Simão Rodrigues, o jornalista que se apaixonou pelo fascínio das objectivas

PorAntónio Monteiro,17 dez 2023 7:50

Esteve patente nos Paços do Concelho da Câmara Municipal da Praia, de 1 a 8 de Dezembro, a primeira exposição de fotografias do jornalista Simão Rodrigues realizada em parceria com o seu irmão, Luís Rodrigues, que expôs em paralelo uma colecção de discos vinil antigos. Em entrevista ao Expresso das Ilhas Simão Rodrigues fala dos seus 35 anos de carreira, dos jornais em que já trabalhou e obviamente da génese das 45 fotografias que retratam o quotidiano das nossas ilhas.

Decorreu nos Paços do Concelho, na Praia, a exposição “Expo Dois em Um”. Correspondeu às suas expectativas?

Acho que foi excelente, pois quando se faz algo, tem-se de fazer o melhor. Mas tanto eu como o meu irmão, Luís Rodrigues, ficamos surpreendidos pela forma como as pessoas aderiram à exposição. Recebemos muitos elogios o que nos surpreendeu imenso.

É uma exposição inédita. Primeiro, são dois irmãos, depois temos as fotografias e discos vinil. Como surgiu a ideia desta exposição?

Confesso que há mais de cinco anos, muito mais, que eu estava a preparar esta exposição. É que sempre fui um apaixonado pela fotografia. Eu sempre andei com grandes fotógrafos desta praça. É o caso do José Maria Borges, o Jorge Lima, o Mário Alves, que está na Boa Vista, e sobretudo o Zé di Beba. O Zé di Beba foi o meu mestre na fotografia. Ele ensinou-me a técnica de fazer fotos. Digamos que ele me ensinou a técnica do mais difícil para o menos difícil. Ele disse-me: vamos começar por fotos corridos, porque fotos estáticos todo mundo faz. Portanto, vamos fazer fotos de jogos de basquetebol, de futebol e de andebol. E quando dominares a técnica, já dominas a arte de fotografar. Foi essa a estratégia que ele usou comigo. A páginas tantas, ele chamou-me e disse: agora já não precisas de fotógrafo, tens de sair sozinho. Vá lá, toma a máquina que eu fico por perto. Portanto, eu ganhei esta paixão e sempre que saía para qualquer reportagem ia com a minha máquina ao ombro. Na altura eu era editor de desporto, mas fazia fotos extras e quando me dei por conta, já tinha cerca de 3 mil fotografias e que até agora não tinham sido editadas. Já o meu irmão Djú Rodrigues sempre teve uma grande paixão pela colecção. Faz colecção de discos vinil, de moedas antigas, de candeeiros, de gira-discos, etc. Colecciona quase tudo, só que é muito reservado. Por isso, sugeri-lhe que fizéssemos uma exposição a dois. Ao invés de ele estar a fazer uma exposição só de discos vinil e eu só de fotografias, aptamos por um projecto integrado. Sugeri o nome “Dois em Um” e avançamos para esta exposição.

Fotoreportagem e discos vinil. O que caiu mais no agrado do público?

É curioso. O público da geração mais antiga gostou mais dos discos vinil, mas o público mediano apaixonou-se pelas fotos. Penso que a Cidade da Praia tem falta de actividades como esta. Muita gente vinha à exposição só para passar o tempo, mas depois regressam no outro dia, ou mesmo à noite acompanhados dos pais e dos avós. Recebemos o mais velho, um senhor de noventa e cinco anos, do Bairro, pai do Piuna. Recebemos também a dona Liloca, de Ponte Belém, mãe do Lúcio Antunes. Muita gente da terceira idade veio para recordar o tempo dos discos vinil. Como disse, tivemos dois públicos: um público mediano, que estava mais virado para as fotos, pois havia pelo menos uma foto de cada ilha de Cabo Verde. E tínhamos a exposição dos discos vinil com antigos álbuns dos Bulimundo, Finaçon, Frank Mimita, mas também de discos estrangeiros como Os Beatles, Bee Gees, Rolling Stones, etc. Portanto, muita gente foi ver a exposição: não só cabo-verdianos como também estrangeiros. Muitos estrangeiros ficaram bem pasmados pela forma como conseguimos fazer essa exposição.

A exposição celebra os seus trinta e cinco anos de carreira jornalística. Quando tudo começou e por quais órgãos de comunicação passou?

Bom, isso começou em 1988. Daí os trinta e cinco anos de carreira. Portanto, isso começou através de um concurso aberto no jornal Voz di Povo. Mas o jornalismo foi a minha segunda profissão. Eu comecei a trabalhar de 1984 até 1988 como desenhador na antiga Junta dos Recursos Hídricos. Certo dia dei-me conta que havia um concurso para admissão de jornalistas no jornal Voz di Povo. Candidatei-me, passei e depois fomos fazer uma formação na Agência LUSA. Eu, a Rosana Almeida, a Paula Cavaco, o José Maria Varela. Costumo dizer que nós fomos os últimos rebentos do Voz di Povo. Nós entramos em 1988 e o jornal foi extinto, se não me engano, em 1991.Portanto, nós fomos os últimos jornalistas daquele jornal. E o Voz di Povo funcionou como uma escola de formação de jornalistas em Cabo Verde. E aí ganhei a prática de escrita. E sempre trabalhei ligado à escrita. Tive oportunidade de trabalhar tanto na rádio como na televisão, mas eu acho que aquele bichinho de escrever mexeu sempre comigo. Eu praticamente já trabalhei em todos os jornais da praça. Desde o Voz di Povo, Jornal Horizonte, Novo Jornal de Cabo Verde, Jornal da Nação, o Expresso das Ilhas, Asemana e o Tribuna. Portanto, acho que dei a minha modesta contribuição para Cabo Verde. Também tenho editado vários jornais e revistas nesta praça aí, tanto públicos como privados. É o caso da revista da Federação Cabo-verdiana de Futebol, o Fair Play. Fui eu quem a fundei e editei. Também fundei o jornal dos Travadores. Trabalhei também em alguns jornais que eram ligados, na altura, ao Ministério do Desporto e da Juventude, nos anos 90/2000. Portanto, sempre ligado à escrita. Eu acho que o bichinho da escrita mexeu sempre comigo.

  • Em que área do jornalismo se sente mais confortável?

Bom, já fui editor de desporto e muita gente me associa mais ao desporto. Mas também já fui editor de cultura e de sociedade. Quer dizer, eu sempre fui um jornalista generalista. Nos primeiros anos estive mais ligado ao desporto, porém, já nos últimos vinte anos fui sempre generalista, mas sempre com aquele bichinho do desporto. Eu não consigo estar fora do desporto. É daí que muita gente me associa ao desporto.

Voltando à Expo Dois em Um. Já há instituições interessadas em receber a exposição?

Já houve várias manifestações de interesse, mas o que está mais acertado é com a Câmara Municipal do Tarrafal. Estamos em negociações para levar a exposição por altura das Festas de Nhu Santo Amaro. Portanto, já está bem encaminhado. A Câmara de Santo Cruz e de São Salvador do Mundo estão também interessados em receber a nossa exposição.  

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1150 de 13 de Dezembro de 2023.

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Autoria:António Monteiro,17 dez 2023 7:50

Editado porSara Almeida  em  18 dez 2023 15:10

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