Segundo os significados dos dicionários musicais a palavra crooner é derivada do antigo verbo "to croon" (que significa falar ou cantar baixinho). Também está ligado ao mundo do Jazz e normalmente carregado de romantismo, contados e cantados pelas letras e pelo estar sedutor do cantor.
Ora, se fizermos aqui uma ligeira alteração no tal falar ou cantar baixinho , para cantar não só músicas mais calmas, mas também as mais mexidas ( …bem na verdade no jazz, frequentes no swing…) e se ligarmos tudo isso as sonoridades da música cabo-verdiana (tradicional porém com instrumentações cuidadas e contemporâneas) a coisa começa a tomar forma…se o ar de sedutor se mantiver e lhe acrescentarmos uma boa dose de atitude mais brincalhona ou alegre (conforme preferirem ao ouvir o músico em causa) quase finalizamos a pintura, que acrescentando a isso tudo uma presença em palco de imagem-marca própria – que o preenche e rapidamente contamina – teremos o nome de Mário Marta. Vai aos mais variados ritmos de Cabo Verde e sem receio de arriscar, fá-lo bem (provavelmente um dos músicos da nova geração com maior versatilidade nos mais diferentes géneros musicais) fazendo assim com que tenhamos o que penso ser o nosso crooner kriolo - Made in CV. Nesta edição dos CVMA foi bom vê-lo ganhar um dos prémios – o de Melhor Funaná, num cantor que começou nas mornas e coladeiras. Marta é excelência da representatividade do tradicional de Cabo Verde no seu todo.
Por falar em tradição e aproveitando para repetir a sábia frase do mestre “ka boses dxa morre, folklor di nox tera” - onde acrescentava eu, que também se redobrem alguns cuidados no que no folclore se tem feito e do que hoje se denomina de tradicional – inclusive em prémios atribuídos... Foi bom também ver o prémio Melhor Coladeira. Se há pouco falei dos crooners, agora vou às divas. E sabe bem ver a coladeira representada por Diva Barros e a bela e tradicional (essa sem dúvida nenhuma) voz de Nancy Vieira, com a morna “Sabu” do disco Alma, onde realço ainda ser o trabalho discográfico que nele tem a última melodia do homenageado Antero Simas – o tema Alma, que dá nome ao disco. É bom ver poemas musicados como aconteceu neste ALMA, com os poemas de José Maria Neves.
Chapelada para a “Resiliência” de Batchard. Sim, em cheio. Não serão as mensagens um dos blocos básicos da “pirâmide” – música? Não tenho dúvidas. E quanta mensagem neste “Resiliente”. Tenhamos tudo isto em conta e realmente - recorrendo à “mensagem” de Batchard aquando da entrega do prémio – questionemos, pois, a durabilidade/validade/vulgarização desta palavra…
Se a mensagem é importante na música e esta é sem dúvida um dos maiores meios de fazer passar informação, a defesa de causas não é menos pertinente, quando as causas são sérias e pedem ajuda à música que lhes sirva de facilitador.
Neusa, falou do que defende, e que aos poucos vai crescendo e sendo passado com a ajuda da música. Que floresçam as tuas defesas Neusa, pois bem precisamos de associações como a tua. No prémio Melhor Hip-Hop, também se viu a defesa de causas no tema vencedor “Strada” – Rapaz 100 Juiz feat Fattú Djakité.
Houve convidados. Ficou a vontade de ver mais de James dos Reis.
Para finalizar, à imagem do espetáculo, o nome de Antero Simas, num momento musical tão bem cantado pelas quatro vozes escolhidas, poderia ter sido feito com maior altivez e robustez. Fica aqui a referência à intenção bonita e do mais pertinente possível para a escolha do nome de um dos mestres da nossa música…
Texto publicado originalmente na edição nº1089 do Expresso das Ilhas de 12 de Outubro