A equipa do táxi

PorFrancisco Carapinha,22 fev 2021 8:31

Há alguns anos atrás, em Portugal, um partido político foi conhecido como sendo o partido do táxi. Esta designação resultou do facto de, após umas eleições legislativas, o grupo parlamentar, do tal partido político, ter ficado reduzido a quatro deputados, para o qual um simples táxi era suficiente para os transportar.

No xadrez, também um táxi é suficiente para transportar uma equipa, geralmente composta por quatro jogadores. E este é um facto que já me aconteceu nos primórdios da minha ligação a este nobre jogo.

A minha participação em provas oficiais de xadrez iniciou-se na segunda metade dos anos 70 do século passado e o Campeonato de Equipas do Distrito de Santarém de 1977 foi a primeira competição em que tive o privilégio de participar.

A equipa onde jogava, exclusivamente formada por jogadores da minha terra natal, representava o Centro Desportivo Juvenil lá do burgo, “agremiação” constituída no auge do pós-revolução de Abril de 1974, que acalentava todos os sonhos da realização de feitos nunca antes alcançados, o que é normal para quem se sentiu libertado de uma mordaça que durou quase meio século.

Desse equipa inicial, uma novidade desportiva em terra de pinéus e no seu concelho, faziam parte (espero não me esquecer de nenhum) o Victor Cordeiro, o António Rato, o Manuel Maia (já falecido), o Sebastião Lopes, o Manuel Rodrigues e mais tarde, também integraram a equipa o José Morgado, o João Luís Urbano, o Fernando Ferreira, e o António Gregório que, capitaneados por mim, o mais novo da equipa, se deslocaram a várias localidades ribatejanas para disputar a referida competição de equipas.

Muitas das vezes a deslocação, que implicava sempre umas dezenas de quilómetros, era feita no carro do Victor Cordeiro que por gentileza e amor à modalidade, lá nos aturava e transportava, e por vezes aproveitava para “matar” o vício de matraquear umas peças. Quando o Victor estava impossibilitado, por questões de ordem profissional ou pessoal, lá nos socorríamos do João “Pão de Milho” que, no seu velho táxi, lá nos levava aos locais dos jogos e pacientemente aguardava que levássemos, no tabuleiro, a habitual porrada, para a seguir fazer o percurso inverso no regresso a nossas casas.

Foi assim, durante duas épocas, que o sonho comandou as nossas nobres participações nas diversas jornadas que compunham cada um dos campeonatos.

Mas a equipa do táxi também foi anfitriã e no dia 1 de Outubro de 1977, a Sociedade Recreativa engalanou-se para receber a comitiva xadrezista do distrito de Santarém, na última jornada da competição daquela época. Nesse dia, não precisamos de táxi nem de qualquer outro meio de transporte, a não ser as nossas pernas; nesse dia quebramos o enguiço de perder sempre pela margem máxima (4-0) e pontuámos pela primeira vez, sendo eu, ao empatar com o meu adversário (Manuel Basílio do CADCA de Almeirim), o autor de tamanha proeza, que nos livrou de terminar a prova com zero pontos.

A época seguinte iniciou-se no local onde tinha terminado a anterior e durante alguns meses foi evoluindo pelo distrito.

Durante esta segunda época, muitos mais jovens se foram juntando à equipa, demonstrando a vitalidade e a força com que o jogo dos reis se estava a implementar na terra de arrozais que no tempo de florescimento, encantam locais e forasteiros.

Desses jovens de então, não posso deixar de destacar o Eloi Gabriel, mais conhecido entre nós por “Loi Espanhol”. Deve-se este destaque, ao facto de recentemente ter tido a triste notícia de que este amigo de infância (chegámos a ser companheiros de carteira na escola primária) e por vezes dos tabuleiros, nos tinha deixado, vítima de doença prolongada.

Na altura que estive a arbitrar no Continental das Américas, em S. Paulo, tentei que nos encontrássemos, o que não foi possível porque ele vivia no Rio de Janeiro.

Passou uma boa dezena de anos sem que nos víssemos, mas a amizade acabou por perdurar e foi com enorme tristeza que soube do seu desaparecimento físico. Segundo informações que obtive, este estimado amigo tinha-se deslocado, no inicio de 2020, de terras de Vera Cruz para tratar de assuntos relacionados com a sua reforma. Foi apanhado de surpresa pelo diagnóstico da sua doença e pela pandemia, acabando por falecer em terras lusas.

Por cá, as deslocações de táxi não nos levam muito longe e, se quisermos viajar até outra região para jogar xadrez, temos de utilizar outro meio de transporte, o que não é muito aconselhável nestes tempos pandémicos.

Por isso, continuamos no online, tendo estado, a semana passada, representados no Campeonato Africano Online, uma forte competição africana que contou com os melhores jogadores deste continente.

Embora um pouco aquém das espectativas, os 4 atletas que nos representaram estiveram em bom plano, se considerarmos que somos uma jovem federação.

Assim, na competição Open, o MI Mariano Ortega, quedou-se na 15.ª posição com 5 pontos (3 vitórias, 4 empates e 2 derrotas), entre 47 participantes. Já na competição feminina, Célia Rodriguez, com 4 pontos (3V, 2E, 4D), terminou na 18ª posição, entre 32 participantes.

Finalmente, Luís Fernandes foi 7.º (entre 9) nos Veteranos e Loide Gomes, 27.ª (em 29) nos Sub-20 Femininos.

Continuam também os outros torneios em que estamos a participar, pelo que podemos “estacionar o táxi” e aproveitar para ir jogando o jogo dos reis, cumprindo sempre as medidas de segurança sanitária, mitigando assim o risco de contágio do poderoso “bicho” que nos está a colocar os cabelos em pé.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1003 de 17 de Fevereiro de 2021. 

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Autoria:Francisco Carapinha,22 fev 2021 8:31

Editado porAndre Amaral  em  22 fev 2021 18:55

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