Depois de lançar o seu primeiro álbum, Laço Umbilical, em 2018, e o segundo, Amdjer, em 2022, a cantora natural de São Nicolau regressa ao mercado com Moda Antiga, um disco composto por 11 faixas que homenageiam a riqueza da herança musical cabo-verdiana.
Com mornas e coladeiras, os seus estilos de eleição, Moda Antiga resgata os sons e estilos que definiram o passado musical das ilhas. Este terceiro álbum aprofunda o compromisso da artista com a autenticidade das raízes culturais cabo-verdianas, explorando e valorizando a essência da música tradicional.
O título Moda Antiga faz referência à ligação às raízes culturais e dá continuidade ao caminho iniciado com o seu álbum de estreia, Laço Umbilical.
Preservação das tradições
Moda Antiga pretende chamar a atenção para a importância da preservação das tradições musicais, num momento em que as tendências contemporâneas tendem a ditar outros rumos. O tema Lembra Tempo, escrito pela própria Lucibela, é um convite a essa conexão com o passado e uma celebração da pureza e verdade presentes nas músicas de outrora.
“Manter viva a cultura cabo-verdiana e valorizar essa identidade musical, oferecendo uma expressão fiel da beleza e simplicidade da música tradicional, é o propósito de Moda Antiga”, afirmou a cantora em entrevista ao Expresso das Ilhas.
Álbuns anteriores
Segundo Lucibela, todos os seus álbuns são especiais, mas mantém-se fiel à música tradicional. “Para mim, o mais importante é a música tradicional, porque, ao longo dos anos, ganhei uma grande paixão por ela. Actualmente, faço-a com todo o meu coração e amor, e não me vejo a enveredar por outro estilo, pelo menos para já.”
Apesar disso, a artista admite a possibilidade de explorar outros géneros musicais tradicionais no futuro: “Gostaria de gravar um funaná um dia, porque gosto muito. Tenho um carinho especial pelo meu primeiro álbum, porque foi ele que me lançou no mundo. Através dele comecei a fazer concertos. O meu segundo álbum também é muito especial, por ser dedicado a todas as mulheres, não só de Cabo Verde, mas de todo o mundo.”
Música tradicional
Lucibela deseja contribuir para a preservação e valorização da música tradicional cabo-verdiana: “Ainda sou jovem e tenho muito caminho pela frente. Estou a construir a minha carreira, mas quero ajudar a nossa música tradicional a manter a sua raiz e essência, sempre inovando e trazendo algo novo. Gostaria que as pessoas, sobretudo em Cabo Verde, valorizassem mais a nossa música.”
A cantora reconhece que houve progressos nos últimos tempos, com as rádios e televisões a transmitirem mais música tradicional, mas defende que há muito por fazer: “Deveriam organizar-se mais festivais e concertos dedicados exclusivamente à música tradicional, para que as pessoas se habituem a ouvir e valorizar esta parte importante da nossa cultura.”
Lucibela acredita que é necessário criar mais actividades em que os jovens possam ouvir música tradicional em massa, como acontece com outros estilos, como a kizomba ou o hip hop.
Aceitação no estrangeiro
Segundo Lucibela, a música tradicional cabo-verdiana é mais bem aceite no estrangeiro: “Lá fora, temos mais concertos, e a música tradicional é muito valorizada. Mesmo sem entenderem as letras, as pessoas apreciam a energia e a classe que esta música transmite.”
A cantora sublinha que a diáspora cabo-verdiana também dá muito valor à música tradicional. “Nos concertos fora do país, cada vez mais cabo-verdianos comparecem. Em Paris, recentemente, tive muitos mais cabo-verdianos presentes do que o habitual. Isso é gratificante, porque sinto que a música ajuda a matar as saudades da terra.”
Carreira e ambições
Sobre a sua carreira artística, Lucibela considera que está num bom caminho. “Comecei em 2018 com cerca de 30 concertos e, em 2019, fiz mais de 40. Com a pandemia, em 2020, tudo foi cancelado, mas agora as coisas estão a voltar ao normal. Fazer carreira leva tempo, e estou focada em dar o meu melhor e manter este ritmo.”
A sua maior ambição é construir uma carreira sólida na música tradicional cabo-verdiana: “Quero, um dia, aos 50 ou 60 anos, olhar para trás e sentir que fiz aquilo que sempre quis — cantar pelo mundo e divulgar a nossa música.”
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1199 de 20 de Novembro de 2024.