoas deitam no lixo, sobretudo o plástico. “Não estou a fazer isso para mim, mas sim para todos, porque quando fazes algo para a natureza estás a fazer para todas as pessoas, porque todos nós precisamos de respirar ar puro”.

“Blackart confecciona, recicla e faz bijuterias. E esses trabalhos que estou a apresentar são feitos com plástico, pois temos muito lixo de plástico. Sabemos que o plástico não se desfaz facilmente na natureza, e isso pode ser-nos prejudicial”, frisa.

A artesã conta que tem uma oficina em casa onde faz os seus trabalhos que já apresentou em alguns municípios e ilhas do país. “Tenho uma oficina em casa onde faço o meu trabalho e tenho recebido pedidos de encomenda. Tive a ideia de fazer esta exposição de peças feitas com plástico e como é a primeira vez, estou aqui para ver a reacção das pessoas”.

“A minha ideia é recolher as bolsas de plástico que as pessoas deitam fora para fazer este tipo de trabalho. Além do plástico, usei jornais e restos de tecidos”, explica.

Segundo Adelaide Barreto, esses objectos expostos podem ser usados em escritórios ou oferecidos como prendas.

“Usamos garrafas de plástico para fazer material de decoração. Nas colónias de férias as crianças gostam desse tipo de trabalho e estou a tentar criar nas crianças o gosto pela arte. Os turistas gostam deste tipo de objectos, pelo que acho que devemos dar mais amor e valor àquilo que temos no nosso país”, sublinha.

A artesã diz que tem reciclado aquilo que as pessoas usam em casa e que, em vez de deitar fora, lhe levam para reciclar. “Blackart é proteger a natureza fazendo arte ecológica para preservar o meio ambiente e a natureza. É uma caminhada que estou a seguir e não pretendo desistir porque para mim é uma missão que tenho e gostaria de ver mais pessoas com este incentivo porque sabemos que a natureza está insuportável com tanto lixo que deitamos fora todos os dias”.

Além de fazer esse tipo de trabalho, a artesã elucida que tem dado formação nas comunidades com o apoio das câmaras municipais.

Associação “Do Lixo ao Luxo”

Adelaide Barreto explica que criou esta associação juntamente com outras pessoas com a finalidade de reciclar tudo o que é considerado lixo. “Parece que estamos parados, mas não, estamos à espera de financiamento para avançarmos com os trabalhos. Com a Associação ‘Do Lixo ao Luxo’ a ideia é montar uma fábrica de reciclagem, mas para isso estamos à procura de financiamento, tanto em Cabo Verde como no estrangeiro. Já levamos o projecto à Câmara Municipal da Praia e aguardamos resposta. Na Boa Vista levamos também o projecto e acharam interessante”.

“A ideia é sensibilizar as pessoas para a necessidade de reciclar aquilo que usamos e que deitamos fora. O Ministério das Finanças deu-nos uma boa quantidade de lixo electrónico para reciclarmos”, informa.

Além de artesã, Adelaide Barreto é também cantora, mas é com os trabalhos de reciclagem que consegue tirar algum sustento para a família.

Falta de apoios

Para Adelaide Barreto, a falta de apoios é algo que atrapalha muitos artesãos, tanto na compra de materiais como na apresentação dos projectos. “Se apresentares um projecto e não recebes apoio ficas sem fazer o teu trabalho. Acho que é da responsabilidade do governo apoiar aquilo que se faz de bom no país porque as pessoas que vêm de fora acham interessante e valorizam o nosso trabalho”.

“Há muitos artesãos que fazem trabalhos interessantes, mas não têm apoio para continuar a investir nesta área. Já dei formação em vários pontos do país e no final dizem que já têm formação, mas que precisam de kits para darem continuidade àquilo que aprenderam”, conta.

Depois da Cidade da Praia, Adelaide Barreto pretende levar os seus trabalhos à ilha da Boa Vista, onde tem já uma proposta para abrir uma loja de artesanato. “A ideia é ficar aqui na Praia e ter uma loja de artesanato na Boa Vista. Estive na Boa Vista para uma semana de exposição e foi bom. Na altura havia uma apresentação de livro e as pessoas gostaram do meu trabalho. A minha ideia é levar os meus trabalhos para todas as ilhas”. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1080 de 10 de Agosto de 2022. 

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Autoria:Dulcina Mendes,12 ago 2022 14:10

Editado porAndre Amaral  em  25 jan 2023 23:27

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