Zubikilla Spencer “O meu sonho não é ter muita fama, mas é participar dos festivais em todos os lugares”

PorDulcina Mendes,27 jul 2023 9:05

Esta quinta-feira, 27, a cantora Zubikilla Spencer vai apresentar o seu primeiro EP, um trabalho que chega depois de alguns anos no mundo da música. O EP (Extended Play), intitulado “03:04” surgiu depois de um investimento pessoal que a cantora fez. A apresentação do EP será esta quinta-feira, 27, no Centro Cultural Português, na Cidade da Praia.

Filha de um dos mais conceituados compositores da música cabo-verdiana, Daniel (Nhelas) Spencer, a cantora teve muito cedo o seu contacto com a música, não só através do pai, mas ainda com aulas de guitarra clássica, factos estes que lhe foram, aos poucos, construindo o que a cantora e compositora tem de mais precioso: a sua criatividade pautada por uma liberdade de expressão que a torna uma figura de palco.

Zubikilla Spencer começou com a tocar flauta, seguiu para piano e depois encontrou na guitarra uma cumplicidade sem fim. Mas antes, quando via o seu pai a tocar guitarra Zubikilla Spencer achava impossível tocar aquele instrumento musical, mas quando uma amiga foi ter aula de guitarra e a viu tocar, pensou e disse se ela conseguiu eu também vou conseguir. E conseguiu e hoje a sua guitarra é a sua grande aliada.

“A minha guitarra está sempre comigo, antes sempre que viajava levava a minha guitarra comigo. Mas, antes, quando via o meu pai tocar a guitarra achava que era impossível para mim, só que um belo dia a minha melhor amiga resolveu tomar aula de guitarra com o meu pai, e vi a tocar foi de lá que disse se ela consegue eu também consigo. Ainda mais tenho esse dom no sangue”, frisa.

Por encontrar a música em casa, quando terminou o liceu queria seguir a carreira musical, mas achou que deveria estudar primeiro e só depois se aventurar no mundo da música. “Quando terminei o liceu queria fazer a música, mas tive que prosseguir com os meus estudos, porque a música em Cabo Verde não dá, pois, o nosso país é pequeno, depois somos ilhas, ainda se tivéssemos todas as ilhas juntadas num território seria diferente”.

Além do país ser pequeno, a cantora afirmou que muitos dos nossos artistas que estão com sucesso tiveram que sair do país ou mesmo ter uma produtora que o ajudasse a fazer a sua carreira brilhar. “Se és conhecido aqui, é só aqui que é conhecido, ou tem que ter uma produtora grande para te fazer ser mais conhecida. Ou tens que sair para fora para veres se dá, muitos artistas fazem isso, muitos que estão com sucesso vivem fora do país”.

A cantora disse que, no seu caso, se tivesse saído teria perdido muita coisa, por isso não saiu. “Se tivesse saído teria perdido muito, então gosto de estar cá, mas vou tentar sair, pois, se não tentar agora que tenho material para mostrar, mais tarde vai ficar muito difícil. Mas, já perdi um festival no Brasil e no México, porque não tinha material para mostrar, e muitas pessoas que me viram a cantar gostaram, mas sem material para dar fica difícil”.

“Mas agora com o material quero ver se consigo ir aos festivais, o meu sonho não é ter muita fama, mas é participar dos festivais em todos os lugares, para sentir aquela cultura, quero conhecer a cultura e trocar experiência de músicas com outros artistas. O meu objectivo final é ser artista de festivais e continuar a trabalhar como intérprete/ tradutora, porque adoro a minha profissão”, afirma.

Trabalho discográfico

Há alguns anos a cantora tinha anunciado este EP que chega agora, depois de muita luta e persistência. A cantora conta que este trabalho é algo muito especial na sua vida, mas não quis detalhar muito, porque quer que as pessoas descubram durante o show na quinta-feira.

Trata-se de um EP de sete faixas musicais que traz temas em crioulo, inglês e estilos como hip hop, zouk e outros.

“Este é um resultado de muita luta minha, há muito que digo que vou lançá-lo, mas não encontrei patrocínio e tive um momento que passei a focar mais no meu trabalho, porque não posso ficar a fazer música só por gosto e vontade, sendo grandes. Mas tenho que trabalhar, para poder comer e na época que tinha filho não ia arriscar na música”, relata.

Por ser um trabalho muito especial, a cantora pretende contar mais coisas sobre o mesmo no dia do show de apresentação que promete que será um momento de muita alegria. “Este EP é muito pessoal para mim e será revelado durante o show, que acontece esta quinta-feira, 27”.

“Todos os temas deste EP são da minha autoria, tenho estilos como hip hop, tem estilo que ninguém consegue dizer é o quê, se é world music, r&b, zouk. Os temas são quase todos em crioulo, tem um que é uma mistura de crioulo e inglês”, conta a cantora que se mostrou feliz por conseguir finalmente ter o seu trabalho discográfico.

Zubikilla afirmou que este é trabalho foi um investimento pessoal do qual tem muito orgulho. “Este EP que é todo financiado por mim está a ser motivo de grande orgulho para mim. Estou muito feliz por conseguir este trabalho. É um sonho realizado, apesar de tanto dor de cabeça que tive. Não fazia ideia que fazer um trabalho deste tipo era tão trabalhoso”.

Compositora

Além de cantora, Zubikilla Spencer é compositora, veia que, com certeza, herdou do pai, Nhelas Spencer. Mas a cantora revelou que as suas composições surgem de forma diferente, se calhar dos outros compositores. “As minhas composições vêm de uma forma muito esquisita, porque eu toco guitarra desde dos meus 14 anos, sempre que tenho uma ideia na cabeça vem algo melódica de guitarra e não de letra”.

Isso faz com que sempre que vem as ideias, a cantora pega na sua guitarra e descobre as melodias, e só depois as coloca no papel. “E quando assim é pego na minha guitarra e faço alguns acordos e de repente entendo o quê que a música está a puxar-me em termos de sentimento, a partir dali começou a escrever”.

De tantas ideias que a cantora teve, só este EP é pouco para mostrar a sua criatividade e a sua forma de viver a música, por isso disse que neste momento tem mais temas feitos.

“Estive a fazer as contas estão com 20 composições minhas feitas, mas só sete que vou mostrar agora no EP, então isso quer dizer que tenho mais projectos a caminho. O próximo projectos que quero fazer é um álbum intitulado `Killa canta Nhelas`, que será só a cantar as músicas do meu pai, à minha maneira. Depois da caminhada deste EP vou estar na luta, para prosseguir com este projecto”, revelou a cantora.

Apoio familiar

Zubikilla conta que quando começou a cantar no Brasil, formou a sua banda e ficou a cantar para o público até perder a vergonha, os pais nunca mostraram que deveria parar de fazer a música, mas sim sempre contou com o apoio da sua família, tanto na escolha da sua profissão, bem como na sua carreira artística.

“O meu pai significa muito na minha carreira artística, já tive a oportunidade de mostrá-lo as músicas do meu EP, e ele gostou muito de um zouk, e disse-me que a música é muito boa, fiquei muito feliz, eu e o meu pai temos uma amizade extraordinário”, confessa.

Mas, por outro lado cita que o pai é muito crítico em relação à música e não se importa se é a filha que está a cantar ou não. “Mas, quando ele assistiu um dos meus shows, na Cidade da Praia, no final do espectáculo ele apertou as minhas mãos e disse-me agora sim, o meu coração derreteu, então ele deu-me a sua `aprovação, e isso foi muito importante para mim`”.

Também disse que a sua mãe a tem dado muito apoio nas coisas que ela faz. “A minha mãe também sempre me dá muita força, foi ela que organizou o meu primeiro concerto e agora ela está a apoiar-me na organização da apresentação do meu EP na quinta-feira. Sempre, que preciso a minha mãe está sempre lá. Os meus pais dão-me sempre muita força, e sempre me apoiam 100% nas coisas que faço, tanto na minha carreira artística como na minha profissão. Então sou abençoada neste ponto”.

Questionada se sente muita responsabilidade como cantora por ser filha do compositor Nhelas Spencer, Zubikilla disse que está fazendo a música para ela também.

Apresentação do EP

Na apresentação, além do guitarrista Jorge Almeida, estará no palco com a Zubikilla Spencer a cantora Sílvia Medina, serão 50 minutos de muita animação, onde pretende colocar as pessoas para cantar as suas músicas.

Durante a apresentação do EP, a cantora afirmou que vai ter a presença de uns bailarinos, para dar mais dinâmica ao show.

“A apresentação não será com a banda como estamos habituados a ter nos shows de lançamento dos trabalhos discográficos. Vou ter um guitarrista, DJ para colocar a parte instrumental, porque o meu EP acabou por ficar muito eletrónico, usamos muitos sons electrónicos e temos uma música acústica. Os restantes são muito electrónicos, então se for apresentá-lo com a banda não estou a mostrar o quê que é o EP”, explica.

Pois, a cantora quer mostrar o EP da mesma forma que está concebida. Depois da Cidade da Praia, a cantora quer mostrar este trabalho na ilha de São Vicente ou na ilha do Sal”.

Após a apresentação na Cidade da Praia, os temas serão disponibilizados nas plataformas digitais. “O EP ainda não está nas plataformas digitais, porque quero lançar primeiro e só depois colocá-lo nas plataformas digitais”.

Apesar de os CDs físicos não estarem muito na moda, Zubikilla quer ter o seu um dia. “Vim de uma era em que o meu pai tinha CD nas paredes da casa, por isso quero ter um CD físico em mãos. Nasci e encontrei CD em casa e quero um dia ter o meu próprio CD. Mas é uma grande dor de cabeça ter um trabalho do tipo, mas vivendo e aprendendo e estou a gostar desta aventura”.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1130 de 26 de Julho de 2023.

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Autoria:Dulcina Mendes,27 jul 2023 9:05

Editado porDulcina Mendes  em  18 abr 2024 23:28

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