O princípio é bastante simples: quanto menos peças, menos complicado se torna a posição, ficando muito mais fácil explorar a vantagem material. Por exemplo, na posição ao lado, parece que o melhor lance seria avançar o peão para e5 com o objectivo de restringir o raio de acção do bispo preto. Acontece que depois da jogada do bispo preto para g5, as brancas quase que comprometem a vitória pois agora são obrigadas a vigiar com o rei e o bispo o peão isolado em e5, não podendo por isso reforçar mais a sua posição. Com a troca imediata dos bispos, as pretas têm de escolher entre o Diabo e Belzebu: se tomam de rei, o rei preto entra na ala da dama e mata todos os peões; se tomam de peão, ficam com os peões dobrados e três ilhas de peões a defender, além, claro, do peão a menos. É muita coisa para um rei só. Se o peão dobrado é um problema, o peão atrasado não o é menos. Vamos ver primeiro como se pode protegê-lo (diagrama 1) e como explorá-lo (diagrama 2).
O melhor é mesmo evitar peões atrasados e peões dobrados, mas não se pode jogar sem criar fraquezas, até porque às vezes o adversário poderá não saber tirar partido delas. Mas é não confiar muito, porque a Fortuna é uma deusa ingrata. Felizmente no xadrez há a técnica e como tal é passível de ser ensinada e aprendida.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 797 de 08 de Março de 2017.