O director do Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design (CNAD), Artur Marçal disse, em entrevista ao Expresso das Ilhas, que a ideia do lema “(Re) interpretação da matéria” é de lançar o desafio para olhar para o território numa perspectiva de aproveitamento de tudo o que é material, seja endógeno ou não.
“Pela nossa condição arquipelágica e geográfica, ouvimos repetidamente que temos parcos recursos e falta de matérias-primas. No fundo, o que estamos a propor é olhar, numa perspectiva criativa, não ficarmos dependentes de uma matéria-prima para criar. Por isso que o artista deve ter uma visão de ousadia, é preciso criar e não ficar dependente dos materiais, digamos assim, convencionais. É este o que estamos a propor enquanto temática deste ano”, explica.
E paralelamente a esta temática, disse que uma outra intenção, é, no fundo, reflectir sobre o papel da arte, da cultura perante a crise ecológica. “No fundo, é olhar e perceber o que é a arte, o que é a cultura, que contribui pode dar no entendimento do ecossistema. No fundo, é para reimaginarmos, aproveitarmos, recriticarmos tudo o que é matéria-prima disponível no território”.
O director da CNAD sublinha que a URDI leva um conjunto de dinâmicas que não se esgota com a feira. A abertura oficial da URDI acontece na quarta-feira, mas há actividades que já estão a decorrer, como é o caso da oficina e da residência artística.
A URDI já tem a confirmação de 152 artesãos, mas conforme Artur Marçal esse número pode aumentar. “Este ano tivemos de fazer um esforço adicional para trazer artesãos de outras ilhas, devido à nossa preocupação com a representatividade territorial".
Em relação aos participantes, disse que todos os 22 municípios estarão representados na URDI. “Este ano, tivemos que assumir essa responsabilidade de trazer esta representatividade territorial, uma vez que as câmaras municipais não conseguiram a tempo fazer este trabalho”.
Este ano, pela primeira vez a URDI vai receber o concerto de Bitori di Nha Bibinha.
Para Artur Marçal, é importante levar o batuque e o funaná para o Barlavento. “Repara que o batuque e o funaná estão em vários capitais europeus, americanos, africanos, e temos essa dificuldade em trazer o funaná e o batuque para o Barlavento, então é um desafio que temos de enfrentar para combater o regionalismo de forma descomplexada.”.
Por isso, disse que a ideia de levar o Bitori, para a URDI, é no sentido de olharmos para aquilo que, de forma transversal, acontece, o funaná, como diz o Dino D` Santiago é o próximo grande movimento, será o novo funk, mas, para isso, temos que primeiro escolher o território nacional, e só depois projectá-lo internacionalmente, mas temos dificuldade em projetá-lo dentro do nosso próprio território.
Economia
Artur Marçal garante que a URDI tem contribuído para a economia de São Vicente e de Cabo Verde. “A URDI tem contribuído, o orçamento da URDI directamente são oito mil contos, para além de todas as compras e trocas que acontecem, há toda a dinâmica”.
“Nós não temos dúvidas que a URDI dinamiza a economia de São Vicente, porque é todo um movimento. Repare, nós trazemos 40/50 pessoas das outras ilhas, são hotéis e restaurantes a ganhar com a dinâmica da URDI. É só ver a quantidade de pessoas que circulam na feira durante os dias da URDI”, garante.
Conforme explica, a URDI se alimentou enquanto uma marca cultural, “creio que não há dúvida do impacto que a URDI tem, não só na economia de São Vicente, mas também na projeção do artesanato, da arte e do design em Cabo Verde”.
“A questão de trazer a URDI para a Praça Nova é uma questão sentida e discutida há muito tempo, precisamente para permitir que as pessoas comprem presentes, e isso já acontece. Há muita gente que vem para a URDI para comprar presentes de Natal”, frisa.
Por outro lado, refere que a URDI não é apenas a feira, “as grandes conversas, as publicações, e vamos cimentando a ideia que as exposições acontecem e são efêmeras, e o que fica é o registo, a catalogação e a publicação. É este o trabalho que nós temos feito”.
Este ano faz dois anos que aconteceu a abertura do CNAD, nós pensamos que é uma edição de balanço daquilo que foi feito nesses dois anos, e acima de tudo, reflectimos sobre o futuro da instituição e da URDI.
E fez saber que este ano, não há municípios em destaque, à semelhança dos anos anteriores e o concurso de design não vai acontecer, porque não houve concorrentes. “Lançamos o concurso, mas os designers não manifestaram interesse, e é uma reflexão que temos que fazer, enquanto sector”.
“O Ministério da Cultura e o CNAD tendo estado atrás das pessoas para participarem, temos que perceber que hoje vivemos no mundo da concorrência, e quem trabalha acaba por ganhar destaque naturalmente, e os outros normalmente ficam nessa narrativa de criticar, que as coisas não estão bem, mas quando há oportunidade não participam”, critica.