A edição esta quinta-feira, dia 10, com o concerto do projecto Kriol-Kréyòl, que funde o jazz das Caraíbas com a música cabo-verdiana, num espectáculo que contará com as vozes de Boy G. Mendes e Zulu (Zuleica). Segue-se o projecto Cabo Cuba Jazz, liderado pelo pianista cabo-verdiano Carlos Matos, que mistura jazz latino com sonoridades crioulas.
Na sexta-feira, dia 11, iniciam-se os concertos pagos, com actuação de Mário Lúcio, seguida pelo trio do pianista martinicano Mario Canonge, a artista gambiana Sona Jobarteh e a banda francesa Sixun. No sábado, dia 12, a cabo-verdiana Nancy Vieira abre a noite, antecedendo os norte-americanos Michelle David & The True Tones, as espanholas Las Karamba e o angolano Bonga.
Em entrevista ao Expresso das Ilhas, José (Djô) da Silva, promotor do festival, assegurou que “ao nível da organização artística, está tudo encaminhado”. As viagens e estadias estão asseguradas, e a logística local está a ser finalizada. “Tudo indica que teremos um bom festival”, garante.
Mostrando-se particularmente satisfeito com a programação, Djô da Silva antecipa “noites extraordinárias” e um público entusiasmado. “É algo muito forte. Teremos boas músicas e excelentes músicos”.
Sobre o percurso do evento, Djô da Silva faz um balanço positivo: “Estou muito satisfeito com os resultados e com a reacção do público, que tem sido excelente”. Contudo, assinala que este ano a organização enfrentou dificuldades acrescidas, nomeadamente a decisão da Câmara Municipal da Praia de não financiar o festival.
“A saída da Câmara criou um buraco enorme. E mesmo outros financiamentos estão cada vez mais difíceis de garantir, o que nos obriga a repensar o futuro do festival”. Mais do que a perda de apoio financeiro, o promotor lamenta a forma como tudo aconteceu: “Descobrimos nas redes sociais que não teríamos financiamento. Até hoje não recebemos qualquer contacto formal da Câmara. Foi uma decisão brusca e desrespeitosa”.
Apesar disso, Djô da Silva mantém-se aberto ao diálogo: “A Câmara é o parceiro natural do evento. Cabe-lhes decidir se o festival tem mais-valia para a cidade”.
O promotor defende que a sustentabilidade do festival depende do apoio do público. “Com bilhetes a 2.500 escudos, é impossível realizar um festival que custa 25 mil contos. Para ser auto-sustentável, os bilhetes teriam de custar cerca de oito mil escudos, como acontece na Europa”.
Além disso, sublinha que a maioria dos bilhetes é comprada por estrangeiros. “Já sabemos há anos que o festival atrai turismo cultural. Esse é um dos trunfos de Cabo Verde”.
Este ano, o festival presta homenagem ao saxofonista Totinho, que participou em praticamente todas as edições do Kriol Jazz Festival, integrando bandas nacionais e projectos com artistas internacionais. “Trabalhou muitos anos comigo. A sua perda foi muito dura para todos nós. Nada melhor do que homenageá-lo”, afirma Djô da Silva.
Grande parte dos artistas é escolhida directamente pelo promotor, que viaja frequentemente para assistir a festivais e espectáculos. “Gosto de programar com base no que vejo e sei que tem ligação com Cabo Verde”, explica. Há também colaborações institucionais, como a parceria com a cooperação espanhola, que todos os anos apoia um artista daquele país.
Quanto aos artistas nacionais, são acolhidas propostas que façam sentido. “Mário Lúcio propôs-nos um novo espectáculo alusivo aos 50 anos da independência. Achámos que era o momento ideal para o apresentar no festival”.
Nancy Vieira apresentará o seu novo álbum, e Bonga, figura incontornável da música africana e da luta anticolonial, participa também no contexto das comemorações da independência. “É uma honra tê-lo connosco”, sublinha Djô da Silva.
Pela primeira vez, o festival levará um concerto ao município de Santa Cruz, graças a uma parceria com a câmara local. “Já trabalhámos com São Vicente em duas ocasiões. Agora é Santa Cruz. Estamos sempre abertos a novas parcerias. É importante que os artistas cheguem a outros públicos”, aponta.
Este ano, não haverá concertos com artistas brasileiros, devido a limitações orçamentais. “Só a viagem de um artista do Brasil é caríssima. Este ano não conseguimos suportar esse custo”, esclarece, embora reforce a vontade de incluir o Brasil em futuras edições, se o orçamento permitir.
Djô da Silva recorda que, no início, o Kriol Jazz foi pensado para ser realizado fora da Praia, nomeadamente no Sal e em São Vicente. “Mas hoje vejo que é um festival da Praia. Está bem aqui. Só sairá da cidade se a própria Praia deixar de o querer”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1219 de 9 de Abril de 2025.