Numa conversa com o Expresso das Ilhas, Eileen Barbosa explica que a ideia do livro foi o de preservar as crenças dos pescadores. “O que se pretende é não deixar morrer as crenças dos pescadores e tentar guardar por escrito as coisas em que acreditam, como a feitiçaria e a superstição”.
“A ideia do livro surgiu de um convite de Tommy Melo, da Biosfera, para fazer parte de um projecto que visa preservar as histórias dos pescadores em diferentes ilhas do país, através de pequenas gravações que ele recolheu. Para cada uma dessas histórias fui desenvolver um conto e é assim que surgem os contos”, esclarece.
Eileen Almeida explica que logo que recebeu o convite abraçou o projecto sem ter a noção clara daquilo que seria. Logo que recebeu as gravações começou a ouvi-las e transformou as histórias em contos.
A escritora explicou que as histórias que se pensava serem diferentes umas das outras, afinal são iguais, pelo que perceberam que só com as histórias dos pescadores o livro ficaria muito pequeno. Daí terem decidido convidar o historiador José Cabral para trazer histórias de naufrágios e da caça da baleia.
“A parceria com o José Cabral surgiu porque Tommy Melo já tinha ido a duas ou quatro ilhas para fazer mais gravações, mas o que se veio a descobrir é que as histórias eram as mesmas, ou seja, todos os pescadores de Cabo Verde acreditam na mesma meia dúzia de histórias. Foi assim que convidaram José Cabral para trazer histórias de naufrágios, da caça da baleia, de mulheres à espera nos cais, olhos no horizonte e fome na barriga”, revela.
“Contos de Águas Salgadas” é editado pela associação Amigos dos Livros e conta com ilustrações de Nathalie Melo.
O título foi escolhido pela Biosfera, que Eileen Barbosa considera bem conseguido. “Logo à partida o título lembra-me água das pedras. Mas ficou interessante porque, de facto, o livro tem tudo a ver com água salgada ou água do mar”.
Por outro lado, sublinhou que outras pessoas teriam dado outro tratamento às histórias dos pescadores. “Acredito que um outro autor teria pegado na mesma pequena gravação e dado uma roupagem completamente diferente, porque tive que ficcionar. É uma ficção da minha vivência, mas de uma vivência que não chega a ser de um pescador, pois nunca fui pescadora. O meu pai pescava, algumas vezes já acompanhei pessoas à pesca, mas não tenho aquela experiência em primeira mão que muita gente terá. Portanto, conseguiriam ter enriquecido muito mais a obra com outras vivências dos pescadores”.
Neste sentido, realçou que fazer este livro foi um mergulhar num mundo muito diferente porque teve que fazer algumas pesquisas para descobrir o significado de expressões usadas pelos pescadores. “Foi todo um mundo novo que se abriu com a oportunidade de escrever sobre um assunto que não dominava à partida”.
Eileen Almeida Barbosa é contista e poetisa, cabo-verdiana nascida no Senegal, mas cresceu e estudou no liceu na ilha de São Vicente.
Em 2005 foi galardoada com o Prémio Revelação Pantera na categoria de Conto, “Tu és um português”, e outro, na categoria de poesia, com “Tantas Palavras”. Recebeu ainda uma menção honrosa na categoria de conto com “Anfiteatro”.
Em 2006 recebeu o primeiro prémio no concurso “Prosa e Poesia Jovem” sobre Mindelo e, em 2007, lançou o seu primeiro livro intitulado “Eileenístico”, uma coletânea de contos, edição de autor.
Em 2008 participou na Antologia de Poesia Inédita Cabo-verdiana, “Destino de Bai”, e, a partir de 2010, em duas antologias de poesia feminina coordenadas pela Cooperação Espanhola em Cabo Verde.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1130 de 26 de Julho de 2023.