O jovem, natural da Cidade da Praia, Deison Barros, foi um dos alunos que beneficiou do BA-Cultura e é hoje professor do programa que já mudou a vida de muitas crianças e jovens em Cabo Verde.
Deison Barros esteve primeiro na escola da Igreja Baptista. Foi lá que começou a beneficiar do programa BA-Cultura. No início, aprendeu a tocar bateria e depois foi para outra escola para aprender a tocar o violino.
“Tenho conhecimento na área musical que me permite tocar outros instrumentos, mas toco mais a bateria e o violino”, conta que aprendeu a tocar esses instrumentos graças ao programa BA-Cultura.
Deison Barros disse que BA-Cultura representa para ele a oportunidade de mudar de vida. “Sou muito privilegiado através do BA-Cultura, porque trouxe muita mudança na minha vida. Além de aprender a música, aprendi também como comportar-me na sociedade”.
O jovem conta que o seu sonho é ser um grande músico, fotógrafo e modelo. Deison Barros estudou até o 12º ano de escolaridade e neste momento dá aulas de bateria e violino, na Associação Escola de Vida e na Associação Centro de Treinamento Musical Baptista.
Barros aconselha os jovens a seguir os seus sonhos. “Cada um que tem o seu sonho que corra atrás e tenta realizá-lo, e não deixe o seu sonho, dentro dele”.
Maracanã
Em 2017, a Associação Cultural e Desportiva Maracanã, na cidade da Praia,concorreu ao apoio do BA-Cultura. Desde então, já passaram mais de 100 crianças no Maracanã, para frequentar aulas de música e actividades culturais que desenvolvem com o financiamento deste projecto.
Segundo o presidente da Associação Cultural e Desportiva Maracanã, Carlos Tavares, BA-Cultura é um programa muito bem estruturado. “É uma grande iniciativa deste Governo. Nós realizamos trabalhos voluntários, onde as crianças não pagam nada para frequentar as actividades do Maracanã”.
Carlos Tavares confirma que há alguns alunos que já participaram em eventos internacionais e outros grupos já participaram em eventos nacionais, como a comemoração do Dia do Município da Praia e eventos culturais no Ministério das Finanças.
O BA-Cultura financia actividades culturais: “candidatamos para aulas de instrumentos musicais, mas às vezes realizamos palestras alusivas às actividades culturais ou datas comemorativas. Houve um momento em que tivemos uma professora só para ensinar aos nossos alunos técnica de voz”.
Mudança
Segundo o presidente da Associação Cultural e Desportiva Maracanã, a primeira mudança que o BA-Cultura tem feito é na vida das crianças do bairro de Ponta d´Água, considerado um dos mais problemáticos.
“Todos conhecemos a nossa realidade e sabemos que é muito difícil uma criança ter acesso ao violão. Às vezes, há crianças cujos pais têm um violão em casa, mas não os deixam tocar nele, por ser um instrumento caro”, refere.
Mas disse que na associação todas as crianças têm acesso aos instrumentos musicais. “Aqui temos poucos instrumentos, mas mesmo assim mostramos abertura para todas as crianças de Ponta d'Água tocarem violão nos grupos. Hoje em dia temos várias crianças no bairro que já têm acesso ao violão, ao teclado, à flauta e outros instrumentos”.
Com isso, informa que actualmente têm uma banda musical que participa nos eventos culturais. “Criamos uma banda para participarmos em eventos culturais, com nível de organização razoável em qualquer sítio. É uma das formas em que trabalhamos a inclusão social e igualdade de oportunidades”.
Para Carlos Tavares esse contributo do BA-Cultura é muito importante na vida das crianças e jovens do bairro. “Apoiamos os professores disponíveis com gratificação ou ajuda de custo, para pagar despesas e também esse apoio nos ajuda a comprar materiais ou adequar espaço e condições para dar aos nossos alunos os melhores apoios possíveis”.
A associação ajuda as crianças e jovens dos bairros vizinhos. “Começamos a trabalhar com as crianças de Ponta d'Água, mas com o passar do tempo, desenvolvemos outras actividades e como trabalhamos com a inclusão, não podemos fechar as portas para ninguém. Temos recebido crianças de outras zonas. Alguns têm dificuldades com transporte para chegar aqui. Mas temos recebido crianças de outras zonas que participam nas actividades da associação”.
Por isso, Carlos Tavares agradece todos os envolvidos no programa pela iniciativa, que criaram para conferir possibilidade às crianças e jovens de terem acesso à arte. “Para o Governo, gostaria de agradecer por acreditar na proposta do Ministro da Cultura e da sua equipa”.
O presidente da Associação Cultural e Desportiva Maracanã apela ao Governo a criar programas semelhantes em outras áreas como saúde, segurança, desporto, “porque uma das melhores formas de trabalharmos a inclusão social é através desses tipos de programas”.
Para Carlos Tavares, as actividades culturais são uma forma de trabalhar a inclusão social e igualdade de oportunidade e poder combater muitos outros problemas que temos na nossa sociedade.
Conforme Tavares, cada vez que o Governo investe em algo positivo que ocupa de forma saudável o tempo livre dos jovens é óptimo para a sociedade. “E um dos melhores ganhos do BA-Cultura é tirar as crianças do mundo da criminalidade, de rua ou de aspectos menos positivos”.
E acrescentou que o BA-Cultura muda a vida de muitas crianças e jovens nas comunidades. “Temos muitos exemplos disso, tínhamos uma criança que estava sempre em problemas na rua, e em menos de um mês, na aula de teclado, ele desenvolveu boas habilidades. O BA-Cultura está a transformar a vida, em anonimato, sem grande publicidade”.
Associação Vivarte
Desde 2019 que a associação tem apoio do BA-Cultura. Segundo o presidente da Associação Vivarte, Isaías Tavares, o protocolo com o BA-Cultura tem sido saudável, porque tem dado bolsas a crianças, jovens e adolescentes.
“É uma bolsa que promove emprego para pessoas, porque quando dão bolsa não cobramos aulas para as crianças e também temos financiamento para pagar os professores, que trabalham conosco”, relata.
Com o apoio do BA-Cultura, a associação dá aulas de violão, teclado, bateria, aulas de dança, e actualmente tem um projecto que é a Biblioteca Comunitária, que implementaram como Biblioteca Digital.
“O apoio do BA-Cultura não é suficiente, mas dá para cobrir uma boa parte das despesas”, diz.
A associação tem cerca de 80 e tal crianças, adolescentes e jovens. “Temos aqueles que frequentam aulas de violão, de teclado, de flauta e de bateria”.
Com sede na zona de Pensamento, na cidade da Praia, a associação acolhe crianças e jovens de bairros vizinhos como Calabaceira, Vila Nova e Eugénio Lima.
“O BA-Cultura é uma luz para a nossa associação, porque com o programa temos conseguido dar sorriso às crianças e jovens, fazer com que a comunidade seja conhecida, também ajuda a promover a cultura na comunidade”, assegura.
Isaías Tavares fala de crianças que frequentaram a associação e que hoje estão no mundo da música e outros que já tocam e cantam em palcos mais pequenos. “Para nós, isso representa um grande ganho e ajuda muito na divulgação do nosso trabalho, e com isso vemos que o nosso trabalho vale a pena”.
Segundo o presidente da Associação Vivarte, o trabalho que realizam não é só para formar jovens, mas também para formar o carácter e promover a educação dos alunos.
“É por causa disso que damos aulas de música a todos que estão interessados, porque quando estão na aula de música têm também pedagogia de formação, de carácter e psicossocial que os ajuda a desenvolver as suas habilidades e comportamento”, afiança.
Isaías Tavares disse que tem muita gratidão pelo BA-Cultura, por todo o trabalho que está a fazer, para o desenvolvimento da comunidade. “Para a comunidade é uma mensagem de agradecimento, pelo acolhimento que nos tem dado, e pedimos mais incentivo mural e apoio daquilo que estamos a fazer, e um apoio social, que ajuda muito, e pedimos mais apoio deles”.
Para Isaías Tavares, mais entidades deveriam ajudar na promoção da cultura, além do BA-Cultura. “Quando pedimos apoio, não é só financeiro, mas com presença, visita, divulgação, tudo isso ajuda a espalhar todo o trabalho que estamos a desenvolver”.
Colmeia
Foi o BA-Cultura que entrou em contacto com a Associação Associação de Pais e Amigos de Crianças e Jovens com Necessidades Especiais Colmeia para atribuir bolsas às suas crianças e jovens. E foi no momento em que a Associação Colmeia queria trabalhar a parte do despiste vocacional e a parte da reabilitação funcional.
“É um programa muito interessante porque nós estávamos a pensar na altura como iniciar esse processo de reabilitação funcional, que também é um despiste vocacional”, assinalou a presidente da Associação Colmeia, Isabel Moniz.
A presidente da Colmeia frisou que trabalhar nesse processo é caro, porque esses adolescentes e jovens, todos os dias que têm essa formação de despiste vocacional, são buscados em casa. “Após buscarem em casa, eles têm formadores, além de técnicos especialistas que os acompanham aqui, e temos todo o processo do trabalho da parte cultural, sendo muito importante”.
Além da parte cultural, Isabel Moniz sublinha que os jovens recebem outros módulos.
“No meu entendimento, é um grande programa, porque não só trabalha a parte da inclusão desses jovens, mas também outro tipo de inclusão que Cabo Verde precisa, porque quando os jovens estão ocupados, temos menos delinquentes. Estão ocupados com algo que, de facto, lhes valoriza. Por isso que eu entendo que esse programa é de grande valia”, afirma, dizendo que o programa deveria ter mais parceiros.
Isabel Moniz relata que a bolsa não chega na totalidade para desenvolver todo o trabalho, mas é um incentivo de grande valia. “Nós louvamos esse trabalho e achamos que é algo que deveria continuar, porque também já tive a oportunidade de ver a actuação de outras escolas e de outros adolescentes e jovens e ver a importância desse programa na vida dos adolescentes e dos jovens”.
Em termos da Associação Colmeia, disse que a parte que trabalham de inclusão em termos da diversidade é de grande valia. “Vou dar só um exemplo, nós a partir desse projecto já temos jovens que beneficiaram dessa parte do despiste vocacional, que mostraram aptidão não pela arte, mas, por exemplo, para a área da culinária”.
Isabel Moniz conta que houve jovens que ingressaram na formação de pastelaria e tiveram sucesso. “Tivemos jovens que através desse processo estão sendo capacitados, por exemplo, como cuidadores, para a parte da educação de infância. O programa BA-Cultura veio abrir a possibilidade para trabalharmos outras respostas”.
A presidente enaltece o programa e apela para um aumento da bolsa. “E de facto, louvamos esse trabalho porque achamos que é um programa que vale a pena ter continuidade e se houvesse um aumento da bolsa também seria de grande valia”.
Na mesma linha, disse que vão procurar outros apoios, porque só o BA-Cultura não chega, mas que é um incentivo. “Gostaríamos que esse programa continuasse, mas também que a bolsa fosse dada mais cedo. Houve expansão para as outras ilhas e temos que esperar para que se afine todo o protocolo para depois termos um financiamento”.
Por isso, disse que esse entendimento deveria ser melhorado. “Para além dessa parte, nós louvamos e achamos que esse é um grande programa que muda a vida dos nossos jovens”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1231 de 2 de Julho de 2025.