Victor Osório, vice-presidente do Conselho de Justiça da FCF: “A qualificação de Cabo Verde para o CAN2013 é um acontecimento extraordinário”

PorAntónio Monteiro,26 jan 2013 22:19

Quem o diz é o dirigente desportivo Victor Osório que se mostra convicto de que os nossos tubarões podem qualificar-se para a fase seguinte. Para o jogo de hoje contra Marrocos diz que o ideal é ganhar, mas se não podermos ganhar, um empate também serve porque podemos adiar a decisão para o jogo com Angola

 

O empate da selecção de Cabo Verde no jogo inaugural satisfaz?

A prestação de Cabo Verde no jogo inaugural é extremamente positiva. E não são apenas os resultados que me permitem dizer que o desempenho foi positivo. É também positivo pela atitude, pela presença da equipa em campo e pela presença institucional do próprio Cabo Verde. Cabo Verde teve a sorte de abrir o CAN2013 com o país anfitrião. A abertura de uma competição desta natureza é sempre importante: ouvimos o nosso hino toar e isso encheu-nos de orgulho. E o próprio jogo em si foi extremamente positivo. Vê-se que ali há trabalho sério feito pela equipa técnica e viu-se que há objectivos concretos que Cabo Verde quer atingir. De maneira que eu considero que o primeiro jogo, o resultado, a atitude, a presença foram extremamente positivos. Os rapazes, porque já acompanho esta selecção há muito tempo enquanto membro da federação, não se surpreenderam. Podia ter sido até uma vitória, porque houve mais oportunidades de golo para Cabo Verde do que para a África do Sul. A bola não entrou, mas o importante foi terem tentado e estado perto de concretizar. De maneira que isto foi extremamente positivo.

Face às oportunidades de Cabo Verde, teve este resultado sabor a pouco?

Não teve sabor a pouco, teve sabor a suficiente, porque Cabo Verde poderia ter ganho. Há jogos em que a equipa não merece ganhar, mas ganha porque marca um golo. No nosso caso concreto, poderíamos ter ganhado, porque tivemos mais oportunidades de golo. No fundo, no fundo, terá sido um resultado justo, porque jogar sob aquela pressão, num jogo inaugural contra o país anfitrião é muita coisa junta. Portanto o resultado é aceitável e acho que temos motivos de ficar orgulhos com o resultado.

Não conheço as estatísticas, mas creio que a maioria dos jogos de abertura terminam empatados. É isso?

Os jogos de abertura são sempre jogos complicados, porque as equipas vão de forma acanhada, salvo aquelas que têm que assumir favoritismo. Repare que quem tinha que assumir o favoritismo do jogo e do resultado era a África do Sul. Por várias razões: jogava em casa, é uma equipa mais brilhante, é uma equipa que toda a gente já conhece e já esteve em fases finais do campeonato do Mundo. No caso de Cabo Verde o empate até foi bom, porque se nós não tínhamos a obrigação de chegar, impor e vencer, porque teoricamente éramos uma selecção mais fraca, na prática demonstramos o contrário.

Bom, agora o que conta são os golos e todo o resto é arte que não dá pão. Qual é a sua previsão para o jogo de hoje contra Marrocos?

Será eventualmente o jogo mais difícil de Cabo Verde, na fase de grupos. Marrocos tem um futebol diferente, um futebol mais europeu, menos musculado e mais técnico e táctico, com maior circulação de bola ao invés da circulação da pessoa que conduz a bola. Eu creio que se Cabo Verde voltar a fazer um novo empate será um resultado positivo. Se ganharmos será naturalmente "ouro sobre azul". Mas um empate já é um bom resultado, porque Marrocos, pelo jogo que eu vi contra Angola é um adversário extremamente forte. O jogo da equipa marroquina é bastante complicado, muito próximo daquele que se joga nos campeonatos europeus. Eu apostaria num novo empate, deixando a decisão para o último jogo com Angola que é um adversário a que estamos mais habituados, conhecemos os jogadores e a forma como jogam. Para o jogo desta quarta-feira, o ideal é ganhar, mas se não podermos ganhar, não devemos perder. Essa é a máxima no futebol: lá onde não se ganham jogos, não se deve perder.

A falta de recursos financeiros para a campanha da África do Sul, suscitou muita polémica à volta da selecção nacional nas mais altas esferas. Qual é a quota-parte da Federação na falta de financiamento da operação?

A leitura que eu faço é a seguinte: estando numa fase final de um CAN é um acontecimento extraordinário para Cabo Verde, sem precedentes. Naturalmente que Cabo Verde alcançou finalmente esse objectivo através de um trabalho que já vem de longe, feito com planeamento, porque uma equipa que se qualifica para uma prova destas naturalmente que tem que ter o trabalho de casa feito. E há trabalho de casa feito. Naturalmente que se pode criticar e é bom que se critique porque as críticas servem para as pessoas melhorarem. Mas este Cabo Verde no CAN2013 é trabalho de muita gente, e sobretudo um trabalho muito bem pensado e bem elaborado pela Federação, com o apoio do governo e das empresas que têm dado seu apoio financeiro a Cabo Verde. Essencialmente há um planeamento feito, porque esse trabalho não começa apenas a partir do jogo com Camarões; começa desde 2008, quando se começou a planear a operação CAN. Portanto, há um trabalho feito. Agora se se vier a dizer que a Federação não conseguiu recursos, é normal. É normal porque neste momento em Cabo Verde quase que se entendeu que a selecção devia ser suportada pelo governo. Há essa percepção: a selecção é uma selecção nacional, representa Cabo Verde e então o Estado teria que mobilizar mais recursos. Repare que se critica que houve mais empenho financeiro por parte do Estado num único jogo contra os Camarões, em termos de valor, do que para toda a prova no CAN2013...

São 23 mil contos, contra os 12 mil agora disponibilizados

É cerca de metade. Se calhar o governo não pode dar mais, mas não disse isso claramente e devia tê-lo dito. Porque uma vez estando no CAN, o país, o Estado tinham de criar condições para uma representação condigna de Cabo Verde. Eu acho que não vale a pena estarmos agora a apontar dedos, dizer que fulano de tal é amador, etc. Somos todos amadores, somos todos profissionais e eu espero que a nossa selecção consiga um bom resultado no CAN para que fiquemos todos felizes. Porque o que fica para a história é que o país conseguiu mobilizar-se, o país conseguiu levar a sua selecção a um CAN e conseguiu alcançar resultados.

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Autoria:António Monteiro,26 jan 2013 22:19

Editado porExpresso das Ilhas  em  31 dez 1969 23:00

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