Preocupado com os problemas sociais, em 2007, Hélio Batalha enveredou-se pelo mundo da música, sempre com a ambição de melhorar e de fazer a sua parte para resolver os problemas.
“Sempre fui um rapazinho inquieto e preocupado com os problemas sociais e tive sempre a ambição de melhorar e de fazer a minha quota parte, para resolver e trazer a solução dos problemas, e sinto que o rap é uma arma perfeita para comunicar, falar e expressar tudo aquilo que sinto ou que o meu povo sente”, afirma o rapper.
Por isso, Hélio Batalha disse que não escolheu o rap, mas sim foi o rap que o escolheu, para ser um agente que fala “sobre nós”.
“Desde 2007, o meu trabalho foi neste sentido. Cada obra, CD, EP tentam informar, tratar de assuntos pertinentes e tentar trazer vibração positiva para as nossas ruas que tanto precisam”, sublinha.
Com a chegada do seu primeiro álbum, “Karta D`Alforia”, Batalha conquistou vários fãs e pisou vários palcos. E hoje em dia, é um dos rappers mais aclamados do país.
Novo álbum
Para Hélio Batalha, “Di Cairo a Cabo” é uma continuação de todas as mensagens que tem estado a passar desde o início da sua carreira, que é a contestação social de um jovem preocupado com a realidade, que tenta abordar temáticas para consciencializar, para trazer informação para a nossa comunidade.
Neste caso, “Di Cairo a Cabo”, como afirmou, traz uma particularidade muito mais importante que uma aproximação de uma sonoridade africana. “No `Di Cairo a Cabo` tentei tornar o meu rap mais endógeno, com ritmos que são nossos, onde temos a morna, traços do funaná, amapiano, afrobeat. `Di Cairo a Cabo’ é isso, e tudo isso acaba por desembocar numa mensagem de aproximação cada vez mais com o continente e com tudo aquilo que é nosso”.
O rapper assegurou que a inspiração vem do dia-a-dia, da necessidade que temos de cada vez mais de preservar a nossa cultura, e dar a devida importância à nossa cultura.
“Como rapper e jovem artista sinto a necessidade de trazer para os meus contemporâneos um pouco daquilo que se está a fazer ou que já foi feito no cenário musical cabo-verdiano e africano”, refere.
Hélio Batalha explicou que este é primeiro projecto neste sentido, mas que terá continuação. “Quero cada vez mais aprofundar-me na música africana, quero morna, funaná, mazurca, tabanca, afrobeat. Quero tornar a minha arte cada vez mais africana. No álbum temos um Hélio cada vez mais maduro, na ideia e na música, não diferente, mas um Hélio cada vez mais próximo do seu objectivo”.
“Do álbum fui buscar não só nossos sons, mas também a temática que tem a ver connosco, Cairo, cidade no Egipto, e Cabo, na África do Sul. É um lado do continente ao outro lado do continente. ‘Di Cairo a Cabo’ não só na sonoridade e musicalidade mas também nas mensagens, tentar falar de nós, na ideia de tentar preservar a nossa cultura”, aponta.
Carreira musical
Hélio Batalha garante que a sua carreira musical está de vento em popa e que todos os dias está a ter mais vitórias. “Desde que lancei o meu primeiro álbum `Karta d`Alforia` foi só a pandemia que me parou, e hoje estou muito mais consolidado. Já lancei `Di Cairo a Cabo` e o feedback está muito alto, consegui abrir várias portas e de certeza tudo isso é fruto de muito trabalho e dedicação não só meu, mas de toda a malta que colabora comigo”.
Serviço Social
Hélio é formado em Serviço Social, mas não chegou a exercer a profissão. “Quando terminei a minha formação superior logo o meu álbum veio a ter um grande impacto e comecei a fazer concertos em vários sítios e nunca exerci a profissão”.
O rapper afirma que sente que pode oferecer muito mais como artista, “mesmo na minha arte sou basicamente um assistente social. Tento sempre buscar direitos e falar dos direitos da nossa gente, basicamente é trabalho de um assistente social”.
Sobre os shows, disse que em Cabo Verde praticamente já participou em vários festivais. “E continuo a fazer trabalhos dignos de ir a outros palcos. O maior palco que quero pisar é o coração de cada pessoa que ouve a minha música, que sente a minha mensagem e se inspira com as minhas mensagens”.
Hip Hop crioulo
Para Hélio Batalha o hip hop crioulo está a evoluir. “Já conseguimos abrir várias portas e com o trabalho de maltas que já tem muito tempo nisso e dos novos que estão a surgir têm estado a valorizar cada dia mais”.
“Hoje estamos a ocupar grandes festivais, estamos a ter um impacto social enorme, hoje hip hop é o género mais consumido em Cabo Verde. Então estamos no bom caminho. Obviamente o movimento hip hop é um movimento embrionário em Cabo Verde”.
Sobre os desafios que os rappers cabo-verdianos têm pela frente, Hélio Batalha revelou que na sua trajectória, o objectivo que quer atingir é tornar o seu hip hop/ rap cada vez mais cabo-verdiano e africano.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1120 de 17 de Maio de 2023.