Em declarações à Inforpress, o poeta cabo-verdiano radicado em Portugal avançou que a obra galardoada foi escrita em Março/Abril de 2020, durante o primeiro confinamento, e retomada em Fevereiro de 2021, enquanto o autor padecia de infecção pela COVID-19.
“Não sendo uma obra sobre esse evento planetário, esse serviu, no entanto, ao autor de mola desencadeadora dessas antipoéticas, desencantadas, mas sempre lúcidas, visões do mundo e do homem lançado no mar da existência”, explicou o poeta que, esta sexta-feira apresenta, em Lisboa, o livro “Uma Pedra Contra o Firmamento” e no sábado “De Neve e de Bruma”
José Luiz tavares considerou que a obra “Perder o Pio a Emendar a Morte” é, de um certo modo, “tributária das leituras” que o autor foi fazendo durante esse período, nomeadamente “o grande poeta e ensaísta alemão”, Hans Magnus Enzensberger, (falecido há poucos dias), Nicanor Parra, o iconoclasta chileno e inventor da chamada antipoesia, Daniil Harms, Stig Dagerman, E.M. Cioran, Nietzsche, Kierkegaard, Arno Schmidt e Alberto Pimenta.
Ao prémio concorreram cerca de seis centenas de obras e o volume agora distinguido será editado em meados do próximo ano pela The Poetry and Dragons Society.
Esta é a segunda distinção concedida ao poeta cabo-verdiano este ano em Portugal. O mesmo já tinha sido agraciado em Outubro com a Bolsa de Criação da Fundação Eça de Queirós, tendo, no rescaldo noticioso, o poeta alertado para a inexistência de políticas públicas consistentes para o livro e a leitura em Cabo Verde, ao que o ministro da Cultura retorquiu acusando o poeta maior de viver de Prémios.
“A reacção do poeta, contundente como sempre, não se fez esperar, em texto publicado num jornal cabo-verdiano, sem resposta da parte do ministro”, lembrou.
Depois da apresentação hoje, no Centro Cultural de Cabo Verde em Lisboa, da obra “Uma Pedra Contra o Firmamento”, José Luiz Tavares dá a conhecer ao público, no sábado e no mesmo espaço, o livro de poesia dedicado à filha “De Neve e de Bruma “, editado sob a chancela da Gongon Cartoneira.
Escrito durante a primeira década do presente milénio, para a sua filha, então criança, “De Neve e de Bruma” é, segundo o autor, a primeira obra em verso escrita para leitores dessa faixa etária, em português ou em língua cabo-verdiana, o que não a impede, sublinhou, também de ser uma obra para graúdos, como sucede no Brasil, onde foi premiado em 2009 pelo Ministério de Educação num concurso destinado a obras para neo-leitores, intitulado Literatura para Todos.
“Tomando como motivo um tempo específico, o Natal, recordando sobretudo os natais da sua infância, o autor faz o trânsito entre a fabulação e as peripécias existenciais, abordando situações e assuntos, os mais diversos, numa construção elaborada, onde a métrica e a rima conferem uma musicalidade, não de embalar, mas que acorda o leitor quer para as peculiaridades da linguagem poética, quer pela candência (por vezes de tom disfarçadamente filosófico) de alguns dos temas abordados”, explica a nota de apresentação da obra.
Escritos originalmente em português, os poemas, ainda segundo o documento, ganharam “notáveis versões em língua cabo-verdiana, o que o torna um objecto estético e didáctico único (no momento em que a língua cabo-verdiana é introduzida, ainda que de forma tímida, no ensino secundário em Cabo Verde), quer para os mais jovens, mas também para os mais crescidos”.
José Luiz Tavares nasceu no Tarrafal no dia de Camões, 10 de Junho, em 1967. Publicou 19 livros, recebeu inúmeros prémios no estrangeiro e em Cabo Verde, e está traduzido para diversas línguas.
“De Neve e de Bruma” é o primeiro de um conjunto de cinco livros infantis e dois juvenis escritos para a sua filha no início da década, mantendo-se todos inéditos, até agora.