A música, nas suas múltiplas formas, rompe fronteiras e traduz sentimentos colectivos e individuais. É património imaterial e universal que atravessa gerações, géneros e geografias, sendo, em Cabo Verde, uma das marcas mais fortes da identidade nacional. Mornas e coladeiras, funaná e batuque, jazz crioulo e fusões contemporâneas — tudo testemunha a capacidade do arquipélago de cantar-se a si mesmo e ao mundo.
Neste mesmo dia, 1 de Outubro, celebra-se também o aniversário de Jorge Monteiro — conhecido como Jotamonte ou Jorge Cornetim —, um dos nomes incontornáveis da música cabo-verdiana. A sua biografia guarda um episódio singular: nasceu a bordo do navio em que a mãe partia para a emigração nos Estados Unidos, tendo o nascimento ficado registado no diário de bordo. Talvez por isso, desde o início, a sua vida se encontrasse marcada pelo destino errante das ilhas e pela música como travessia.
Multinstrumentista, compositor, regente e docente, Jorge Monteiro é autor de cerca de meia centena de mornas, muitas delas presentes na memória colectiva dos cabo-verdianos. Entre as mais conhecidas destacam-se “Santo é bo nome”, “Fidjo magoado”, “Es dez grãozinho d’terra”, “Carga de quate”, “Nha confissão” e “Mindelo”. Obras que, pela sua força poética e melódica, se tornaram parte do património afectivo da nação, cantadas em ilhas e diásporas, transmitidas de geração em geração.
Ao longo da sua carreira, Monteiro revelou coerência artística e amor pela música, inscrevendo-se na história cultural cabo-verdiana pela forma como uniu modernidade e tradição. As suas composições, arranjos e regências, bem como o trabalho pedagógico, deixaram marca profunda, tanto na preservação da memória como na abertura a novas linguagens.
O reconhecimento não tardou: em Mindelo, a sua terra de eleição, o Auditório Jotamonte perpetua o seu nome. Em 2006, foi distinguido pelo Presidente da República de Cabo Verde com a Medalha do Vulcão de 1.ª Classe, uma das mais altas condecorações do país, prova da relevância do seu contributo para a cultura nacional.
Neste Dia Mundial da Música, ao assinalarmos o aniversário de Jorge Monteiro, celebramos igualmente a vitalidade da cultura cabo-verdiana. Num tempo em que a globalização ameaça homogeneizar linguagens, Cabo Verde continua a cantar em crioulo, oferecendo ao mundo a sua voz própria, plural e inconfundível.
A música, como disse Yehudi Menuhin, “é o verdadeiro idioma da humanidade”. Em Cabo Verde, essa verdade confirma-se todos os dias — nas ruas, nos palcos, nos discos, nos coros improvisados de festa e saudade. E, neste 1 de Outubro, junta-se-lhe o tributo a Jorge Monteiro, cuja vida é também música, memória e identidade.