Segundo o bailarino, esta edição acontece no ano em que Cabo Verde celebra os seus 50 anos de independência, com finalidade de propõe um novo modelo de festival, profundamente ancorado no compromisso com a educação estética, a descentralização cultural e a criação de públicos.
Djam Neguin informa que uma das grandes inovações desta edição é o investimento em residências artísticas e incubadoras criativas. “Estas estruturas têm como objectivo empoderar a comunidade artística cabo-verdiana através de formação crítica, experimentação e acompanhamento profissional”.
O bailarino explica que ao promover o intercâmbio com coreógrafos e mentores internacionais, o festival abre espaço para o encontro entre linguagens, saberes e visões de mundo, permitindo o fortalecimento das práticas locais sem perder a ligação com as tendências globais.
“As residências funcionam como laboratórios vivos, onde a criação e a pesquisa se encontram. As incubadoras criativas, por sua vez, apoiam jovens criadores em todas as fases do desenvolvimento dos seus projetos, com foco na autonomia, na produção consciente e na articulação com o mercado artístico”, revela.
Conforme o bailarino, apesar de ter a dança contemporânea como foco, o Festival Kontornu aposta fortemente na multidisciplinaridade, acolhendo espectáculos de circo, música, performances de rua e artes plásticas. “Destaque para a exposição com curadoria do artista Tutu Sousa, inaugurada a 5 de Maio na sua galeria”.
A programação decorre em três municípios diferentes da ilha de Santiago: Santa Cruz, Praia e Tarrafal, “reforçando o compromisso com a descentralização e o acesso. Muitos dos espectáculos são pensados para serem apresentados em escolas, liceus e jardins de infância, com o objectivo de estimular o contacto precoce com as artes e formar novas gerações de espectadores”.
Por outro lado, avisa que o festival colabora activamente com associações comunitárias e companhias de dança locais, criando uma rede de partilha e fruição colectiva.
“Um dos momentos altos desta edição é o painel de conversa ´Processos de Curadoria e Programação´, realizado em parceria com a Uni-CV, o PROCULTURA PALOP e a Semana da Europa da União Europeia. Este painel dará voz a programadores internacionais, permitindo aos estudantes um contacto direto com experiências e práticas diversas”, assegura.
Bienal do Ceará
Esta edição do Kontornu, segundo Djam Neguin celebra ainda uma parceria especial com a XV Bienal Internacional de Dança do Ceará (Brasil), através do projecto CAIS - Conexões Artísticas Internacionais.
Para o bailarino, esta colaboração trará ao arquipélago uma comitiva de artistas de dança e música, aprofundando os laços culturais entre Cabo Verde e o Brasil.
“A Bienal é apresentada pelo Ministério da Cultura, Governo do Ceará, Secult CE, Enel Distribuição Ceará e Petrobras, e realizada pela Indústria da Dança do Ceará e pela Proarte”, aponta.
Desafios e Futuro
Djam Neguin disse que apesar da relevância do projecto e de algumas parcerias importantes, o festival ainda enfrenta desafios estruturais, operando com poucos recursos e grande precariedade.
A organização alerta para a necessidade urgente de investimento robusto e de protocolos institucionais que garantam a continuidade deste que é hoje um dos principais eventos de artes performativas do arquipélago.
“O Festival Kontornu acredita na arte como ferramenta de transformação social e cultural. Através da sua programação gratuita, inclusiva e de qualidade, constrói pontes entre artistas, comunidades, territórios e continentes”, assegura.