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Este livro pioneiro da herança judaica em Cabo Verde documenta a história dos judeus marroquinos no arquipélago particularmente nas ilhas de Santiago, São Vicente, Boa Vista e Santo Antão e explica os motivos económicos e políticos desse movimento migratório bem como as relações dos judeus com a igreja católica, com as autoridades coloniais e com os cabo-verdianos comuns.
“Embora os judeus tenham vivido em relativa harmonia com árabes muçulmanos e berberes em Marrocos, durante mais de 2.000, e os judeus sefarditas tenham encontrado refúgio lá, depois de 1492, muitos judeus de Tânger, Tetuão, Rabat e Mogador partiram com destino a Cabo Verde, em meados do século XIX”, escreve a coordenadora da obra no prefácio.
Carol Castiel revela ainda que o livro é o primeiro passo para um melhor entendimento das correntes históricas que trouxeram judeus marroquinos e do Gibraltar para Cabo Verde.
“Esperemos que este livro possa gerar mais pesquisas sobre este capítulo importante e, até então, desconhecido da história de Cabo Verde e da Diáspora Judaica Global”.
A apresentadora do livro, Sofia de Oliveira Lima, reforçou esta ideia, mostrando-se convicta de que a obra constitui um documento histórico importante para Cabo Verde. “Nessa medida, também estou em crer que ela terá interesse para a comunidade académica cabo-verdiana”.
Sofia Lima fez lembrar que o orgulho que os cabo-verdianos demonstram na sua ascendência judaica é um símbolo de honra para os descendentes dos judeus que aportaram a Cabo Verde no século XIX, mesmo que não existido nas ilhas uma comunidade judaica, nem uma única sinagoga.
“Os principais (e praticamente únicos) vestígios físicos deixados por estes judeus marroquinos (e por alguns que nasceram na zona de Gibraltar) são os quatro cemitérios sefarditas: dois na ilha de Santo Antão, um em Boa Vista e um no cemitério cristão na capital, na Praia. Estes quatro cemitérios contêm cerca de 32 lápides, com, pelo menos, mais uma dúzia de lápides espalhadas por outras ilhas, principalmente por São Nicolau”, enumera Sofia Lima.
Quem é Carol Castiel?
Presidente do Projecto de Preservação da Herança Judaica em Cabo Verde (CVJHP, da sigla em inglês), Carol Castiel é jornalista internacional de rádio Voz da América (VOA), desde 1999. Antes de trabalhar na VOA, foi consultora/jornalista freelancer especializada na promoção do comércio e investimento entre os Estados Unidos e a África. Foi também editora/colaboradora da West Africa Magazine e administrou bolsas para o programa África de Língua Portuguesa, no Instituto Afro-Americano (AAI), entre 1984 e 1992.
Carol Castiel fundou, em 2007, o Projecto para a Preservação da Herança Judaica em Cabo Verde. Esta ONG honra a memória e documenta o legado dos judeus sefarditas que emigraram de Marrocos e Gibraltar para Cabo Verde, no século XIX.
Os autores
A primeira parte do livro, (Judeus em Portugal e na Diáspora – Marrocos e Cabo Verde), da autoria de José Alberto da Silva Tavim, traça a história dos judeus de Portugal, muitos dos quais encontraram refúgio em Marrocos, após o fim da Inquisição, e cujas raízes se entrelaçam com as dos judeus de Cabo Verde. José Alberto da Silva Tavim é doutorado em Estudos Portugueses e investigador e professor no Centro de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
A segunda parte do livro (Judeus de Marrocos e de Gibraltar em Cabo Verde, no Século XIX), da autoria de Ângela Benoliel Coutinho, explora os motivos económicos e políticos desse movimento migratório para Cabo Verde.
A segunda parte do livro é o resultado de anos de investigação arquivística, em Portugal, em Cabo Verde, em Londres, em Gibraltar e em Marrocos e foi encomendada e financiada pela CVJHP, no âmbito de um contrato celebrado entre a historiadora e a CVJHP. Ângela Coutinho é doutorada em História Contemporânea de África pela Universidade de Paris, Pantheon-Sorbonne.
“Os Judeus Marroquinos de Cabo Verde – Século XIX” foi apresentado em Lisboa, na passada terça-feira, 23, no Centro Cultural de Cabo Verde e contou com a presença dos embaixadores Eurico Monteiro (Cabo Verde), Randi Charno Levine (Estados Unidos) e Othmane Bahnini (Marrocos).
A apresentação do livro na Praia contou com a presença de um amplo público, particularmente de descendentes de famílias judaicas radicadas na ilha de Santiago.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1122 de 31 de Maio de 2023.
