Com uma voz doce e uma entrega total, Eliana Rosa desponta como uma revelação da nova geração musical cabo-verdiana. Com passagens pela Cidade da Praia e por São Vicente, Eliana canta Cabo Verde com o coração. E agora, aos poucos, leva essa emoção além-mar: pela música, pelo teatro e pelo cinema.
Com uma voz quente e suave, uma presença de palco marcante e uma energia que transita entre a tradição e a contemporaneidade, Eliana Rosa afirma-se como uma das vozes mais promissoras da nova geração de artistas cabo-verdianos.
Em entrevista ao Expresso das Ilhas, Eliana Rosa revela que a sua recente participação no Atlantic Music Expo (AME) foi um marco decisivo na sua trajectória.
“Foi uma das experiências mais importantes da minha vida. Nunca tinha sentido a música como senti no AME.”
Apresentou um repertório que incluiu músicas do colectivo Acácia Maior e faixas do seu primeiro EP, uma fusão poética entre a morna e a morabeza cabo-verdiana.
“É a realização de um sonho: cantar para a minha família, cantar para uma das ilhas mais importantes para mim. Estar no AME foi emocionante. Não conseguia dormir à espera daquele dia. Vivo em Portugal e, quando cheguei a Cabo Verde, o meu coração batia com força.”
“Foi cansativo, mas valeu a pena. Foi bom receber o apoio de pessoas que não conhecia – muitas estavam à espera do meu concerto, para saber quem sou.”
Confessa que estava com algum medo e, ao mesmo tempo, entusiasmada:
“Tinha receio de não corresponder às expectativas, mas tive um feedback incrível.”
Depois do espectáculo
Nos dias seguintes, Eliana sentiu que o impacto foi muito positivo:
“Recebi muitas mensagens. A família disse-me que estive super bem. O AME foi, de facto, a experiência mais marcante da minha vida.”
Segundo o seu manager, Basílio da Cunha, há vários convites e inscrições para festivais, cujas respostas virão mais tarde.
“Depois da primeira semana, é preciso deixar assentar e escrever às pessoas. Há quatro ou cinco festivais interessados, mais dois ou três onde já nos inscrevemos – todos eventos de grande prestígio.”
Eliana mantém-se tranquila quanto aos contactos. “Mesmo que não aconteça já – e acho que vai acontecer – como somos independentes, tudo é mais difícil. Mas seguimos com o nosso trabalho.”
Revela que desejava regressar à Cidade da Praia para matar saudades:
“Claro que a carreira é importante, mas ainda estou a começar. Tenho tempo. Se não for agora, será para a próxima.”
Percurso musical
Eliana Rosa começou na música muito cedo, mas teve de mudar de ilha para ter mais oportunidades. “Fui para São Vicente com 14 anos e comecei a ver a música como algo que poderia fazer parte da minha vida.”
Na Praia, apesar das oportunidades, a família não valorizava tanto a música. “Era um sonho grande, mas via-o como um hobby. Quando fui para São Vicente, entrei no Grupo Coral da Escola Jorge Barbosa e mudei de escola só por causa disso.”
A jovem artista participou no concurso “Todo Mundo Canta” por curiosidade e acabou por vencer as fases regional e nacional.
Desde então, actuou em noites cabo-verdianas para pagar os estudos.
O EP “Mornabeza”
“Fiz o EP porque muitas pessoas perguntavam quando poderiam ouvir o meu trabalho. Senti falta da música na minha vida. Fui estudar teatro em Portugal, e com a pandemia, parei de cantar. O meu manager insistiu: tínhamos de fazer alguma coisa. Investimos nesse EP.”
Eliana vê o projecto como uma experiência. “Gosto do tradicional, mas também de viver. A minha referência musical veio das novelas, do Brasil e de Cabo Verde. Quis juntar tradição com algo diferente. É o meu primeiro EP, estou a apalpar terreno.”
O disco tem morna, coladeira, fusão com blues e toques de jazz.
“Inventei o nome Mornabeza: juntei morna com morabeza — e ficou!”
Teatro e cinema
Embora a música tenha vindo primeiro, Eliana também se apaixonou pelo teatro.
“Na escola em São Vicente, conheci o grupo teatral 50 Pessoas. A primeira peça foi Mamma Mia. Cantávamos em inglês, mas a história era contada em crioulo e adaptada à nossa realidade. Foi aí que comecei a gostar.”
Trabalhou com João Branco e participou em peças como Sonhador, apresentada em Macau.
Eliana Rosa recebeu uma bolsa de estudos numa colaboração entre João Branco e Pedro Barão, mas acabou por abandonar.
“Não era o que queria. Entretanto, conheci o melhor amigo de Basílio, realizador de cinema, que me convidou para o filme Manga d’Terra. Fiz o filme – foi o primeiro – e nem acreditava que aquilo estava a acontecer.”
Eliana apaixonou-se também pelo cinema e quer continuar. “Vou entrar um bocadinho nesse mundo, fazer direcção de actores e casting.”
Conforme o seu manager, Eliana Rosa tem previsto participar numa série da RTP e numa longa-metragem em 2027.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1223 de 07 de Maio de 2025.