Beisebol: a cabo-verdianidade de J. Campinha na luta contra a segregação racial nos E.U.A

PorWilliam Vieira,14 out 2021 9:20

“Ele passou por momentos difíceis porque os cabo-verdianos não eram aceites. Eles foram considerados muito claros para serem pretos e muito escuros para serem brancos. ... era difícil para os cabo-verdianos identificar onde se enquadravam.” Dra. Josepha Campinha-Bacote.

É factual que Jackie Robinson quebrou a barreira da cor da pele na Primeira Liga Norte Americana de Beisebol, mas também não deixa de ser não menos importante o contributo de Joe Campinha, um cabo-verdiano de fortes convicções, na luta pela causa racial na Liga Norte Americana de Beisebol.

Campinha foi indubitavelmente, naquele período, um notório e destacado cabo-verdiano nos anos 40.

Tal como todos os não brancos, apesar de ter sofrido várias arbitrariedades ao longo da sua carreira quer a nível social e desportiva, persistiu afincadamente, deixando claro quais eram as suas raízes, mesmo num período onde Cabo Verde ainda lutava pela independência.

Em defesa dos fatos, há que salientar que nos finais dos anos 40 nos Estados Unidos da América, muitos atletas filhos de cabo-verdianos, procuravam esconder às suas origens. A razão de explicar hoje é simples, porém era de tamanha complexidade naquele período.

Os possíveis atletas, oriundos de outras paragens, sobretudo com maior incidência do continente africano ou nascidos nos E.U.A, oriundo de famílias africanas e não brancas, ficavam na maior parte das vezes inelegíveis para seguirem aquilo que eram os seus sonhos no desporto. A sociedade norte americana segregava!!

Caros leitores, para entender a dimensão de Campinha é necessário trazer os fatos marcantes daquele período nos E.U.A!

A segregação racial nos Estados Unidos era impiedosa, promovia-se a segregação, baseada em discriminação racial em instalações públicas e privadas, serviços e oportunidades, impondo de forma coerciva outras limitações em termos de moradia, cuidados de saúde, educação, transporte, emprego, etc.

Para ser mais minucioso, não tinham o mesmo atendimento que os brancos em instituições do governo, áreas públicas como autocarros, salas de atendimento, lavanderias, parques e filas para serviços públicos, além de escolas, faculdades, e no desporto não fugia à regra. Era tudo desigual!

Na modalidade em questão, existiam as ligas principais, – a National Beisebol League e a Menor Liga – que eram destinadas apenas para brancos.

Devido à segregação imposta, foi criada em 1880 a Negro League, reunindo atletas negros, renegados por questões raciais dessas duas principais ligas.

Não existiam quaisquer comparações possíveis entre as duas principais ligas, em relação ao Negro League!

Era todo um sistema projetado e bem montado, para a superioridade de um grupo étnico, delimitando os outros grupos ao acesso aos mesmos direitos e garantias!!

A segregação não fora imposta só pela sociedade, assim como regido por um código legal!

Eram então as conhecidas leis Jim Crow, promulgado pelos Democratas nos finais do século XIX até a segunda metade do século XX – mais concretamente de 1877 até 1964.

Perante todos estes fatos apontados, surgira um cabo-verdiano, com um corrente de pensamento e atitude inverso.

Era Joe Campinha!

De ascendência cabo-verdiana, Joe nasceu a 11 de maio de 1920 e era natural de East Wareham, Massachusetts.

O fato episódico e marcante era que, enquanto muitos cabo-verdianos sentiam que poderiam ser “outsiders”, declarando serem de origem grega, italiana ou portuguesa - sob pena de não seguir a carreira profissional -, ele mostrava-se de forma clara, o orgulho nas suas origens.

Estreou-se na Negro League no ano de 1948, pelo Baltimore Elite Giants. Mas antes de jogar, teve de mudar o nome original “Campinha” para “Campini” no sentido de poder competir, pois era muito comum o encurtamento do nome por várias razões: nomeadamente na facilitação da pronúncia, ortografia e também para que coubesse por detrás no equipamento.

No entanto, os seus dados sobre a sua jornada naquela competição são parcos, muito também devido ao pré-conceito instalado no período.

Uma outra versão familiar, reitera que Joe atou naquela liga, temporadas antes de 1948.

A família também realça que já em 1949, representou o Bangor/Berwick Pickers e em 1950, atuou no Watertown Athletics, clubes da Menor League, terminado a respetiva carreira profissional, conquistando um enorme feito de poder estar numa liga maioritariamente branca, atingindo até alguns records da temporada.

Foi recentemente reconhecido como um dos grandes baluartes na luta contra o racismo no Beisebol nos E.U.A, quebrando a barreira da cor na liga secundária, atuando como Catcher (receptor).

De realçar que a equipa dos Bangor teve também um forte contributo na luta pela igualdade, integrando no período os melhores jogadores em campo, independentemente da cor da pele.

O fato era que mesmo depois da integração dos negros no Beisebol, não significava que as equipas das ligas principais, estavam dispostas a usar jogadores que não fossem brancos.

Esta efeméride tem uma dimensão gigante! Mas como é o nosso mal hábito cabo-verdiano, sempre a história fica alheia aos seus e se perde no tempo.

Graças à família do malogrado, mais concreto da filha, no nome da pessoa Dra. Josepha Campinha-Bacote e pela informação do meu amigo Leonardo Cunha, hoje podemos ter mais um capítulo da história do nosso desporto cabo-verdiano lá fora, um grande feito da nossa comunidade emigrada que os cabo-verdianos deveriam ficar orgulhosos.

Por fim, depois da carreira tida no Beisebol, passou a servir na Marinha Mercante dos Estados Unidos e morreu em Providence, Rhode Island, em 2001, aos 81 anos.

Em resume, a sua luta fora impactante, ímpar, não só na dimensão comunitária, mas também na globalização, pela inserção, igualdade de oportunidade, equidade no desporto, quebrando os estereótipos da barreira da cor numa das mais importantes ligas de Beisebol norte americana!

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Autoria:William Vieira,14 out 2021 9:20

Editado porAndre Amaral  em  15 out 2021 8:27

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