O que se julgava ser um caso isolado de manipulação fraudulenta de testes ambientais pode ser afinal apenas a ponta do iceberg. A Volkswagen não está sozinha e, sabe-se agora, mais marcas podem ter falsificado os resultados.
Primeiro foram alguns dos sistemas de segurança presentes em carros da Volkswagen a colocar em causa a segurança de condutores e passageiros. Depois é a Enviromental Protection Agency (EPA), a agência norte-americana que se dedica à defesa do meio ambiente, a lançar o alerta. A Volkswagen (VW), um dos maiores construtores automóveis do mundo, usa um software para falsificar os resultados dos testes de emissão de gases poluentes e consumo de combustíveis.
O escândalo é imediato e tem repercussões à escala mundial. Em dois dias as acções do gigante alemão desvalorizam 35% e, nos mesmos espaço de tempo, o grupo perdeu 25 mil milhões de euros de capitalização bolsista.
A Administração da empresa reserva, no imediato, cerca de 6 mil milhões de euros para fazer face às possíveis multas que lhe possam vir a ser aplicadas. Não chega. Só nos EUA a Volkswagen pode ser multada em mais de 18 mil milhões.
O CEO da empresa, Martin Winterkorn, demite-se e está agora a ser investigado pelas autoridades alemãs e norte-americanas.
Segundo avança o jornal português Económico, os procuradores alemães abriram um processo criminal contra o ex-CEO do grupo Volkswagen, Martin Winterkorn, após o construtor ter assumido o cometimento de fraude no caso das emissões poluentes manipuladas nos seus motores diesel.
Os procuradores de Braunschweig, cidade da Baixa Saxónia, estado onde se situa Wolfsburg, sede da Volkswagen, indicam que pretendem apurar quem é o responsável pela fraude, indica o mesmo comunicado.
Martin Winterkorn foi CEO do grupo Volkswagen de 2006 até à passada quarta-feira, e entre as suas lutas estava o pedido às autoridades europeias para não sobrecarregarem a indústria automóvel com objectivos de emissões.
O presidente-executivo invocava o escasso tempo dado pela UE aos construtores para desenvolverem tecnologias suficientemente eficientes para atingirem esses objectivos, além das dificuldades inerentes ao clima económico mundial.
Uma das formas encontradas pelo grupo para ir ao encontro dessas médias de emissões por construtor foi a aposta em veículos eléctricos, nos quais Winterkorn queria que a Volkswagen fosse líder mundial, colocando o objectivo de produção em um milhão de veículos - cerca de 10% do total anual do grupo - no final da década.
Em sua defesa, apoiado pela empresa, Winterkorn disse desconhecer por completo a fraude.
Vender a Audi?
O futuro do gigante alemão não se apresenta risonho. De multa em multa, de acção governamental em acção governamental, a VW pode vir a ter de vender activos. E um deles é a Audi, marca do segmento de luxo, que faz parte do Grupo VW e que, antes do escândalo da manipulação dos resultados, estava avaliada em 51 mil milhões de euros.
Entretanto, as notícias vindas a público mostram que todas as empresas automóveis do Grupo VW estão contaminadas. Audi, Skoda e Seat admitem, também elas, terem usado o mesmo software de falsificação dos resultados.
A ponta do iceberg
Mas o que se julgava um caso isolado não é mais que “a ponta do iceberg”, como refere Greg Archer, coordenador do estudo “Mind the Gap”, realizado pela Transport&Enviroment, uma empresa de estudos ambientais que trabalha em parceria com a União Europeia.
Greg Archer relatou, à rádio portuguesa TSF, que o relatório, intitulado sugere que possam existir mais construtores de automóveis a adulterar os resultados.
“A média da divergência entre os resultados oficiais e os resultados reais é muito grande”, explica.-
“Em geral chega aos 40 por cento. Nalgumas marcas como a Mercedes, essa divergência ronda os 50 por cento. Nalguns modelos desta marca, como os classe A, C e E, o fosso chega aos 55 por cento”, diz.
A diferença entre os valores de Co2 medidos e os anunciados por alguns fabricantes tem vindo a aumentar ano após ano. A questão é muito mais abrangente do que inicialmente se pensava uma vez que o o estudo deste think tank, a que a Quercus também pertence, encontrou mais modelos onde os valores são bem diferentes dos reais.
Para além dos modelos da Mercedes, o série 5 da BMW e Peugeot 308 também foram apanhados em contra mão. Estes são os modelos que surgem logo a seguir com divergências ligeiramente abaixo dos 50 por cento. O Renault Megane, o Volkswagen Golf e o série 3 da BMW surgem logo a seguir a rondar os 40 por cento.
São resultados que levam o coordenador do estudo a concluir que o caso Volkswagen “é apenas a ponta do iceberg”.
“Acreditamos que mais fabricantes de automóveis instalaram equipamentos defeituosos e também achamos que esses equipamentos foram usados noutras aplicações para além dos diesel”, garante Greg Archer para quem a Comissão Europeia terá de fazer mais.
“Temos de sensibilizar as autoridades nacionais a investigar se os veículos certificados estão em conformidade e a comissão europeia tem de criar novos regulamentos sobre como os carros devem ser testados”.
O estudo publicado esta segunda-feira estima ainda que a divergência nos valores faz com que os condutores gastem em media mais 450 euros, por ano, do que seria suposto, em custos de combustível.
A ascenção da electricidade?
Elon Musk, presidente da Tesla, construtora de automóveis eléctricos, já veio a público dizer que escândalo do Dieselgate mostra que aquele combustível “está morto”.
“O que a Volkswagen nos está a mostrar é que chegamos ao limite do que é possível fazer com a gasolina e o gasóleo. Chegou a altura de avançarmos para uma nova geração de energia”, comentou Musk numa recente viagem pela Europa, para onde quer expandir a Tesla Motors.
Essa tecnologia é obviamente a electricidade. A Tesla Motors não está há muito tempo no mercado automóvel mas já mostrou que é possível estabelecer um novo standard para os veículos eléctricos e torna-los populares. De tal forma que se quiser encomendar um Model X da Tesla terá de esperar até ao segundo semestre de 2016. Só então terá de desembolsar os 75 mil dólares (7.385 contos sem IVA) que o carro custa.