Djam Neguin diz que futuro do Festival Kontornu depende do envolvimento e financiamento das estruturas culturais

PorDulcina Mendes,15 mai 2025 11:52

O director artístico do Festival Kontornu, Djam Neguin, afirmou que o futuro do evento depende do envolvimento e do financiamento das estruturas culturais. Apesar do sucesso da terceira edição, destacou a precariedade das condições em que esta decorreu.

“Esta dependência não se baseia apenas numa expectativa moral ou ética: trata-se de uma exigência legal e constitucional”, declarou.

Para o artista, o apoio à continuidade de eventos como o Festival Kontornu não deve ser visto como um acto de benevolência governamental, mas sim como o cumprimento de uma obrigação pública perante os cidadãos.

“O Festival Kontornu demonstrou, ao longo das suas edições, ser muito mais do que um evento artístico: é uma plataforma de encontro, de intercâmbio, de reflexão e de projeção internacional. Abre portas para artistas emergentes, fomenta o pensamento crítico, dinamiza o setor criativo e projeta Cabo Verde no circuito global da dança contemporânea”, sublinhou.

Djam Neguin alertou que, sem um apoio estrutural e consistente por parte do poder público, festivais com este perfil ficam constantemente ameaçados pela descontinuidade, pela precariedade e pelo esgotamento das suas equipas organizadoras.

Por isso, defende que o Estado e os municípios devem rever as suas prioridades orçamentais, reconhecendo que investir na cultura “não é um luxo, mas uma alavanca fundamental para o desenvolvimento sustentável”.

“O impacto de um festival como o Kontornu estende-se para além das salas de espetáculo: ele movimenta o turismo cultural, estimula a economia local, através do alojamento, da restauração e do comércio, promove a educação artística nas escolas, gera emprego e fortalece a identidade cabo-verdiana perante o mundo”, acrescentou.


Terceira edição do Festival Kontornu

A terceira edição do Festival Kontornu terminou no dia 10 de Maio, com actividades no município do Tarrafal, após uma semana intensa de programação iniciada a 3 de Maio na cidade da Praia.

Segundo Djam Neguin, o festival consolidou-se como um dos maiores eventos de dança dos países de língua portuguesa, reunindo artistas de várias nacionalidades, incluindo Portugal, Ucrânia, Polónia, República Checa, Brasil, Moçambique, Itália, Espanha e República Dominicana.

A programação incluiu workshops, espetáculos, conversas, exposições de artes plásticas e performances de rua, criando uma plataforma rica de intercâmbio cultural e artístico.

Um dos grandes destaques, segundo o diretor artístico, foi a programação infantil, que levou centenas de crianças, muitas oriundas de bairros periféricos, ao seu primeiro contacto com a arte em contextos institucionais. “Essa vertente não só democratizou o acesso à cultura, como também apostou na formação de novos públicos e na inclusão social”, explicou.

O festival contou ainda com uma parceria especial com a XV edição da Bienal de Dança do Ceará, que trouxe cerca de dez espetáculos para Cabo Verde. “Esta colaboração internacional reforçou a qualidade e diversidade da programação, promovendo o intercâmbio artístico entre países lusófonos e ampliando as oportunidades de formação e visibilidade para os artistas locais”.

Apesar do entusiasmo do público e da relevância artística do evento, Djam Neguin lamenta a precariedade estrutural da organização: “A terceira edição do festival operou num cenário profundamente precário, resultado direto da fragilidade do apoio institucional e da insuficiência orçamental”.

Para o artista, esta realidade “não só revela as dificuldades estruturais que enfrentam as iniciativas culturais no arquipélago, como também expõe um certo desinteresse, ou, no mínimo, negligência, por parte das entidades responsáveis pela promoção e valorização da cultura em Cabo Verde”.

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Autoria:Dulcina Mendes,15 mai 2025 11:52

Editado porAndre Amaral  em  17 mai 2025 5:21

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