Na bibliografia académica, muitas vezes este tema se relaciona com a "Pirâmide da Responsabilidade Social Corporativa" de Archie Carroll[1]. Depois de atingir os objetivos de negócios, a organização analisa as responsabilidades éticas e filantrópicas. Neste ponto, surge a clareza sobre como e porque os programas de CSR são desenvolvidos. Uma organização reconhece a sua responsabilidade para com a área em que está localizada e a comunidade que atende por meio de criação de empregos e outros investimentos.
O surgimento da CSR coincidiu com uma mudança neoliberal em muitos países. No caso de Cabo Verde, vemos a intenção clara de reduzir o papel dos estados nos serviços públicos e de assistência social. Para isto será necessário que o governo (além da redução da despesa pública) passe a incentivar o empreendorismo social e igualmente a CSR. Assim, passa a colocar essa responsabilidade parcialmente nas mãos do setor privado através de incentivos fiscais e incentivos de outra natureza.
Para usar o Reino Unido como exemplo, as políticas neoliberais foram introduzidas pela primeira vez por Margaret Thatcher na década de 1980. Esta mudança de política continuou no século XXI pela ‘Terceira Via’ de Tony Blair e ‘Big Society’ de David Cameron. Aos poucos, o papel do Estado de bem-estar foi reduzido e a responsabilidade passou parcialmente para as Organizações Não Governamentais (ONGs) e para o setor privado.
“Cidadania corporativa global” tornou-se um termo usado para descrever o processo das empresas olharem além das suas próprias comunidades e também a se concentrar na comunidade global. Este conceito defende que o setor privado deve trabalhar em questões importantes, como mudanças climáticas, escassez de água, doenças infeciosas, crises alimentares e terrorismo. As empresas devem fazer parceria com ONGs e governos para encontrar soluções para problemas globais. É do seu interesse fazê-lo, pois os mercados e os lucros dependem da prosperidade e da estabilidade. Além disso, existem ganhos claros de notoriedade e de envolvimento comunitário com a sua organização.
Desde o surgimento da CSR, a nível global, o Desporto tem sido cada vez mais usado como um veículo de mudança. As Nações Unidas reconhecem o poder e o potencial de usar o Desporto para trabalhar em direção aos objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O financiamento é uma preocupação constante para as ONGs, mas os programas de CSR podem fornecer segurança financeira.
Além de parcerias financeiras, a colaboração com uma grande empresa pode melhorar o acesso de uma ONG às redes de parceiros económicos. Essas colaborações podem envolver a partilha de informações, recursos ou especialistas adequados para programas individuais de desporto para desenvolvimento.
A nível global, o desporto tem sido cada vez mais usado para tratar de questões sociais e as ONGs baseadas no desporto floresceram devido a melhores financiamentos e maiores oportunidades. Em Cabo Verde, é ainda necessário a sensibilização das empresas nas vantagens de notoriedade e incentivos fiscais para a implementação eficaz das políticas de CSR. Da parte dos Clubes, Associações, Federações e Organizações que usam o desporto como ferramenta de desenvolvimento social é necessária uma plena capacidade de gestão de impacto e mudança comunitária para garantir que os processos de CSR são implementados com sucesso em parceria com as empresas envolvidas. Apenas com uma boa gestão do impacto poderá haver um interesse de parceiras mutuas.
[1] Carroll, A. B. (1991) ‘The Pyramid of Corporate Social Responsibility: Towards the Moral Management of Organizational Stakeholders’, Business Horizons (July/August), 39–48.