Sr. Avelino Barros, Nhô Jaime e Sr. Tito, 3 primos, foram os fundadores daquele clube inicialmente de bairro.
Nos primórdios, como é o caso da esmagadora maioria dos clubes em Cabo Verde, não dispunham de quaisquer recursos. Os principais fundadores eram pessoas humildes com negócios e trabalhos locais, cujas paixões pelo desporto rei faziam lutar pela existência de uma agremiação pobre, num país onde a questão das secas cíclicas e a fome eram um grande desafio para qualquer família.
Nhô Jaime, um dos fundadores, era proprietário de um botequim e o Sr. Avelino era funcionário da Imprensa Nacional de Cabo Verde. As equipas eram construídas apenas para o lazer. As despesas eram sobrepostas pela vontade e o amor pelo desporto rei!
Cândido Vasconcelos, um dos grandes dirigentes no período da cidade da Praia, também ajudava como podia. Em tempos, oferecia ao clube, equipamentos, botas, uniformes, etc. Ainda, os dirigentes do Vitória, conhecedores da situação dos clubes na capital, também contribuíam, compartilhando os equipamentos com o Vilanovense.
Deixando o contexto inicial e indo ao ponto, logo no início dos anos 40, Amílcar Cabral e a sua família – a mãe mais os irmãos - mudaram para a ilha de São Vicente.
Cabral era um jovem muito curioso e aguçado na sua forma de ver tudo. O desporto também não lhe fugia à sua perspicácia.
Sempre quando regressado de Mindelo, a fim de passar as férias na ilha de Santiago, aproveitava a ocasião para estar na Rádio. Em 1943, depois de terminar o Liceu em São Vicente, regressa para a cidade da Praia, agora com o estatuto de trabalhador na Imprensa Nacional.
Sr. Avelino Barros – figura chave neste contexto – cofundador do Vilanovense, conhecido de Cabral, era também funcionário da Imprensa Nacional de Cabo Verde no período. Foram colegas de serviço durante um ano e alguns meses, isto entre 1943-1944.
Mas porquê Cabral queria a mudança da denominação Vilanovense para Boavista FC da Praia?
Passo a explicar: Cabral estudava em São Vicente nos anos 40 no Liceu Gil Eanes. Ali estreitou laços de amizades, como foi o caso de Lela Rodrigues, colegas de turma que depois foi para a cidade do Porto fazer engenharia e jogar pelo Boavista de Portugal.
Para além de Lela, mais dois cabo-verdianos apresentavam no clube. Era um orgulho para ele saber que existia uma armada “kriola” no Boavista de Portugal. Diante dos factos, perante o orgulho que sentia em ver aqueles cabo-verdianos no clube portuense, se convenceu em persuadir o Sr. Avelino Barros, a mudar o nome Vilanovense para Boavista FC da Praia.
De regresso à capital, Cabral começou a sua campanha! O alvo principal era o Sr. Avelino, um amigo já com mais idade e que seria o seu Presidente anos depois.
O rapaz era de tal forma destemido, firme nas suas convicções, que a cada dia que passava, pressionava várias vezes o presidente do Vilanovense para a substituição do nome.
- Mas que rapaz casmurro! Resmungava o Sr. Avelino, perante as investidas de Cabral.
E finalmente, com muito esforço e a fim de algum período, o convenceu para a alteração do nome, segundo me afiançou o ex. presidente do clube axadrezado Jorge Pedro, numa entrevista concedida no mês de julho de 2021.
A relação de paixão continuou entre Amílcar Cabral e o Boavista. Depois do plano estratégico ter tido sucesso, sempre quando podia, representava o clube axadrezado na posição de extremo esquerdo.
Por fim, com a sua bênção, o Boavista FC da Praia teve um grande impacto no futebol cabo-verdiano, com vários títulos a nível local, nacional e algumas participações em competições da CAF.
Outrossim, passaram várias figuras de proa pelo clube como foram os casos de Aristides Pereira que exercia o papel de secretário da agremiação, Gil Fernandes “Txibita” ex. treinador dos axadrezados, Jorge Pedro, ex. atleta e presidente do clube e fundador do Académico do Sal, o jogador António Barros, conhecido no mundo futebolístico por “Balão”, filho de Avelino Barros, e especialmente Abílio Monteiro de Macedo - Comerciante, proprietário agrícola, armador, fundador e proprietário do jornal A Voz de Cabo Verde, presidente das Câmaras do Fogo e Praia –, a família Semedo atualmente e entre outros, que ao longo de mais de 80 anos, colocaram esta equipa numa posição de referência no futebol nacional.