A emigração se consuma efetivamente nos finais do século XIX e início do Século XX. Começaram a chegar aos portos de Montevideu (Uruguai) e Buenos Aires (Argentina), marítimos cabo-verdianos, tripulantes de baleeiros, barcos mercantes ou grumetes a bordo de navios de guerra argentinos.
Como iremos confirmar mais adiante na leitura, naquela época, os portos do Rio de La Plata (ou Rio da Prata) funcionavam tanto como destino final da emigração cabo-verdiana, igualmente, como ponto de passagem para o Brasil, um destino de eleição até aos anos 30.
Por voltas do ano 1908, no período onde a comunidade cabo-verdiana começava a criar alguma fixação na região, um grupo de indivíduos saídos das ilhas para trabalhar na Argentina, surpreenderam aquele sítio, pelo talento que apresentavam na arte da natação. O eco da destreza de quatro indivíduos era de tal forma que chegavam aos periódicos da praça.
O jornal Caras y Caretas produzia um artigo em 1908, apresentando na capa 4 sujeitos que eram descritos como cabo-verdianos e apresentava como título principal do artigo “Los famosos negros nadadores del Mar del Plata”
À exceção de Sebastian Sosa, (julgo nome de origem espanhol) todos os nomes eram de origem portuguesa. Francisco Monteiro, Cabo J. Luís Afonso e Francisco Ramos, constituíam a página daquele jornal.
O articulista apresentava duas teorias para tanta aptidão destes marinheiros contratados em Cabo Verde. “Ou o Porto de La Plata tem poucos bons nadadores ou talvez porque aqueles cabo-verdianos tinham mérito próprio”. A inclinação do jornalista era para a segunda teoria.
O certo era que estes negros da Prefeitura Marítima de serviços daquela praia eram maravilhosos em todos os exercícios relacionados com a natação” escrevia o jornal.
Estavam de tal forma incrivelmente satisfeitos com a destreza deles que o artigo realçava a qualidade marítima cabo-verdiana, onde praticamente não existia a diferença no comportamento dos “negros cabo-verdianos” no mar e em terra.
“Contratados expressamente no país onde existem os melhores nadadores, em São Vicente, porto de Cabo Verde, estes negros parecem ter nascido na água de tal forma que nela se portam, como qualquer mortal se faz em terra firme” enalteciam.
O Diário salienta ainda o fato de os elementos contratados serem todos de nome português, devido às ilhas pertencerem a Portugal e por fim, consagravam Sebastian Sosa, um dos marinheiros daquele grupo que era o mais talentoso, vencendo todas as competições realizadas no Mar de La Plata.
“O melhor nadador negro desse grupo de marinheiros importados é Sebastian Sosa. Os apelidos dos cabo-verdianos são quase todos portugueses, porque como se lembrarão, Portugal é o soberano daquelas terras rodeadas pelas águas do Atlântico por todos os lados. Sebastian Sosa disputou várias provas de natação e terminou vitorioso em todas elas” escreveu o jornal.
Era nítido o reconhecimento dos argentinos em relação ao talento dos homens das ilhas na arte da natação, outrossim tenho de evidenciar que tinham a capacidade na distinção entre eles e os demais povos, como não só foi o caso destes marinheiros, como também o “negrito” Manuel e el “negro” Ramos Delgado, todos nascidos ou de origem cabo-verdiana que constituíram a história da emigração cabo-verdiana naquele país da América do Sul.
Em tom de encerramento do artigo, gostaria de agradecer em especial Javier Andrigo que tem sido incansável na promoção da cabo-verdianidade na Argentina e de enorme ajuda nas investigações feitas por mim naquele país da América do Sul.
Muchas gracias!