Segundo a promotora uma novidade da CENA para este ano é a realização do concurso para a produção de textos críticos de cinema. “Estamos a estimular junto dos estudantes a análise crítica dos filmes e a produção de textos de crítica de cinema. Os alunos serão desafiados a assistir a esses filmes que são sobretudo curtas-metragens de realizadoras cabo-verdianas. Os três melhores textos vão ser premiados”.
Durante a CENA serão exibidos um total de 15 filmes. Conforme anunciou Chissana Magalhães, a CENA este ano terá participação masculina, “não só entre os alunos para a participação no concurso, mas também em alguns outros momentos. Por exemplo vamos ter uma sessão de debate/conversa no Centro Cultural Português, na sexta-feira, dia 12, em que vamos ter vozes masculinas entre os oradores”.
A CENA, de acordo com Chissana Magalhães, terá a participação da produtora e cineasta Natacha Craveiro. “Ela será uma das conferencistas, vai abordar a questão da produção para cinema para estudantes universitários”.
Para esta edição estava inicialmente prevista uma parceria com uma mostra de filmes africanos do Brasil, que não se concretizou devido a diferenças criativas. “Infelizmente não foi possível avançar com esta parceria, chegamos a iniciar as conversações para iniciar o trabalho, mas por uma questão de diferença de perspectivas essa parceria não se concretizou, mas temos parceiros nacionais e uma equipa pequenininha que está a colaborar neste evento”.
Ariene Lopes, Claire Andrade-Watkins, Chissana Magalhães, Emilia Wojciechowska Georgina Fernandes, Grace Ribeiro, Inês Alves, Katya Aragão, Lara Plácido, Lara Sousa, Mónica de Miranda, Natacha Craveiro, Patrícia Silva, Samira Vera-Cruz, Sonia Diaz e Teodora Martins são as realizadoras dos filmes seleccionados pela curadoria da CENA 2023.
A organização informou que na sua 2ª edição a CENA internacionalizou-se, acolhendo a participação de alguns cineastas dos PALOP. As actividades vão decorrer nos auditórios da Universidade de Cabo Verde e do Centro Cultural Português da Praia.
O arranque da programação da CENA 2023 está agendado para o dia 11, no auditório 101 da Uni-CV, com oficinas, palestra sobre produção cinematográfica e a primeira sessão de filmes.
“A CENA é … Curtir a Curta”, uma sessão particularmente desenhada para os estudantes, que serão desafiados a escrever uma análise crítica sobre algum dos filmes visionados. No mesmo dia, à noite, o Salão Beijing acolhe a sessão oficial de abertura em que decorrerá uma homenagem à actriz e intelectual Elisa Andrade, falecida em 2021.
Para os dias 12 e 13 estão reservadas para a exibição de filmes de realizadoras dos PALOP e de Portugal e Espanha, no auditório do Centro Cultural Português – Instituto Camões.
Na sexta-feira, 12, a sessão abre com uma conversa em torno do futuro do cinema africano, com as participações do produtor Pedro Soulé, dos cineastas Vanessa Fernandes e Yuri Ceunick, com moderação do sociólogo Redy Lima.
De lembrar que a primeira edição da CENA aconteceu no início de Março de 2020, na Cidade da Praia, e estendeu-se por dois dias, com o propósito de destacar as mulheres no cinema cabo-verdiano e incentivar mais mulheres a enveredar pela área.
“Foram exibidos filmes dirigidos por oito cineastas cabo-verdianas (metade delas da diáspora), entre curtas e longas metragem, documentário e ficção. De assinalar o facto de que praticamente todas as convidadas eram já realizadoras premiadas em competições no país ou no exterior”, destaca.
Em Março de 2021, com o desafio ainda presente do coronavírus, Mindelo foi a cidade anfitriã da CENA. A programação concretizou-se maioritariamente online (filmes e debates) mas a Uni-CV, em São Vicente, acolheu também sessões e oficinas para estudantes.
A homenageada
Elisa Andrade (1938 – 2021) foi, em 1972, convidada pela realizadora Sarah Maldoror (1929 − 2020) para protagonizar o célebre filme “Sambizanga”, baseado na obra literária do escritor Luandino Vieira, “A Vida Verdadeira de Domingos Xavier”.
A relação profissional de Luandino Vieira com a cineasta francesa com ascendência guadalupenha iniciou em 1968 com a curta metragem “Monangambée”, adaptação do conto “O fato completo de Lucas Matesso”, também de Luandino Vieira, e onde a actuação de Elisa Andrade deixara tão boa impressão quanto a sua beleza, tendo sido batizada “Diamante Africano”.
Elisa Silva Andrade integrou o grupo de estudantes de Angola, Moçambique e Cabo Verde que, em 1961, protagonizou a grande evasão de jovens quadros africanos de Portugal para França a fim de integrarem as fileiras dos movimentos nacionalistas.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1118 de 3 de Maio de 2023.