“Em reconhecimento por todo o trabalho realizado pelo New Bedford Whaling Museum, pelo trabalho de estímulo, rigor e abnegação em prol do conhecimento histórico-científico e da sua promoção e generalizada divulgação”, lê-se no decreto presidencial que condecora o museu com o primeiro grau da Ordem do Dragoeiro, publicado esta quarta-feira.
No texto do decreto presidencial, consultado pela Lusa, é recordado que em Cabo Verde, arquipélago localizado no meio do Atlântico e com uma “localização natural entre as rotas marítimas”, aliado às “características e ao potencial de exploração da riqueza do seu mar, tudo se conjugou” para que a partir de 1680 “fosse ponto de escala e de aprovisionamento para navios dedicados à safra da baleia”.
“A sua presença era regular e numerosa. Ainda até aos inícios do século XX esta actividade económica foi quase exclusivamente prosseguida por baleeiros ingleses e americanos, e até franceses. A advertência de historiadores e naturalistas para que a coroa portuguesa assumisse implantação do negócio de exploração baleeira não teve eco. Ou só o teve já muito tardiamente”, recorda o documento.
O Presidente realiza de 31 de Março a 05 de Abril, nos EUA, a sua primeira ‘Presidência na diáspora’, incluindo um encontro com membros da comunidade cabo-verdiana no país, a ter lugar no Museu da Baleia de New Bedford.
Em comunicado, a Presidência da República explicou anteriormente que a “escolha da mais antiga e numerosa comunidade cabo-verdiana no estrangeiro” para a primeira iniciativa do género no mandato de José Maria Neves, iniciado em Novembro de 2021, representa “uma justa homenagem” a toda a emigração.
A população de Cabo Verde ronda os 500 mil habitantes, mas o Governo estimou recentemente que mais de um milhão e meio de cabo-verdianos vivem na Europa e nos EUA, estando o sistema financeiro do arquipélago dependente das remessas desses emigrantes.
O decreto com a condecoração acrescenta que o recrutamento de cabo-verdianos para o trabalho na indústria baleeira, a partir do século XVIII, “fez chegar os primeiros fluxos migratórios a New England e resultou no êxodo de um grande número de cabo-verdianos, pois que assim se abria uma oportunidade de sobrevivência para uma população duramente fustigada pelas agruras da natureza, designadamente as secas e a estiagem, e pelo descaso do poder colonial então vigente”.
O documento refere que “esses cabo-verdianos fixaram-se em diferentes cidades norte-americanas, particularmente de New Bedford e outras da zona costeira”, tendo “desde sempre se empenhado em construir melhores condições de vida e consequente ascensão social para si e suas famílias”.
“As condições de trabalho, tanto no mar como em terra, eram extenuantes, mas laboriosos que eram esses cabo-verdianos, exerceram as mais diversas profissões, procurando sempre assegurar aos filhos as oportunidades de formação que não tiveram, sempre tendo em mente os familiares que ficaram para trás”, lê-se.
“Primeiro povo africano a ir para os Estados Unidos voluntariamente, na condição de emigrantes documentados, ou seja, sem a grilheta da escravatura, esses cabo-verdianos foram protagonistas heróicos e tenazes de um processo migratório que, com toda a dinâmica social e cultural subjacente, foi vital para o desenho do que é hoje a nação global cabo-verdiana”, acrescenta-se.
Após a “crise da indústria da baleia, por volta de 1924”, os cabo-verdianos “foram-se desviando para outras áreas e actividades, algumas até relacionadas com o mar, continuando deste modo a marcar presença em cidades como a de New Bedford”.
Fundado em 1903, o Museu da Baleia de New Bedford “é o maior do mundo na sua área específica e desenvolve um trabalho pioneiro, intenso e abnegado de registo, interpretação e divulgação do papel que a indústria baleeira exerceu para o progresso da humanidade e, em particular, para a sociedade e a economia americanas”.
“Parte importante desses registos e do trabalho de iluminação da história é também relativa à contribuição dos cabo-verdianos nesse processo. Deste modo, render preito ao New Bedford Whaling Museum é também uma homenagem a todo esse ‘camin di mar’ que permitiu o movimento migratório das nossas ilhas para a América e tornou possível esta relação tão singular entre uma potência e um pequeno arquipélago”, justifica o chefe de Estado.