​Kassanaya apresenta exposição “Circum Navegando a Pedra” em Portugal

PorDulcina Mendes,1 mar 2023 13:47

O escultor cabo-verdiano, José Brazão, de nome artístico Kassanaya está em Portugal para apresentação de uma exposição intitulada “Circum Navegando a Pedra”. A exposição acontece esta quinta-feira, 02, Centro Cultural de Cabo Verde. Kassanaya tem apresentado as suas esculturas em pedra em alguns pontos do país.

A exposição Circum Navegando a Pedra, segundo uma nota da Embaixada de Cabo Verde em Portugal, é uma viagem retrospectiva pelos trabalhos que Kassanaya tem realizado nos últimos anos, especialmente dedicados à pedra cabo-verdiana, em particular ao basalto.

“Um dos aspectos mais evidentes a sublinhar nestas obras, é a relação central com uma das mais poderosas temáticas do imaginário poético e simbólico cabo-verdiano, o mar.

Neste particular, destacaram, pela ousadia plástica, desafio formal, efeitos cinéticos e materialização criativa, a peça `Mar Sunhadu`, onde é notória a presença do artesão, nos elementos decorativos, e na solução compositiva, sugestões à obra do escultor Alexander Calder”, aponta.

A mesma fonte realçou que em muitas das obras que estão em exposição mostra um forte potencial plástico a pedir transposição para o espaço público em escalas mais ambiciosas, “o que implicaria uma relação mais próxima dos escultores com os arquitetos, urbanistas e paisagistas, considerando a vocação natural de complementaridade estética entre estas disciplinas, mas também por uma mudança radical na relação do público (institucional e privado) com a arte em geral, e com a escultura, em particular”.

Conforme explicou o que torna a actividade artística de Kassanaya relevante, é a regularidade e a persistência com que mostra os seus trabalhos, numa “teimosia lúcida” de quem atravessa, quase sozinho, o deserto de uma verdadeira “peregrinação” pela pedra.

Por outro lado, indicou que o que o singulariza, é esta constante vontade de experimentar novos materiais (conchas, chifre, carapaça de tartaruga, coco e desperdícios diversos – ausentes nesta exposição), de explorar formas sem se submeter a escolas ou correntes, de se exprimir em linguagens e estilos tão diversas como o abstrato e o figurativo, o geométrico e antropomórfico, numa gramática estética ampla que vai do “popular” ao “erudito”, dos materiais “nobres” à “arte povera” (está a partir de materiais reciclados).

E que em Kassanaya, o artesão e o escultor andam sempre de mão dadas, dialogando e contagiando-se mutuamente. Esta exposição conta com a curadoria de José Eduardo Cunha.

Natural da Cidade da Praia, onde reside e exerce a sua actividade artística desde 2014. O artista desenvolve uma intensa actividade criativa, pluridisciplinar, cuja prioridade centra-se hoje na produção de esculturas em pedra.

No entanto, é conhecida a sua polivalência, capaz de conciliar projectos criativos aparentemente inconciliáveis, aos quais se dedica com igual empenho e profissionalismo, seja, enquanto artesão, na arte de caráter mais popular como o artesanato, a “joalharia alternativa” (por influência do avô paterno, conhecido artesão-ourives), seja, na arte mais elaborada e exigente, com a escultura.

É em Cabo Verde que Kassanaya desperta para a vida artística, começando, de início, pelo artesanato decorativo através da transformação de materiais e matérias-primas naturais, como a casca de coco, o marfim, a carapaça de tartaruga, ossos de baleia e chifres. É como artesão e pela qualidade dos objectos que cria, que chega o primeiro reconhecimento, com a participação em feiras internacionais no Senegal, Nigéria e Portugal.

Em 1981 viaja para Portugal para dar continuidade aos estudos e aprofundar a sua formação. O contacto com outros artistas, outras culturas, outras realidades e práticas criativas vão ter um efeito catalisador no seu percurso estético, e na sua evolução técnica, promovendo, naturalmente, um salto qualitativo na sua carreira.

Em 1983 regressa a Cabo Verde para um novo e estimulante desafio pessoal e profissional. Integrou-se no ensino como monitor Especializado de Trabalhos Manuais do ciclo preparatório, nas cidades de Praia e Assomada.

Em 1991 regressa a Portugal, e com base na experiência vivida em Cabo Verde com crianças e jovens, envolve-se em projectos socioculturais nos bairros degradados e de realojamento social da periferia de Lisboa. Uma nova vocação desperta, quando se propõe trabalhar a pedra.

Nascia assim o escultor. Longo, estreito e solitário tem sido o percurso de Kassanaya. Contratempos, contrariedades e injustos esquecimentos têm constituído o caminho de pedras que ele tem vindo a trilhar, cuja resposta tem sido sempre a mesma, incansável nos desafios e perseverante no trabalho, peça a peça, exposição a exposição, percurso que vem sendo percorrido ao longo dos últimos 30 anos. 

Através das suas esculturas ele busca captar o perfil de um rosto, os rumores de um destino e os sinais de uma simbologia mítico-poética através da pedra tosca de um espelho desfocado que o tempo teima em polir incessantemente, olhar sobre nós próprios, sobre essa peregrinação existencial, que alguém um dia chamou, acertadamente, aventura crioula. 

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Autoria:Dulcina Mendes,1 mar 2023 13:47

Editado porAndre Amaral  em  20 nov 2023 23:29

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