Danae Estrela Alquimista de culturas musicais em formato liberdade

PorPaulo Lobo Linhares,5 set 2022 8:31

Música e Liberdade são palavras frequentemente associadas. Livres também deverão ser os músicos quando atingem uma determinada dimensão musical, quer seja a compor, a propor ou apenas a “ser em palco”.

Se a um músico acrescermos doses de criatividade acrescidas, baseadas na curiosidade em explorar o que é seu e dos outros, tudo se torna quase que num tipo de perfeição que a música tanto gosta…

Esta semana, por ter estado de novo com a música dela e a ver o que muito devagarinho e quase que sussurrando vai fazendo, voltei em mergulho puro aos discos dela. Sim, meus amigos, chama-se Danae Estrela e um dia disse que vivemos “num tempo ki ka tem tempo”.

Danae foi provavelmente uma das primeiras figuras do que um dia foram chamadas de “novos crioulos” creio que para reforçar ainda mais a mistura musical que faziam…que na verdade já era crioula.

Lembro-me que ainda trabalhava na FNAC e ter-me chegado um disco que me foi de imediato trazido por um colega – que gostou bastante – dizendo-me tratar-se de uma voz Cabo-Verdiana. Pelo nome reconheci e, ao ouvir, vi que realmente havia algo diferente, que queria brotar. Estávamos em 2005 e o disco chamava-se “Condição de Louco”. Era cantado num tipo de “brasileiro” embalado e tinha nele um tema que desde então nunca mais esqueci. Chama-se “Meu Mar”. Danae desde essa altura já estava ligada a uma certa vanguarda musical portuguesa, pois o produtor do disco foi um dos membros dos Belle Chase Hotel – grupo de renome na altura.

A partir daí, o disco marcou presença nas escolhas dos jornalistas mais especializados e Danae aceita o piscar de olhos da música e com ela se envolve definitivamente. Nascia a Estrela – Danae…

Conforme dito, Danae inicia passeios de mãos dadas com a Música e juntas vão descobrindo pedacinhos de mundos, que provavelmente a compositora terá trazido das vivências de Cuba, Cabo Verde e Portugal – tudo em forma de música…Danae vai-se descobrindo e descobrindo-se e aos poucos com peças, cores e pinturas sonoras – vindas da formação plástica que tem – há cada vez mais preciosidade na sua criação.

Já muito mais robusta em termos da world-music e do experimentalismo, optando pela produção independente, lança “Cafuca” com o grupo “Novos Crioulos” (que feliz nome que acaba por traduzir muito do que se passaria no disco e além-Danae. Nele dois Cabo-verdianos – Danae e Danilo (ex- membro dos Rafilon e actual dos Fogo) e dois alemães: Raimund – tablas e Johannes – trompete. Assim, pela formação, nota-se que, apesar das raízes bem finkadu em Cabo Verde, o resultado é de fusões altamente criativas onde claramente cada mundo-músico dava o que tinha para um todo muito intenso. Para mim, o grande momento de Danae Estrela em termos discográficos.

image

Em 2020, no período da COVID, lança o álbum “Num Tempo Ki Ka Tem Tempo” – um álbum em que não só canta em crioulo, mas também em espanhol.

Contudo entre “Cafuca” e “num Tempo Ki Ka Tem Tempo” muitos espetáculos particulares e intimistas fez, (e como lhe fica tão bem este formato) nos mais variados formatos e em palcos acolhedores de formatos mil.

Cabo Verde teve a sorte de receber Danae a apresentar os dois últimos álbuns em espetáculos em parceria com a inSulda e numa actuação no AME.

Conforme iniciei o artigo, acredito que Danae estará em fase de laboratório e experiências diversas, culturalmente sempre ricas, mas onde a flor que fica no topo da construção tem a marca CV.

Nós cá te esperamos…

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1083 de 31 de Agosto de 2022. 

Concorda? Discorda? Dê-nos a sua opinião. Comente ou partilhe este artigo.

Autoria:Paulo Lobo Linhares,5 set 2022 8:31

Editado porAndre Amaral  em  5 set 2022 16:26

pub.

pub
pub.

Últimas no site

    Últimas na secção

      Populares na secção

        Populares no site

          pub.