Festival: Baía das Gatas rende-se a Bana em noite de nostalgia e temas intemporais

PorExpresso das Ilhas, Inforpress,13 ago 2023 10:04

A segunda noite do Baía das Gatas teve uma moldura humana que dançou e cantou com os olhos fixos no palco deixando-se embalar pela intemporalidade das mornas e coladeiras imortalizadas por Bana, o homenageado.

Já era esperado desde quando foi divulgado que a edição 39ª do Festival Internacional de Música de Baía das Gatas iria render homenagem a Bana, considerado uma “lenda da música cabo-verdiana”, que a nostalgia seria o prato forte do momento.

O tributo ao “Rei da Morna”, que, em vida, actuou por três vezes no festival, nas edições de 1986, 1991 e 2004, coube à banda Monte Cara, com Leonel Almeida e Dany Silva, dois cantores cuja carreira musical deveu-se a Bana, e ainda a Jennifer Solidade, pertencente à nova geração de músicos cabo-verdianos.

O show arrancou às 21:30 com o tema “Linda Melodia”, através do saxofonista Nanuto, depois foi “Nho Manel”, “Fitch Fatch”, “Tunga Tunginha, Ratcha Vichi” e “Sonho Cordode”, e tantos outros que causaram um misto de melancolia e emoção, porque também lembraram ainda Humbertona,  uma das maiores referências do violão cabo-verdiano, que foi a enterrar no sábado, 12.

Mas, não foi somente saudade. O espetáculo foi também um momento de constante interação entre o palco e público, formado grandemente por jovens e até crianças, muitas delas que não conheceram Bana em vida, mas embarcaram nessa viagem pelos ritmos tradicionais do folclore cabo-verdiano.

Para Leonel Almeida, ter cruzado os caminhos com Bana, que apelidou de “Nelson Mandela da música cabo-verdiana”, só lhe engrandeceu.

Almeida, aliás, que em 1974 emigrou para Portugal, com anuência de Bana no Voz de Cabo Verde, grupo que permaneceu por vários anos para depois seguir carreira a solo, lembrou que se não fosse o Bana ele não continuaria na música.

Para Dany Silva, “Bana tem um significado especial” porque o seu primeiro disco a solo teve a etiqueta do clube Monte Cara, criado por Bana, e que foi 2o primeiro espaço da cultura e música cabo-verdiana” em Lisboa (Portugal).

Por sua vez, Jennifer Soledad, afirmou que foi uma “honra enorme e uma satisfação” participar na homenagem, por ser Bana, um homem da morna.

“E é uma satisfação grande estar ao lado de Leonel Almeida e de Dany Silva, que são pessoas que já fazem parte da minha vida em Lisboa porque dividimos palcos lá, mas é sempre diferente quando estamos em São Vicente, na Baía das Gatas, principalmente fazendo um tributo como este aqui”, declarou a cantora.

Para Jennifer Soledad, “Bana era uma figura com uma forma de cantar singular”, com um crioulo de São Vicente que “adoçava os ouvidos” e que, apesar de apresentar uma postura séria, “era alegre”.

Depois da homenagem, subiu ao palco Paula Fernandes, considerada uma das maiores cantoras da música Sertaneja da actualidade.

A artista apresentou-se com um repertório de composições inéditas e releituras de grandes clássicos da sua carreira, num show que disse ser “mais divertido, dançante, e com mais movimento e uma vibe diferente”.

Prova disso, é que a cantora, compositora e multi-instrumentista arriscou-se a interpretar a morna “Sodade”, tema de pertença do povo cabo-verdiano a que o público respondeu com coro e ovações, público que fez questão de elogiar pela “educação e organização”.

Seguiu-se Dynamo, que apesar de se atrasar a entrar no palco, acrescentou a “pitada de sal” que faltava para condimentar a noite com seus êxitos como “Primavera”, “Setembro”, “Princesa”, “Enquanto n´respira” entre outros temas ao estilo quizomba que estavam na boca do público.

Depois de Dynamo, os ritmos brasileiros voltaram ao palco, desta vez, pela voz de Xamã, tido como uma das principais vozes do rap do Brasil na actualidade.

Com um espectáculo electrizante, Xamã pincelou sucessos como “Deixe-me ir”, “Eu só quero ser feliz”, “Leão”, “Malvadão”, “Monalisa” e “Sereia”, entre outras músicas, que levantaram a multidão presente. Também protagonizou momentos de ‘freestyle’, numa conexão sincronizada com a malta jovem.

Previsto no alinhamento, coube encerar o espectáculo o músico, produtor e compositor angolano Deejay Telio, artista já familiar do público Mindelense.

O jovem subiu ao palco já no raiar do dia e passou em revista o catálogo musical com “hits” que carimbou a sua popularidade como um dos nomes mais sonantes da lusofonia nos estilos afro house e kuduro.

A 39ª. edição do Festival Internacional de Música da Baía das Gatas continua hoje com o desfile de artistas e bandas, a principiar às 18:30, sendo eles Ceuzany, Dino d´Santiago, Protoje, Plutonio, Yuran Beatz, Ary Beatz & Mc Acondize.

O Festival Internacional de Música da Baía das Gatas, que este ano celebra a 39ª edição, teve a primeira edição no dia 18 de Agosto de 1984.

É realizado anualmente na praia da Baía das Gatas, a oito quilómetros da cidade do Mindelo, e não se realizou ali apenas em 1995, devido a uma epidemia de cólera que assolou Cabo Verde, e nos anos 2020 e 2021, por causa da pandemia da covid-19, em que se concretizou o evento no formato online.

Anualmente, a Câmara Municipal de São Vicente, que organiza o certame, reserva uma verba no orçamento municipal para fazer face às despesas com a logística, viagens e cachê de artistas de Cabo Verde e do estrangeiro, mas “o grosso do montante” para suportar o evento, de acordo com a autarquia, provém de patrocínios de empresas e outras instituições.

Concorda? Discorda? Dê-nos a sua opinião. Comente ou partilhe este artigo.

Autoria:Expresso das Ilhas, Inforpress,13 ago 2023 10:04

Editado porSara Almeida  em  1 mai 2024 23:28

pub.

pub.

pub
pub.

Últimas no site

    Últimas na secção

      Populares na secção

        Populares no site

          pub.